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    Designers de embalagens miram nichos para ganhar mais clientes

    FLÁVIA PINHO
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    17/09/2017 02h00

    Giovanni Bello/Folhapress
    SÃO PAULO, SP, BRASIL, 11-09-2017: Baíta Sicupira, da empresa Baíta Design, que cria embalagens para diversos setores, incluindo caixa de transporte para alimentos frescos, que não são tão comuns. (Foto: Giovanni Bello/Folhapress, ESPECIAIS) ***EXCLUSIVO FOLHA****
    A designer Baíta Sicupira, no escritório do BST! Design, no bairro de Moema, zona sul da capital paulista

    Tradicionalmente associado ao segmento de luxo, o design de embalagens começa a ter papel estratégico para pequenas e médias empresas.

    "Como elas nem sempre têm outro recurso para se comunicar com o público, a embalagem é fundamental para os produtos se destacarem na gôndola", afirma Gisela Schulzinger, professora de design da ESPM.

    Para quem oferece esses serviços, explorar segmentos específicos do mercado é uma boa maneira de crescer. A designer Baíta Sicupira, fundadora do BST! Design, exibe em seu portfólio embalagens para frutas in natura.

    O primeiro cliente, o produtor Agrodan, chegou 18 anos atrás. Na época, suas mangas especiais, sem fibras, seguiam exclusivamente para o mercado externo.

    "Eles precisavam de uma caixa bonita para ser exposta na gôndola, que destacasse o diferencial das frutas, transmitisse a ideia de brasilidade e resistisse ao transporte", conta Baíta.

    Anos depois, quando as mangas passaram a ser comercializadas no Brasil, a embalagem teve um papel importante de novo para o posicionamento do produto.

    "Eles tentaram vender as frutas a granel, mas os consumidores não entendiam por que custavam tão caro. Então, desenvolvemos uma embalagem com uma abertura na parte cima, que traz folhetos explicativos com receitas. Foi um sucesso."

    A Do-Design, fundada em Belo Horizonte em 2003, seguiu o mesmo caminho, apostando na criação de embalagens para alimentos orgânicos de pequenos produtores e cooperativas, setor que tem ganhado destaque no país.

    Parte da clientela atua no Brasil, mas também há consumidores europeus.

    A baiana Coopercuc, Cooperativa Agrocupecuária Familiar de Canudos, Uauá e Curaçá, que produz geleias com frutos da caatinga, é um dos clientes da Do-Design.

    A agência criou rótulos e caixas de papelão para minipotes de doce da cooperativa. "As embalagens fizeram a diferença no mercado europeu", diz Gabriela Rocha, diretora de arte do escritório.

    A equipe trabalha espalhada pelo mundo. São seis designers ao todo -dois em Belo Horizonte, dois em São Paulo, um em Paris e outro em Berlim, posto ocupado por Rocha. "Fazemos as reuniões por Skype ou telefone, mas o contato próximo com o cliente é fundamental. Viaja quem estiver mais perto", explica a designer.

    MULTITAREFA

    Dois movimentos ocorridos nas últimas décadas ajudaram a democratizar o design de embalagens, segundo Frederico Gelli, que fundou a Tátil Design há 30 anos.

    "A evolução tecnológica, que passou a permitir a fabricação de embalagens em menor escala, e a proliferação de pequenos escritórios e profissionais autônomos."

    A formação dos designers também tornou-se mais dinâmica -eles passaram a transitar livremente entre as diversas subdivisões da carreira, antes compartimentada.

    "A profissão é muito dinâmica e surgem oportunidades inéditas até mesmo ao longo do curso de quatro anos", diz Claudio Magalhães, professor do Departamento de Artes e Design da PUC-Rio.

    "Quanto mais universal e flexível a formação, melhor."

    O desenho de embalagens, a princípio, engloba competências de duas áreas: design gráfico e projeto de produto. Mas, para conquistar clientes, é preciso ir além.

    "Destaca-se quem desenvolve estratégias completas de mercado", diz Magalhães.

    De acordo com o professor, atualmente não basta ao designer ter talento criativo e domínio técnico.

    "O profissional precisa de habilidades mercadológicas, saber ajudar o cliente a compreender seu problema e apresentar soluções", acrescenta Magalhães.

    CERVEJAS ARTESANAIS

    O designer mineiro Fabio Guimarães decidiu concentrar seus esforços em outro mercado em crescimento no país, o de cervejas artesanais
    Fundador da Beer Comunicação & Design, ele trabalha sozinho em casa e já desenhou mais de 400 rótulos para microcervejarias.

    "Gosto de cerveja, passei a participar de grupos de discussão nas redes sociais e, em 2010, a oportunidade surgiu por acaso", afirma.

    Os clientes começaram a aparecer na base do boca a boca, conta o designer.

    Guimarães cobra a partir de R$ 1.000 para criar um rótulo, serviço que consegue entregar em cerca de 20 dias. O preço aumenta quando o cliente pede para ele fazer uma ilustração personalizada, por exemplo.

    Além de traduzir a identidade da cervejaria no rótulo, o designer que atua nesse segmento precisa cumprir diversas exigências de órgãos como a (Anvisa) Agência Nacional de Vigilância Sanitária, o Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia) e o Ministério da Agricultura.

    "Há regulamento para tudo, da posição das advertências obrigatórias ao tamanho das letras", diz Guimarães.

    Seu portfólio inclui rótulos criados para cervejarias que já são conhecidas, caso da mineira Wäls e da paranaense Bier Hoff, e produtores caseiros que só querem caprichar na embalagem da bebida que servem aos amigos.

    "É um mercado que não para de crescer", afirma.

    MERCADO

    Não há dados precisos de quantas pessoas trabalham com design no país, de acordo com a Associação Brasileira das Empresas de Design.

    "Em 2014, foi feito um levantamento de todas as empresas de design que tinham CNPJ. Chegou-se a um montante de 683, mas não foram consideradas as informais e os profissionais autônomos", afirma André Poppovic, presidente da entidade.

    Há menos dados ainda sobre o segmento de embalagens. Mas, para Popovic, a área já está consolidada.

    "É certamente a área de negócios que tem as metodologias mais consolidadas e difundidas, os preços mais padronizados e o maior número de 'players' em atuação. Pode-se dizer que design de embalagens é a área mais madura do mercado."

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