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    Ryanair abandona oferta pela Alitalia e cancela mais voos na Europa

    DO "FINANCIAL TIMES"

    28/09/2017 08h00

    Andreas Arnold/AFP
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    A Ryanair retirou sua oferta para aquisição da rival Alitalia, afirmando que precisa "eliminar todas as distrações" para seu gestores a fim de reparar problemas de planejamento, que a levaram a cancelar cerca de 18 mil voos, na quarta-feira (28).

    A companhia irlandesa de aviação de baixo custo cancelou voos que atenderiam a mais de 400 mil passageiros, no período entre novembro e março, menos de duas semanas depois de cancelar cerca de 2,1 mil outros voos, que atenderiam a 315 mil passageiros.

    A Ryanair anunciou na quarta-feira que havia notificado os liquidantes encarregados de administrar a Alitalia que não levaria adiante seu interesse pela aquisição da companhia de aviação italiana.

    "A fim de nos concentrarmos na solução de nossos problemas com escalas de trabalho, nos próximos meses, a Ryanair vai eliminar todas as causas de distração para seus gestores, a começar pelo nosso interesse quanto à Alitalia", afirmou a companhia em comunicado.

    É uma grande mudança de rumo para a companhia de aviação de baixo custo, que na semana passada havia confirmado seus planos de apresentar uma oferta formal pela Alitalia. O prazo para a apresentação de ofertas para adquirir a companhia italiana se encerra em 16 de outubro.

    Desde os cancelamentos, a Ryanair vem enfrentando reações adversas na Itália, que é um de seus grandes polos de operações. As autoridades antitruste do país lançaram na semana passada uma investigação sobre a suposta violação de direitos dos consumidores, e ministros importantes do governo italiano criticaram a condução da situação pela empresa. Carlo Calenda, ministro do Desenvolvimento Econômico, e Graziano Delrio, ministro do Transporte, pediram "tolerância zero" com relação à companhia irlandesa.

    "O que aconteceu com a Ryanair é muito sério porque o desserviço aos cidadãos foi substancial", disse Calenda na semana passada, acrescentando que quando a oferta da empresa pela Alitalia fosse considerada, o governo não poderia ignorar "as condições dos trabalhadores".

    Uma pessoa informada sobre a situação disse, porém, que seria improvável que o governo italiano tivesse recomendado que a Ryanair não apresentasse proposta pela Alitalia, e que o problema seria que a companhia não seria capaz de administrar sua oferta pela companhia italiana ao mesmo tempo em que tenta resolver tantas perturbações para seus passageiros.

    ESCASSEZ DE PILOTOS

    Os cancelamentos adicionais aconteceram em um momento no qual Michael O'Leary, o presidente-executivo da Ryanair, vem enfrentando dificuldade para resolver a escassez de pilotos da companhia.

    Na semana passada, ele atribuiu a culpa pelos problemas na escala de serviço da empresa a uma mudança de regulamentação que força as empresas de aviação a contar o total de horas de voo de seus tripulantes com base no ano calendário, e não no ano fiscal da companhia, que vai de abril a março, o que deixou a Ryanair com um deficit de pilotos de reserva em sua escala de trabalho.

    Quando fez esses comentários, O'Leary enfatizou que a empresa não teria de realizar novos cancelamentos.

    Na quarta-feira, a empresa recuou de sua ameaça de reduzir em uma semana as férias anuais dos pilotos, o que fazia parte de seu plano inicial para resolver a crise.

    A Ryanair anunciou que o cancelamento de novos voos significará que "não precisaremos que os pilotos abram mão de uma semana de suas merecidas férias anuais, daqui por diante". A companhia também negou que esteja sofrendo de uma escassez de pilotos, e informou que neste ano menos de 100 primeiros pilotos se demitiram ou aposentaram, assim como menos de 160 copilotos. A companhia anunciou ter recrutado mais de 650 pilotos, e que os treinará ao longo dos próximos oito meses.

    A companhia reduzirá em 25 aviões o número de aparelhos em operação, de sua frota de mais de 400 aeronaves, entre a metade de novembro e março, e depois de abril de 2018 a redução das unidades operadas será de 10 aviões.

    As mudanças anunciadas na quarta-feira devem reduzir o volume anual de tráfego da empresa de 131 milhões para 129 milhões de passageiros, o que representa alta de 7,5% ante o ano passado, informou a Ryanair.

    A empresa reiterou que os custos relacionados aos cancelamentos anunciados na semana passada seriam de menos de 25 milhões de euros, e estimou custo semelhante para os novos cancelamentos. A Ryanair também repetiu que não antecipa que esses custos alterem sua projeção de lucro para o ano em curso, que está entre 1,4 bilhão e 1,45 bilhão de euros.

    A Ryanair espera que as reduções em seu calendário de voos "eliminem todo risco de novos cancelamentos, porque o crescimento mais lento resultará em maior disponibilidade de aeronaves e tripulantes sobressalentes nas 86 bases da Ryanair nesse período".

    Menos de 400 mil pessoas serão afetadas pelas mudanças anunciadas na quarta-feira, segundo a empresa. Os consumidores envolvidos receberam notificação por e-mail, e um prazo de cinco semanas a cinco meses para mudar seus planos de viagem. Também lhes foram ofertados reembolso completo por suas passagens ou voos alternativos, bem como vales-passagem, informou a Ryanair.

    "Pedimos desculpas sinceras aos clientes afetados pelos voos cancelados na semana passada ou pelas sensatas mudanças de calendário anunciadas hoje", disse O'Leary.

    "Embora mais de 99% dos 129 milhões de clientes não devam ser afetados por cancelamentos ou incômodos, lamentamos profundamente qualquer dúvida que tenhamos causado aos nossos clientes existentes na semana passada, sobre a confiabilidade da Ryanair ou o risco de novos cancelamentos", ele acrescentou.

    TRADUÇÃO DE PAULO MIGLIACCI

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