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    Bolsonaro tenta se livrar da imagem de 'militar estatizante'

    BRUNO BOGHOSSIAN
    DE BRASÍLIA

    12/11/2017 02h00

    Ao buscar a consolidação de uma agenda econômica que sirva de base para uma candidatura competitiva ao Palácio do Planalto, Jair Bolsonaro (PSC-RJ) reforçou visões consonantes com o receituário liberal, defendido pelos principais atores do mercado financeiro.

    O deputado faz reuniões periódicas com economistas que defendem essas posições, mas manteve em seu discurso algumas ideias alinhadas à proteção estatal na economia.

    Bolsonaro costuma colocar em primeiro plano sua defesa da autonomia do Banco Central –em que os dirigentes da instituição teriam mandato definido– para evitar interferências políticas a cada troca de governo.

    Em conversa com a Folha na última terça-feira (7), ele acrescentou que a cúpula do órgão deve estar submetida a metas. Caso a inflação e os juros fujam às previsões estipuladas pelo banco, os diretores poderiam ser demitidos.

    "A economia não é uma ciência exata, como a matemática, mas é claro que a equipe precisa ser capaz de se antecipar aos fatos e aos problemas futuros", disse.

    Nas privatizações, que defende com vigor, faz a ressalva de que setores estratégicos devem ser protegidos.

    Em áreas como energia e defesa, propõe que o governo mantenha ações das empresas, com poderes especiais —a chamada "golden share". Sugere, também, que haja pulverização de ações na venda a atores privados.
    Investidores.

    Bolsonaro adota um tom liberal também na busca por investidores estrangeiros, mas pede cautela com a escolha dos parceiros em áreas como a mineração, que há anos ele trata com especial atenção. Tem uma cautela particular com o avanço da China e seu modelo de crescimento.

    "Com a China, você não faz privatização, é estatização", afirma, rindo.

    Para tentar se afastar da imagem de "militar estatizante", termo que ele mesmo tem empregado ao falar de visões ultrapassadas para a economia, defende a extinção de algumas estatais, que chama de cabides de emprego, um visão contrária a adotada durante o regime militar de 1964-1985. Costuma dizer que, na época, a única alternativa para grandes projetos, como a hidrelétrica de Itaipu, era o investimento estatal.

    O deputado planeja uma nova viagem ao exterior em fevereiro do ano que vem, para conversar com investidores de Espanha, Itália, Coreia e Japão. No mês seguinte, quer estrear sua pré-campanha com um novo giro pelos Estados Unidos.

    Pouco antes da viagem anterior à América do Norte, no início de outubro, reafirmou que sua visão da economia é liberal. "Estou indo para os EUA, não para a Coreia do Norte", disse na época.

    Bolsonaro se encontra semanalmente com o economista Adolfo Sachsida, a quem trata como conselheiro. Diz concordar com suas visões, mas pondera: "Ele sabe que eu não rezo 100% pela cartilha dele".

    Além dele, o deputado afirma que ouve com frequência outros dois estudiosos da área, mas se recusou a citar seus nomes, alegando que eles pediram para ficar no anonimato.

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