• Mercado

    Wednesday, 01-May-2024 05:42:53 -03

    Nova versão do cadastro positivo busca reduzir juro a consumidor

    MARIANA CARNEIRO
    DE BRASÍLIA

    09/10/2017 02h00

    Rubens Cavallari - 25.jul.2012/Folhapress
    Aumento do calote fez com que bancos abrissem sites exclusivos para renegociação de dívidas
    Feirão Limpa Nome da Serasa; governo quer incentivar cadastro positivo

    O governo quer ressuscitar o cadastro positivo de crédito, na tentativa de reduzir os juros na ponta ao consumidor. O cadastro identifica os bons pagadores, na tentativa de melhorar as condições de financiamento deles.

    A proposta foi aprovada em 2011, mas até hoje não decolou. Agora, Ministério da Fazenda e Banco Central estão apoiando e dando auxílio técnico a projeto de lei sobre o tema, de autoria do senador Armando Monteiro (PTB-PE). Ele deve ser votado nesta semana pelo Senado –depois, segue para a Câmara.

    Uma das novidades da versão atual será a inclusão de novas fontes de informações.

    Além dos bancos, prestadores de serviço, como concessionárias de luz, gás, água e telefone, serão obrigados a informar sobre pagamentos, o que vai aumentar o alcance do cadastro.

    Todos os consumidores serão cadastrados de forma automática nos bancos de dados do cadastro positivo. Quem quiser ser excluído deverá pedir a solicitação.

    O assunto é polêmico e na última semana mobilizou entidades de defesa do consumidor, em Brasília, contra o que consideram risco de vazamento de informações sigilosas.

    Elas temem que, com as mudanças, o consumidor possa ser prejudicado por erros no fornecimento de informações ou pela venda de dados.

    O projeto de lei, porém, diz Monteiro, aumentará o controle sobre os chamados birôs de crédito –entidades que administram dados de consumidores, como Serasa Experian, Boa Vista e GIC (empresa formada pelos cinco maiores bancos do país e que começa a funcionar em janeiro).

    Essas empresas vão produzir notas de crédito para cada cliente, informação que será repassada a lojas, bancos e outros potenciais usuários da informação. Será uma síntese do histórico do tomador de crédito.

    O senador observa que, como os birôs terão acesso aos dados brutos de cada cliente para elaborar as notas, o regulamento sobre as entidades vai aumentar.

    A regulamentação caberá ao Banco Central, que já prepara as normas.

    Monteiro estima que o número de participantes do cadastro positivo logo supere 100 milhões de usuários.

    CONCORRÊNCIA

    Embora Serasa e Boa Vista já atuem na área, a expectativa é que a empresa formada pelos bancos entre com força neste mercado, uma vez que eles detêm informações de sete em cada dez clientes bancários do país.

    De acordo com o presidente da Febraban (federação dos bancos), Murilo Portugal, a nova empresa levará quatro anos para operar com 100% de sua capacidade.

    Além disso, por um acordo firmado com o Cade (órgão de defesa da concorrência), a GIC será obrigada a vender informações de seu banco de dados ao mercado, sem reservas ou distinção de preço.

    O cadastro positivo é uma das condições apontadas pela Febraban e pela equipe econômica para reduzir os "spreads" bancários –parcela dos juros ao consumidor final em que estão incluídos custos e lucros dos bancos.

    Com a queda da taxa básica de juros (Selic), essa agenda ganha importância, dado que os "spreads" no Brasil são muito mais altos do que em outros países.

    Segundo Portugal, a inadimplência poderia recuar 45% com o cadastro positivo. Em troca, os bancos poderiam oferecer taxas mais baixas de juros, mas não há estimativas precisas, afirmou o executivo da Febraban.

    *

    ENTENDA O CADASTRO POSITIVO

    O que é o cadastro positivo?

    Aprovado em 2011, tinha como objetivo identificar bons pagadores e, com isso, oferecer melhores condições de financiamento

    Por que não decolou?

    Os consumidores têm que pedir para entrar, o que limita o crescimento do banco de dados. Além disso, lojas têm receio de usar, pois podem ser processadas pelo consumidor que se sentir lesado ou vítima de invasão de informações

    O que mudará?

    Adesão será automática. Quem não quiser entrar tem que solicitar retirada do nome; prestadores de serviço (como luz, água e telefone) enviarão informações; lojas terão acesso apenas à nota final do consumidor, e não aos dados brutos

    Qual retorno?

    Bancos e equipe econômica afirmam que, com o cadastro positivo, as taxa de juros poderão cair e a oferta de crédito tende a aumentar

    Comparação internacional

    Peso do spread na taxa de juros ao consumidor:

    >> Brasil 22%*

    >> México 9,1%

    >> Chile 4,3%

    >> Colômbia 3,9%

    >> EUA 5,2%

    >> Alemanha 5,5%

    *Spread bancário médio no Brasil entre nov.15 e out.16, calculado pelo BC, sem contar crédito direcionado

    Edição impressa
    Folhainvest

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024