• Mercado

    Monday, 06-May-2024 15:56:34 -03

    Governo quer R$ 10,7 bilhões com nova cobrança sobre fundos

    FLAVIA LIMA
    DE SÃO PAULO

    02/11/2017 02h00

    Em um esforço para ajudar a fechar as suas contas no próximo ano, o governo vai mudar a tributação de fundos de investimento voltados para a alta renda.

    O objetivo é arrecadar R$ 10,7 bilhões em 2018 –algo próximo do que o governo pretendia obter com o Refis, o programa de refinanciamento de dívida, antes de ser desfigurado pelo Congresso.

    O efeito da medida sobre o setor de fundos também não é desprezível: só entre fundos fechados, a medida vai atingir cerca de 420 carteiras, que reúnem patrimônio ao redor de R$ 22 bilhões, segundo levantamento feito pelo consultor independente Marcelo D'Agosto.

    A partir do próximo ano, a nova regra atinge dois grupos. Os fundos fechados, que não admitem resgate e geralmente são criados para receber investimentos de indivíduos de alta renda; e os fundos que investem em ações de empresas que não estão listadas em Bolsa, chamados de fundos de participação.

    Essa é uma primeira iniciativa da União de mudar a cobrança sobre ganhos do topo da pirâmide. Os dois grupos pagavam o Imposto de Renda apenas no resgate da aplicação, o que representava uma vantagem sobre os fundos comuns.

    Com a mudança, eles vão passar a antecipar o recolhimento do imposto duas vezes por ano, o que acaba "comendo" uma parte do rendimento que, de outra forma, continuaria se acumulando.

    Essa antecipação é chamada de "come-cotas".

    Segundo D'Agosto, parece justo que esses investidores, cuja aplicação média fica entre R$ 10 milhões e R$ 20 milhões, sejam tributados desde o início da aplicação.

    Para Bernard Appy, diretor do CCiF (Centro de Cidadania Fiscal), o ideal é que o come-cotas não existisse, já que ele incide sobre a fase de acumulação do fundo. Mas a partir do momento que existe para o investidor de menor porte é melhor que exista também para o maior, diz ele.

    Advogados preveem uma enxurrada de questionamentos jurídicos até 2018, quando a regra entra em vigor.

    O ponto mais polêmico é a decisão de cobrar o come-cotas também sobre o rendimento passado do fundo, ou seja, sobre o estoque acumulado pelos fundos fechados.

    "A cobrança retroativa é questionável e dará margem a muita discussão", diz Hermano Barbosa, sócio do escritório BMA Advogados.

    Segundo ele, seria mais justo com os contribuintes que as mudanças valessem apenas para os fundos criados a partir da MP.

    José Roberto Afonso, pesquisador do Ibre (Instituto Brasileiro de Economia) e professor do IDP (Instituto Brasiliense de Direito Público), diz que é preciso atenção para que a tentativa de antecipar a cobrança não empurre investidores para outras aplicações isentas, inclusive as realizadas no exterior, as quais os brasileiros muito ricos têm acesso facilitado.

    Sergio Gobetti, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada), diz que a medida é boa, mas tímida. "Há um potencial de receita no curto prazo porque a regra incide sobre o estoque de rendimento." Por isso, diz ele, a arrecadação prevista para 2018 não deve se repetir.

    -

    O QUE MUDA?

    Governo altera tributação de fundos

    Fundo fechado

    É um fundo de investimento que não admite resgate de cotas

    Como era

    O imposto era pago uma única vez, no resgate, de acordo com os ganhos obtidos na valorização da carteira

    Como ficou

    Eles passarão a pagar o "come-cotas", um imposto semestral, de acordo com o rendimento obtido no período, em maio e setembro

    Fundo de participação

    Investe em ações de companhias não negociadas em Bolsa (private equity)

    Como era
    Quando um fundo vendia um investimento, ele não era tributado. O imposto era cobrado do cotista só quando ele recebia o rendimento

    Como ficou
    A tributação ocorre após a venda do investimento, mesmo que não haja distribuição do valor recebido para os cotistas

    R$ 10,7 bilhões

    É quanto o governo espera arrecadar em 2018 com a mudança

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024