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Patrice Etlin, sócio do fundo Advent, que tem US$ 16 bilhões em empresas na América Latina |
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Mercado
Wednesday, 01-May-2024 17:28:25 -03'Deixem a gente trabalhar e não estraguem mais', diz sócio do fundo Advent
RAQUEL LANDIM
DE SÃO PAULO22/10/2017 02h00
Filho de pai francês, Patrice Etlin pode ser considerado o tão famoso "investidor estrangeiro" por excelência. Ele comanda a operação na América Latina do fundo de private equity Advent International e já investiu R$ 16 bilhões em empresas na região.
O executivo, porém, nasceu no país e como brasileiro diz que a sociedade se desinteressou do "circo" de Brasília. Na sua visão, existe hoje uma "separação clara" entre a crise política e a economia e o mercado de capitais, que vive uma fase exuberante.
Ao contrário dos seus pares, não se assustou com a Lava Jato e avalia que as investigações trouxeram oportunidades de novos negócios. "Não sejamos ingênuos. Agora a ferida está aberta, mas a corrupção sempre existiu", disse à Folha.
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Folha - As eleições presidenciais do ano que vem prometem ser a mais disputadas desde 1989. Isso afasta o investidor estrangeiro?
Patrice Etlin - Temos uma exuberância na Bolsa brasileira e o real está estável, apesar das notícias de Brasília. Isso ocorre porque existe muita liquidez no mundo e o dinheiro está vindo para cá. O que vivemos hoje no Brasil é uma separação clara entre a crise política de um lado e a economia e o mercado de capitais de outro. Estamos anestesiados em relação a esse assunto, seja a briga entre STF e Senado, seja a segunda denúncia contra o Temer. Todo esse circo montado em Brasília quando todo mundo sabe qual vai ser o resultado. A sociedade se desinteressou disso.E para o investidor?
O empresariado e o mercado financeiro também não estão se importando. A visão geral é: deixem a gente trabalhar e não estraguem mais. Medidas muito importantes –reforma trabalhista, teto de gastos– já foram aprovadas. Se fizerem uma reforma mínima da Previdência, já está bom. É óbvio que vai ter volatilidade no ano que vem e discursos inflamados, mas tenho uma visão pragmática do que pode ser feito pelo novo ocupante do Planalto.E qual é a visão?
O dinheiro acabou. O Estado brasileiro não tem capacidade de investir e mal consegue pagar suas contas. Qualquer um que sentar naquela cadeira vai ter que fazer as reformas. Se for um governo com uma agenda pró-mercado, poderemos ter um círculo virtuoso rapidamente. Se for uma administração de esquerda, poderá demorar mais, mas vai chegar no mesmo lugar.O liberalismo está ganhando mais espaço no Brasil, um país com uma tendência estatizante. O senhor acredita que essa mudança veio para ficar?
O modelo da Constituição de 1988 faliu. A situação teria estourado no colo de qualquer um que estivesse no governo. Obviamente a Dilma conseguiu piorar as coisas, mas o problema era estrutural. Esta crise mostrou para a sociedade que é um erro insistir nessa dependência do Estado provedor. As pessoas sofreram muito com isso. Houve desemprego e perda importante de qualidade de vida nos últimos anos. Existe hoje no Brasil mais abertura ao modelo liberal. O maior exemplo disso é a privatização da Petrobras, que hoje é discutida de maneira aberta. O IPO da BR Distribuidora está acontecendo.Esse dinheiro que chega ao Brasil é de curto prazo ou já existem investidores estratégicos retornando ao país?
Esses recursos são de curto prazo. A Bovespa está batendo toda semana seus recordes em reais, mas ainda estamos um pouco abaixo do recorde em dólares. O investidor estratégico também começou a chegar. Acabamos de vender nosso porto para o segundo maior grupo chinês [a China Port comprou 90% da TCP, que opera terminais de contêineres em Paranaguá por R$ 2,9 bilhões]. É claro que alguns investidores que tomam hoje uma decisão para os próximos 30 anos podem esperar para ver o que vai acontecer em 2018, mas o momento é muito oportuno para entrar no país.Oportuno?
Temos empresas muito endividadas por causa da Lava Jato e da crise, o que abre oportunidade de aquisições interessantes e, ao mesmo tempo, possuímos um mercado exuberante de capitais. Estamos comprando e vendendo muito bem. Normalmente essas coisas não vão juntas. Enfim, vivendo um ano esquizofrênico: compramos participação em quatro empresas no primeiro semestre (quantiQ, Estácio, Easynvest e Menil) e vendemos nosso porto, saímos do laboratório Fleury, abrimos o capital da farmacêutica Biotoscana.Na sua avaliação, quais são os riscos para a retomada da economia brasileira?
