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    Com ressalvas, investidores dos EUA voltam a olhar para o Brasil

    ÁLVARO FAGUNDES
    EDITOR-ADJUNTO DE "MERCADO"
    DANIELLE BRANT
    DE SÃO PAULO

    12/09/2017 02h00

    Fernanda Carvalho/Fotos Públicas
    Ações da Petrobras fecharam em baixa, mas Bolsa brasileira conseguiu subir pelo 3º dia
    Investimento dos americanos em ações e títulos de dívida do Brasil cresceu 31% em 2016

    Após três anos de afastamento, o Brasil foi o destino em que os investidores americanos mais aumentaram suas apostas em 2016, mas isso não significa que a cautela em relação ao país tenha chegado ao fim.

    O investimento dos americanos em ações e títulos de dívida do país cresceu 31% no ano passado, o maior aumento entre os 30 principais destinos dessas aplicações (grupo que representa 92% do total), de acordo com dados do Tesouro americano.

    Esse crescimento reflete a disparada da Bolsa brasileira em 2016, quando foi a que mais subiu em dólares, com alta de 69,1%. Mas a preocupação com a situação fiscal e com as eleições de 2018 deve manter o volume aplicado distante do auge de 2010, afirmam especialistas.

    Naquele ano de euforia com o crescimento de 7,5% do PIB brasileiro, o país era o nono preferido pelos americanos para aplicar no exterior. Em 2016, caiu para 13º, embora tenha ficado cinco posições melhor que em 2015, quando investimentos atingiram o menor patamar desde 2008, auge da crise global.

    Um dos sinais de que os americanos ainda estão cautelosos é que os investimentos em ações aumentaram 66% em relação a 2015, enquanto as aplicações em títulos da dívida (uma aposta de longo prazo) caíram 15%, apesar de alguns desses papéis estarem entre os juros mais atrativos do mundo.

    O patamar de 2010 (US$ 235 bilhões, ante US$ 152 bilhões no ano passado) deve continuar inalcançável nos próximos anos, mesmo com a Bolsa subindo cerca de 28% em dólares neste ano, afirmam especialistas.

    Aplicações de cidadãos americanos no Brasil - Em US$ bi

    SELO DE BOM PAGADOR

    Em 2010, a chancela de bom pagador que as agências de classificação de risco atribuíam ao Brasil ajudou a atrair investidores.

    Desde então, tropeços na política econômica fizeram o país perder o grau de investimento –o Brasil atualmente é considerado grau especulativo (chance maior de calote) pelas três principais casas que calculam riscos de governos e empresas, a S&P, a Moody's e a Fitch.

    Hoje, esse selo tem menos importância do que há sete anos, avalia Will Landers, diretor de mercados emergentes da gestora BlackRock.

    "Eu não sei o quão importante é o grau de investimento ainda. Tem um grupo de investidores que precisa disso, mas eu perdi muito mais investidores pelas políticas econômicas erradas do que pelo fato de o país não ser um grau de investimento", diz.

    O aumento do fluxo de investidores vai depender da habilidade do governo de aprovar reformas que tornem as contas públicas sustentáveis, afirma Jean-Pierre Cote Gil, responsável pela área de crédito da gestora de patrimônio GPS Investimentos.

    "No curto prazo, o investidor aguarda sinais, como a reforma da Previdência. Se passar alguma reforma, mesmo que esteja abaixo de 50% da proposta inicial do Ministério da Fazenda, será um sinal positivo para o estrangeiro", afirma o especialista.

    "Passa sinal de amadurecimento da sociedade brasileira, mesmo com esse Congresso e com um presidente sem apoio popular."

    Principais destinos dos investimentos americanos no exterior - Em 2016

    ELEIÇÃO

    O risco eleitoral de 2018 também entra na balança na hora de decidir comprar ações ou dívidas do país, diz James Gulbrandsen, da NCH Capital.

    "Qualquer indício de que alguém de extrema direita ou esquerda pode entrar no jogo com força, o estrangeiro vai ter cautela", afirma.

    Para ele, porém, o peso de turbulências políticas será secundário na decisão dos investidores.

    "O estrangeiro olha mais para a tendência de lucratividade. E a economia está se recuperando, mesmo que de forma lenta", completa.

    Ainda assim, o Brasil é considerado uma boa opção, principalmente se comparado a outros emergentes.

    "O Brasil ainda é a maior economia da América Latina, destino de quase metade dos investimentos estrangeiros da região. Se olhar a valorização de bônus corporativos, são mais atrativos que os de outros países", diz Jack Deino, da BlackRock.

    Descontado o risco político, a expectativa é que a recuperação da economia continue atraindo estrangeiros, afirma Gulbrandsen.

    "Nunca fiquei tão otimista com o país como estou agora. Acho realmente que a Bolsa brasileira daqui a 12 meses será a mais querida do mundo. Há um espaço enorme para ganhar dinheiro na Bolsa entre agora e as eleições."

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