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    Superintendência do Cade recomenda condenação de Júnior Friboi por cartel

    FLAVIA LIMA
    DE BRASÍLIA

    15/09/2017 13h33 - Atualizado às 10h20

    Folhapress
    José Batista Júnior chega ao edifício onde Joesley tem apartamento em Manhattan, em maio de 2017
    José Batista Júnior chega ao edifício onde Joesley tem apartamento em Manhattan, em maio de 2017

    A Superintendência-Geral do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) recomendou ao tribunal do órgão antitruste a condenação de José Batista Júnior e do frigorífico Independência em processo administrativo sobre formação de cartel no mercado nacional de compra de gado para abate.

    O processo segue agora para julgamento pelo tribunal administrativo do órgão, responsável pela decisão final. Ele será distribuído a um conselheiro, o relator do caso, que o levará para julgamento.

    Batista Júnior, conhecido como Júnior Friboi, é mais velho que Joesley e Wesley Batista, todos filhos do fundador da JBS. Além de presidir o grupo por mais de 20 anos, Júnior foi também candidato ao governo de Goiás em 2014.

    Na nota técnica, o Cade diz que José Batista Júnior "coordenou um cartel de compra de carne de gado bovino para abate, com fixação de preços e divisão de mercados, nos Estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e São Paulo, com a participação do frigorífico Independência".

    O Cade ainda encaminhará à Procuradoria da República em MT e à Superintendência Regional da Polícia Federal cópias dos documentos para que "examinem a possibilidade de reabertura de inquérito policial".

    O processo administrativo foi instaurado em 2006, com origem em denúncia dos frigoríficos Araputanga e Frigoara, baseada em gravações de áudio e vídeo. Elas foram feitas pelo proprietário Araputanga, José Almiro Bihl, em junho de 2005, em conversa que incluiu Júnior e Joesley.

    Júnior só foi incluído no processo em 2007. Segundo o conselho, ele confessou nos diálogos a prática de cartel e citou como participantes do acordo os frigoríficos Independência, Bertin e Mataboi.

    "A confissão do sr. José Batista Júnior é prova suficiente da materialidade e autoria da infração concorrencial". Segundo a nota, a existência de um cartel fica clara em vários trechos da conversa.

    Em um deles, Júnior diz: "Nós, o Bertin, o Independência...os três põem o preço do boi em tudo quanto é Estado, em tudo quanto é...ó, Mato Grosso do Sul nós (peita) lá, São Paulo, tá aqui...lá no Mato Grosso, lá no Mato Grosso aí embaixo, nós temos quatro unidade parte do que é nosso."

    E continua: "então o preço nós todo mundo compra...nós sozinho regulou o preço, nós...só nós lá mata...só nós lá agora com quatro unidade deve matar um...um...dois...(...) setenta...só nós lá por mês no Mato Grosso vai matar setenta, oitenta mil rês...só... nós faz o preço...o povo é que vem dizendo."

    Em Minas, segundo as gravações, os preços seriam ditados por Friboi, Bertin e Mataboi. São Paulo seria área reservada para Bertin e Independência, e o "Oeste", Friboi e Bertin.

    Júnior também admite, segundo o relatório, que seria política do Friboi a busca de acerto de preços em todos os mercados em que atua: "Agora nós estamos em cinco Estado, e nos cinco Estado nós combina com três...dois."

    O inquérito original aberto a partir de investigação do Ministério Público de Mato Grosso não faz referência à existência de cartel e foi arquivado por falta de base à denúncia.

    O inquérito, que apurava duas transgressões, dizia que o crime de concorrência desleal estaria prescrito. Com relação às alegações de infrações de ordem econômica, o documento concluía que o Cade já havia aplicado as sanções decorrentes da atuação do Grupo Friboi e das pessoas físicas a ele relacionadas em outro julgamento.

    A nota técnica do Cade explica, no entanto, que o inquérito não chegou a apreciar a representação apresentada pelo frigorífico Araputanga, que comprovaria as infrações da ordem econômica e que foi objeto de apreciação da autarquia. "A investigação da PF parou exatamente no ponto em que começa a presente investigação.", diz.

    OUTRO LADO

    Em nota, a assessoria de José Batista Junior afirma que ele "nunca participou e, tampouco, coordenou um cartel, uma vez que sua atuação à frente da JBS, empresa que deixou em 2011, sempre se deu conforme a lei".

    "Trata-se de um processo antigo (de 2006), que esteve paralisado na Superintendência-Geral do Cade por mais de 7 anos, voltando à tona neste momento de forma infundada e inexplicável", afirma.

    A nota ainda afirma que o Cade negou ao empresário o acesso a documentos que o inocentam.

    "Ademais, o Cade não efetuou investigações próprias. O caso foi originado e já devidamente investigado pela Polícia Federal e pela Procuradoria da República do Estado do Mato Grosso e, com base nos mesmos fatos, foi arquivado pela Justiça Federal daquele Estado há 4 anos, sob o argumento de que 'os fatos relatados (...) são destituídos de elementos objetivos, sendo narrados de forma aleatória e vaga' e 'as acusações de delitos contra a ordem econômica (...) imputadas ao Grupo FRIBOI (...) não merecem seguimento'."

    José Batista Junior afirma estar confiante de que a verdade dos fatos prevalecerá e afirma que "irregularidades do processo conduzido pelo Cade já são objeto de questionamento no âmbito judicial".

    Com informações da Reuters

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