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    Produtores de árvores em São Paulo ficam sem mercado

    NATÁLIA PORTINARI
    DE SÃO PAULO

    17/09/2017 01h00

    Com a crise da construção civil e da siderurgia no Brasil, nos últimos seis anos, a produção de árvores se voltou quase que completamente para a celulose, que dá mais retorno a quem planta.

    Hoje, 34% das áreas plantadas no país são das indústrias de celulose e papel, de acordo com a Ibá (Indústria Brasileira de Árvores). Outras 29% são de produtores independentes, e 10%, de investidores, grupos cujos retornos estão vinculados diretamente a esse mercado.

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    No oeste paulista, os independentes, no entanto, não têm para quem vender.

    O motivo é a distância dos polos de celulose da Fibria, da Votorantim e da Suzano, que estão no Vale do Paraíba ou ao sul da capital.

    "O mercado está muito ruim", diz Domingos Cruz, produtor de Avaré (SP), cidade a 270 km da capital. Ele fez um financiamento no Banco do Brasil para investir R$ 250 mil no plantio, mas agora pode não ter o retorno esperado.

    Antes de 2013, ele tinha fomento da Suzano para produzir eucalipto, mas a empresa saiu da região. Segundo Cruz, os preços chegavam a R$ 45/m³ quando a papeleira investia no plantio por lá.

    Hoje, os produtores da região estão vendendo o eucalipto por cerca de R$ 30/m³, ou 25% menos que a média de R$ 40 praticada no Estado, divulgada pela Secretaria de Agricultura de São Paulo.

    "Minha perspectiva é vender em 2020, quando o preço melhorar. Aqui na região tem muito eucalipto plantado, só não tem mercado", diz Cruz.

    É para se precaver dessa crise que José Fernando Mendonça, fazendeiro de Lucélia (SP), a mais de 500 km da capital, planeja cortar e tratar por conta própria a madeira que plantou em 2011, em um investimento de R$ 400 mil.

    "Pode ir para a construção civil, para indústria de perfumes. Para outro fim, não temos indústria aqui", afirma. Ele investiu em um tipo de eucalipto que não é utilizado para celulose.

    A participação de São Paulo nas exportações de celulose diminuiu 10% de 2013 a 2016, segundo o Ministério do Desenvolvimento, na esteira do crescimento dos parques industriais em Mato Grosso do Sul —a Fibria se instalou em Três Lagoas (MS) em 2009, e a Eldorado, em 2013.

    Essa conjuntura fez com que a área de eucalipto em São Paulo diminuísse 9,45% de 2010 a 2016, segundo a Ibá. No ano passado, a área nova plantada no Estado caiu 24% em relação a 2015, à medida que o produtor vê menos vantagens no investimento.

    "A madeira para uso industrial não pode ser transportada para longas distâncias, porque o custo inviabiliza o investimento", afirma Carlos Guerreiro, presidente da TTG Brasil, braço do BTG Pactual de investimentos florestais.

    TERRAS CARAS

    "Um fator que impede São Paulo de abrigar uma produção maior de celulose é que temos algumas das terras mais caras do Brasil, e o eucalipto não compete com a cana de açúcar. O retorno da agricultura é muito maior. A indústria de árvores opera em áreas marginais", diz Guerreiro.

    O eucalipto e o pinus demoram, em média, sete anos para serem cortados. O pinus é usado principalmente para o mercado doméstico de painéis de madeira, que sofreu com a crise —a área de pinus diminuiu 9% de 2010 a 2016.

    Mas não houve redução nos terrenos da indústria de celulose, afirma João Pedro Pacheco, coordenador-executivo da Florestar, que reúne as papeleiras de São Paulo.

    "Há uma migração de regiões que eram interessantes e agora não são mais. Mato Grosso do Sul tem incentivado muito a plantação", diz.

    Já em Minas Gerais, a crise da siderurgia impactou a demanda por árvores —o consumo de carvão vegetal no país, concentrado em Minas, foi de 7,1 milhões de toneladas (2008) para 4,5 milhões (2016), segundo a Ibá.

    "Nossa madeira não está valendo praticamente nada", diz Leonardo Resende, produtor de Juiz de Fora (MG). Segundo ele, os preços chegam a R$ 15, metade do que se encontra em São Paulo.

    Já na Bahia, Estado líder na exportação de celulose, os preços passam R$ 70 na região perto das fábricas. "Ensinamos produtores a diversificar as finalidades e reduzir a dependência das indústrias", diz Gleyson Araújo, presidente-executivo da Aspex (Associação de Produtores Florestais de Eucalipto).

    Editoria de arte/Folhapress
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