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    Fronteira e famílias pobres sofriam maior impacto com fim do desmate

    EVERTON LOPES BATISTA
    THAIZA PAULUZE
    DE SÃO PAULO

    31/10/2017 02h00

    Getty Images
    O que são os 'rios voadores' que distribuem a água da Amazônia --- Entre agosto de 2015 e julho de 2016, o desmatamento na Amazônia aumentou 29% em relação ao período anterior
    O que são os 'rios voadores' que distribuem a água da Amazônia — Entre agosto de 2015 e julho de 2016, o desmatamento na Amazônia aumentou 29% em relação ao período anterior

    Os ganhos ambientais do fim do desmatamento no país seriam inegáveis, mas as consequências negativas recairiam sobre o PIB regional de Estados de fronteira e os trabalhadores com menor qualificação, geralmente de famílias mais pobres.

    "É nosso papel compensar os grupos afetados. Não é justo quem está no interior de Mato Grosso pagar a conta de um benefício que é de todos", disse Marcos Lisboa, presidente do Insper, durante a apresentação dos resultados do estudo "Qual o Impacto do Desmatamento Zero no Brasil?", patrocinado pela ONG Instituto Escolhas.

    No cenário mais radical, no qual o desflorestamento pararia imediatamente, os salários de trabalhadores menos qualificados poderiam sofrer redução acumulada de 2,61% até 2030. Isso porque esse tipo de mão de obra é mais presente na agropecuária do que em outros setores.

    No mesmo cenário, o PIB acumulado entre 2016 e 2030 do Acre, outro Estado de fronteira, sofreria uma queda de 4,53%. São Paulo, por exemplo, teria redução de 0,38%.

    Debate desmatamento zero

    "É uma perda assimétrica para as regiões onde a expansão da fronteira agrícola é maior", disse Joaquim Bento de Souza Ferreira Filho, engenheiro agrônomo da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP).

    Para Lisboa, o emprego que um produtor perdeu no interior do Pará surgirá em Belém, mas com um alto custo de transição, porque as comunidades são distantes. "Quando a atividade econômica vai embora, cria-se um cinturão de pobreza, contaminando o próprio ambiente."

    NOVA DISCUSSÃO

    Segundo a ex-senadora e ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva (Rede-AC), que estava na plateia do evento, para cessar completamente o desmatamento são necessários incentivos e assistência técnica para pequenos produtores. "Precisamos de regras que sejam perenes, que não fiquem mudando ao sabor dos ventos das fragilidades políticas e eleitorais."

    Fernando Sampaio, diretor-executivo do projeto PCI (Produzir, Conservar e Incluir), do governo do Estado de Mato Grosso, que também compareceu ao debate, considera que o estudo precisa ser aprofundado pelos municípios interessados.

    "Há cidades que enxergam a abertura de áreas para a agropecuária como a única oportunidade de desenvolvimento e ninguém oferece uma alternativa econômica que gere renda com a floresta de pé."

    debate desmatamento zero

    Para Sérgio Leitão, diretor-executivo do Instituto Escolhas, o estudo fornece material que pode dar início a essa discussão.

    "Ele foi feito para conversar com o produtor rural, com quem toma a decisão de fazer o desmatamento pela necessidade da sua atividade econômica", declarou.

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