No curto prazo, o maior risco é externo. Se a economia americana tiver uma retomada brusca e os juros dos Estados Unidos subirem mais do que o mercado antecipa, o dinheiro migrará para lá e o real vai depreciar. O ambiente externo está novamente benigno para os países emergentes e o Brasil –bem ou mal– continua nesse meio. Mas, se essa liquidez voltar para o seu porto seguro, o país vai enfrentar uma corrida de capitais numa situação mais frágil. Ainda temos deficit fiscal e estamos muito longe de arrumar nossas contas.As investigações da Operação Lava Jato revelaram uma enorme rede de corrupção no país. Como isso afetou a percepção dos estrangeiros?
Não vamos ser ingênuos. Agora a ferida está aberta, mas a corrupção sempre existiu. A maneira como lidamos com isso é que nunca adquirimos empresas em que o governo era o principal cliente [o que poderia exigir pagamento de propina para obter contratos]. Se a companhia obtém mais de 10% de sua receita com o governo, incluindo estatais, nem avaliamos. Perdemos várias oportunidades com empresas que vendiam para a Petrobras ou atuavam na construção civil.Não dá para fazer negócio com o Estado?
Tivemos experiências muito boas em setores regulados pelo governo, mas cujo cliente final é privado: portos, Cetip, Dutyfree. Nesses casos, a empresa paga uma parcela da renda para o governo em vez de receber dele, o que faz uma enorme diferença. Mas nas "due dilligence" das empresas, sempre fizemos checagem das melhores práticas com empresas de investigação como a Kroll, porque temos de obedecer o Foreign Corrupt Practices Act [lei que pune empresas com negócios nos EUA e pagam propina no exterior].A percepção geral do mercado, no entanto, é que a Lava Jato assustou os estrangeiros. Qual é a sua avaliação?
É claro que muitos investidores estratégicos e até outros fundos recuaram. Hoje temos menos competição, apesar da atual exuberância do mercado de capitais. Para a Advent, que está no Brasil há 20 anos, a Lava Jato abriu uma enorme oportunidade, porque trouxe para o mercado ativos que não estariam disponíveis.E quais foram esses ativos?
Compramos, por exemplo, uma distribuidora química da Braskem, a quantiQ. Soube que havia um investidor estratégico avaliando, mas o risco Lava Jato afastou esse concorrente. Também adquirimos a maior empresa de TI do Peru por causa da Lava Jato. Essa empresa pertencia a uma sócia da Odebrecht, que foi pega pelas investigações locais e teve que vender ativos para fazer caixa. Obviamente adotamos cláusulas de indenização por corrupção mais detalhadas e abrangentes e sem limitação de valor. Outro cuidado adicional foi adquirir pedaços das companhias que não tinham sido utilizados na corrupção. No acordo de leniência da Braskem, não há qualquer menção à quantiQ. Um fundo de "private equity" que está chegando ou voltando para o Brasil não quer envolvimento com o assunto Lava Jato. Não vai querer correr riscos em sua primeira transação no país. Já nós conseguimos entender melhor e nos proteger desses riscos.A Advent está no Brasil desde 1997. O que mudou no país nesses 20 anos?
Voltei ao Brasil em 1994 após fazer MBA na França. Tinha propostas para trabalhar lá, mas resolvi apostar no Plano Real. Abri o escritório da Advent no país em 1997. Apostamos que o mercado de capitais ia se desenvolver, mas levou dez anos. Entre 1994 e 2004, tivemos quatro IPOs [oferta pública inicial de ações] na Bolsa. Entre 2005 e 2008, foram cerca de 150. A mudança que propiciou esse salto foi a regulamentação do Novo Mercado. A governança das empresas avançou. O empresário entendeu a importância de ter as contas em ordem para abrir capital ou receber dinheiro dos fundos. Isso gerou um círculo virtuoso, com empresas maiores e mais capitalizadas, gerando mais emprego e pagando mais imposto.-
Patrice Etlin
Idade
54 anosFormação
Graduado em engenharia eletrônica pela USP, tem MBA pelo Insead e mestrado em engenharia industrial pela École Centrale de ParisCarreira
É sócio-diretor da Advent Internationa no Brasil desde 1997Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br
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