Escrito para contar a história da Renner e o trajeto de José Galló, seu presidente, o livro "O Poder do Encantamento" é pródigo em detalhes. Esbanja minúcias que afastam o leitor objetivo, como o nome do bairro onde o executivo nasceu, em Caxias do Sul, na Serra Gaúcha, em 1951.

Em 254 páginas, os primórdios do espírito de liderança do homem que transformou a Renner em um gigante do varejo aparecem em uma pouco surpreendente experiência como representante de classe na época em que o autor cursava o ginásio.

Para ele, o segredo foi "apostar tanto em um plano de gestão com boas propostas como na propaganda".

Antes de começar a revelar as verdadeiras causas que levaram ao sucesso da empresa, Galló investe em pormenores como o esforço que fazia para ver a namorada na época em que se mudou para São Paulo para estudar na FGV.

"Quando havia feriado, pegava um ônibus comum, da Viação Minuano, que saía às quintas-feiras, às 14h (...) e chegava a Caxias às 7h do dia seguinte. Seguia de carro para Farroupilha. Namorava sexta e sábado, domingo de tarde pegava o ônibus de volta, chegando segunda de madrugada em São Paulo", diz.

A prolixidade do autor passa a engrandecer a obra quando ele entra em momentos históricos, como a ocasião em que a empresa abriu capital em 1967, bem antes da chegada de Galló, num tempo em que a Bolsa brasileira ainda nem estava escriturada.

São valiosas as passagens em que o empresário dá sua perspectiva sobre o Brasil do milagre econômico até o choque do petróleo em 1973.

É interessante lembrar que, no segmento de roupas em que a Renner atuava, a prática era licenciar marcas estrangeiras que não tinham canais de vendas próprios. Foi assim que entraram no Brasil nomes como Pierre Cardin e Gucci, assinando ternos e jeans fabricados aqui.

A aula de história de Galló segue situando os negócios da antiga Renner no contexto dos anos 80 da década perdida. Com a economia interna deprimida, era preciso se reposicionar no varejo, medida que a empresa não tomou.

"A loja passou a ser percebida como cara pelos consumidores cujo poder de compra havia diminuído", conta.

Perdida, a varejista decidiu vender até potes de mel, no desespero de salvar o faturamento, "uma completa descaracterização de uma empresa com passado de posicionamento de loja top", escreve.

O ponto de inflexão chega quando, no início dos anos 1990, Galló entra na Renner para criar um planejamento estratégico de três meses para a companhia.

A profusão do autor continua na defesa de que a empresa em desequilíbrio necessitava trabalhar os quatro pilares do marketing propostos pelo guru americano Philip Kotler: produto, preço, promoção e distribuição.

O excesso descritivo faz do livro de Galló um relato sincero, especialmente no momento em que o executivo assume a vaga de diretor-superintendente da Lojas Renner, em 1991, com poderes para gerir a empresa e fazer o que fosse preciso para salvá-la, deixando Cristiano Renner, membro da família controladora, no posto de presidente.

"Se havia alguma possibilidade de conflito entre as posições de presidente, exercida por um membro da família Renner, e de diretor-superintendente, assumida por mim, bastou uma conversa franca", diz o autor, antes de introduzir um novo capítulo na historia da Renner.

"Ele cuidaria da representação externa da empresa, enquanto a mim caberia gerir os negócios", lembra o executivo, que considerou o desprendimento de Cristiano um sinal de que a empresa familiar estava pronta para se profissionalizar.

O Poder do Encantamento
QUANTO: R$ 44,90 (254 PÁGS.)
AUTOR: JOSÉ GALLÓ
EDITORA: PLANETA