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    Joesley e Wesley são sócios da JBS, e não donos, diz presidente do BNDES

    RAQUEL LANDIM
    DE SÃO PAULO

    15/09/2017 02h00

    Paulo Rabello de Castro, presidente do BNDES, afirmou à Folha que os Batista romperam um "pacto informal" para a saída de Wesley Batista da presidência da JBS. "Não cumpriram e, por isso, a empresa está acéfala agora", disse. O banco é sócio da JBS com 21% de participação.

    Ele conta que assim que assumiu o cargo em junho acertou com Tarek Farahat, presidente do conselho de administração, que os bancos públicos apoiariam a renegociação da dívida e a JBS contrataria uma consultoria para encontrar um novo CEO. Segundo ele, o setor público fez sua parte, mas a família, não.

    Rabello de Castro também revelou que o BNDES vem conversando com a AGU (Advocacia Geral da União) e com a Justiça para explicar que o fim do acordo de colaboração premiada de Joesley Batista não deve afetar a companhia.

    "A punição exemplar aos CPFs não pode se confundir com os CNPJs. A posição conhecida dos Batista é 41%. Se agiam como donos antes, passaram a conhecer sua verdadeira condição de sócios".

    Leia a entrevista de Rabello de Castro à Folha.

    *

    A advogada Claudia Santos, representante do BNDES no conselho da JBS, defendeu nesta quarta-feira (13) que a empresa indique um presidente interino para substituir Wesley Batista. Por quê?

    Por um motivo muito simples: a empresa neste momento funciona acéfala. Uma empresa de qualquer porte —não precisa ser imensa como a JBS— tem que ter linha sucessória. Até na padaria do seu Manoel tem que existir um plano de sucessão.

    Nós temos na JBS executivos de nível internacional, que nas suas origens foram importantes CEOs. A solução que nossa conselheira apresentou é óbvia: um novo administrador interino é importante, já que estamos reestruturando o conselho de administração, como estava pactuado entre o presidente do BNDES e o presidente do conselho, embora de modo informal.

    O que foi acordado entre o senhor e o presidente do conselho da JBS, Tarek Farahat?

    Logo depois de manifestar minha solidariedade aos funcionários, minha primeira medida assim que assumi o BNDES foi chamar o presidente do conselho da JBS. Ninguém nunca soube disso, mas agora estou esclarecendo.
    Naquele momento, ainda não parecia que havia uma crise de governança na empresa. Mas a família Batista tinha instalado uma crise de confiança na República. Eu, que já sentei em inúmeros conselhos, preferi antecipar o problema.

    Nós pactuamos o seguinte: de um lado, eles teriam um tempo, embora curto, para renegociar a dívida com os bancos. Mais ou menos um mês depois dos nossos primeiros encontros, a empresa fechou um acordo muito favorável para o seu equilíbrio com os bancos.

    Eu trabalhei em completa sintonia com o Paulo Caffarelli, presidente do Banco do Brasil, que sentava como credor, e com o Gilberto Occhi, presidente da Caixa Econômica Federal. BNDES e Caixa são sócios da JBS, enquanto o BB é credor. Ou seja, o setor público agiu de maneira estritamente republicana num ambiente que poderia se supor uma "vendeta".

    Assessores da JBS dizem que o BNDES vem sendo um instrumento de vingança do governo Temer contra os Batista, por causa das acusações feitas por Joesley Batista.

    É exatamente o contrário. Veja bem: não é o governo que quer uma vendeta, é a República que quer se vender vindicada. Eu paguei um preço alto por fazer uma defesa da boa conduta negocial histórica do grupo. Segurei a barra dizendo que essa é uma empresa dos brasileiros, de todos nós, inclusive os Batista. Eles até quiseram levar a JBS para fora do país, mas a Maria Silvia não deixou [a ex-presidente do BNDES vetou uma reestruturação do grupo que mudaria a sede para o exterior].

    E qual foi o compromisso assumido pelos Batista nesse pacto informal?

    Na reunião do conselho de junho, os conselheiros do BNDES introduziram a questão da governança da JBS. É só pedir a ata. Nessa reunião, ficou decidido por conta do pacto firmado entre eu e o Tarek, que seria contratada uma empresa de recursos humanos para a busca de um novo CEO. E que poderia ser alguém da casa ou de fora. Estabelecemos um prazo de três meses para o trabalho da consultoria. Eu queria trinta dias, mas o entendimento foi que levaria até setembro.

    E isso foi feito?

    Zero. E é por isso que a empresa está acéfala hoje. Não tinha que ter uma reunião de emergência.

    Foi por isso que o senhor pediu À assembleia de acionistas para que a empresa apure possíveis prejuízos provocados pelos administradores?

