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    Temer reduz mulheres no alto escalão do governo ao nível de 15 anos atrás

    LAÍS ALEGRETTI
    DE BRASÍLIA

    10/09/2017 02h00

    A proporção de mulheres nos cargos mais altos de confiança no Executivo federal diminuiu após Michel Temer assumir a Presidência da República.

    Levantamento feito pela Folha com dados do Ministério do Planejamento aponta que o percentual de mulheres na elite do funcionalismo voltou ao patamar de 15 anos atrás, fim do governo Fernando Henrique Cardoso.

    Nas funções de confiança com remuneração média de R$ 20 mil, as mulheres são apenas 22% —ou seja, não chegam a um quarto do total dessas vagas. Quando Fernando Henrique deixou o governo, no fim de 2002, a taxa era de 21,5%.

    Em abril de 2016, antes de Dilma Rousseff deixar a Presidência, a taxa era de 26,2%.

    O cálculo considera parte dos cargos em comissão do grupo DAS (sigla para Direção e Assessoramento Superiores), que são divididos em níveis de 1 a 6 -quanto maior o nível, mais alto o salário do servidor.

    Os patamares 5 e 6, considerados no levantamento, são as funções mais elevadas, atribuídas, por exemplo, a assessores especiais e secretários de ministérios.

    Se forem considerados também os níveis 1 a 4, que estão abaixo dos outros dois, a proporção de mulheres é, segundo os dados mais recentes, de 42,7% do total de cargos comissionados.

    A inserção das funcionárias cai, contudo, nos níveis mais altos e com remunerações melhores -comportamento que também é verificado na iniciativa privada, segundo especialistas.

    No serviço público, segundo pesquisadoras, a diferença da inserção de homens e mulheres pode ser vista exatamente na atribuição de cargos de confiança, já que o ingresso dos servidores sem cargo comissionado ocorre por meio de concurso e, assim, não leva em conta o gênero do candidato.

    "A dificuldade de ascender a cargos de chefia é semelhante ao que ocorre no setor privado. Muitas vezes as mulheres não são vistas como capazes de ocupar determinadas funções; muitas vezes, elas não se veem capazes", disse Natália Fontoura, especialista em políticas públicas e gestão governamental do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).

    Ela aponta que a figura do homem branco, escolarizado e 100% disponível para o trabalho ainda é a imagem do trabalhador ideal para a maior parte da sociedade.

    Especialista em gestão de pessoas, a professora da UnB Débora Barem afirma que a questão cultural é a única explicação para essa dificuldade de mulheres assumirem cargos de chefia.

    "É o pensamento de que, se é mulher, funciona mais para cargos operacionais. Mulher no comando não é algo palatável para muita gente no país", disse.

    Responsável por divulgar os balanços com informações de pessoal, o Ministério do Planejamento informou que a nomeação para esses cargos é uma decisão de cada pasta.

    "As nomeações em cargos comissionados no governo federal são feitas de forma discricionária por cada órgão", disse o ministério.

    A Secretaria de Políticas para Mulheres não comentou os dados do funcionalismo. Afirmou, por meio da assessoria, que "as desigualdades de gênero no exercício de direitos e de acesso aos cargos de poder e decisão existem desde sempre na história do Brasil, onde predomina a cultura machista e a ideia de superioridade masculina".

    Após mencionar mulheres em cargos de destaque, a pasta disse que há "exemplos de mudança na sociedade brasileira" e reconheceu que "ainda há muitas disparidades a serem superadas".

    RETRATO

    Ao assumir a Presidência e indicar seus ministros, no ano passado, Temer foi criticado pela ausência de mulheres e negros nos ministérios.

    A Folha mostrou que ele foi o primeiro presidente desde Ernesto Geisel (1974-1979) a não incluir mulheres no primeiro escalão da Esplanada.

    Enfrentando críticas, Temer escolheu, em seguida, a economista Maria Silvia Bastos Marques para comandar o BNDES. Em maio deste ano, ela pediu demissão.

    Ocupam hoje o primeiro escalão do governo Temer a advogada-geral da União, Grace Mendonça, e a ministra dos Direitos Humanos, Luislinda Valois.

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