    Não. Na mesma reunião de junho em que conversamos sobre a absoluta necessidade de aperfeiçoar a governança da JBS, tomamos a medida de requerer a assembleia geral extraordinária.

    Quando nós apresentamos esse requerimento, não foi tornado público. Eu até me chateie um pouco porque isso não constou da ata. Mas eles pediram um adiamento, porque a lei da sociedades anônimas prevê um período curto para a marcação da data da assembleia.

    Ninguém soube na época, porque não estamos administrando a JBS pelo jornal. Eles nos ligaram e argumentaram que a assembleia seria interpretada como uma saída do Wesley, o que o enfraqueceria perante os bancos e poderia até levar à recuperação judicial.

    Eu ponderei, reclamei que o processo seletivo do CEO não tinha começado. Mas concordei com mais 15 dias, porque eu estava acompanhando o processo de repactuação da dívida com os bancos, que ia muito bem. O BNDES deu a esse grupo todas as chances de estabelecer um verdadeiro diálogo edificante.

    Quando a JBS concordou em marcar a assembleia?

    Depois do acordo com os credores no final de julho eles vieram discutir os termos da convocação da assembleia. E me deram trabalho, porque não queriam dizer o que tinha que ser dito, que era o pedido de apuração de eventuais prejuízos provocados pelos administradores.

    Também é importante esclarecer que não estamos pedindo para processar os administradores. É a lei das sociedades anônimas que determina que, se alguém é alvo de uma avaliação por falta de ética, não pode estar à frente de uma companhia.

    A opinião pública quer vindicar uma imunidade [concedida pela Procuradoria Geral da República] vista como impunidade. Por isso, passaram a interpretar que o BNDES queria tirar os Batista da empresa.

    Na época, nós sugerimos a criação de um comitê executivo que ajude o CEO a tomar decisões mais complexas. Ou seja, vamos nos beneficiar da experiência de Wesley Batista, mas fora da posição de coordenador máximo da empresa.

    Isso foi feito, mas ele se manteve no posto. Daí foi convocada a assembleia para o dia 1º de setembro. O resto da história é pública. É óbvio que nós requeremos de modo cautelar que as pessoas que têm conflito de interesse não votem.

    Por que o BNDES decidiu trocar seus conselheiros na JBS? O senhor já tem os novos nomes?

    Claudia Santos e Maurício Luchetti são extraordinários. O Maurício pediu para sair, porque cumpriu seu ciclo [ele renunciou na semana passada]. Vamos aproveitar a Claudia em outros conselhos importantes. E vamos colocar novos nomes com força total.

    Já temos os novos nomes, mas ainda está pendente de aprovação final porque o processo seletivo do BNDES é muito rigoroso. Um deles chegou a ser especulado como presidente, é o Cledorvino Belini (ex-Fiat). Por todos os critérios, é um nome de alto coturno e provavelmente será o nosso indicado.

    Também queremos influenciar na escolha dos conselheiros independentes. Temos dois nomes prontos para serem apresentados. Mas daí não vai passar só pelo nosso crivo. E gostaríamos ainda de levar a conselho um nome excepcional para ser diretor financeiro, que, por incrível que pareça, é praticamente inexistente.

    Na reunião, a conselheira do BNDES sugeriu o nome de Gilberto Tomazoni como presidente interino. O banco mantém essa posição?

    Ela teve uma rápida conversa comigo e nós sugerimos esse nome como um gesto de boa vontade, porque esse aparentemente seria o nome do coração do senhor Tarek e reconhecido pelo mercado de alta competência. Eu não o conheço pessoalmente.

    Rodrigo Janot anunciou que vai rescindir o acordo de colaboração premiada de Joesley Batista. Se isso derrubar o acordo de leniência, o impacto será muito grande para a empresa?

    Espero que não. É preciso separar os CPFs e o CNPJs. O BNDES está preparado e tem discutido com a AGU (Advocacia Geral da União) e estamos trazendo informações para os juízes da absoluta necessidade de proteger os empregos dos brasileiros. A punição exemplar aos CPFs não pode se confundir com os CNPJs.

    Essa é uma crise de fricção institucional dentro da empresa. A posição conhecida dos Batista é 41%. Eles podem estar controlando, mas não são donos da empresa. Se agiam como donos antes, passaram a conhecer a sua verdadeira condição de sócios.

    *

    RAIO-X PAULO RABELLO DE CASTRO

    Cargo: presidente do BNDES desde junho

    Formação: graduado em economia pela UFRJ (1971) e em direito pela Uerj (1971). Mestre e doutor em economia pela Universidade de Chicago

    Carreira: presidiu o IBGE (2016). Fundou a SR Rating, empresa de classificação de riscos de crédito. Presidiu o Lide Economia. Coordenou o Movimento Brasil Eficiente até junho de 2016

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