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    Proposta da Fazenda eleva imposto e tira vantagem do carro popular

    RAQUEL LANDIM
    DE SÃO PAULO
    MARIANA CARNEIRO
    JULIO WIZIACK
    DE BRASÍLIA

    18/11/2017 02h00

    Nacho Doce - 13.ago.2013/Reuters
    Trabalhadores na produção de automóveis da montadora Ford, em São Bernardo do Campo (SP). O Governo pode elevar a quantidade exigida de auto-peças brasileiras em um véiculo para que as montadoras recebam os incentivos fiscais previstos no regime automotivo. *** Brazilian workers polish Ford cars on a assembly line at Sao Bernardo do Campo Ford plant, near Sao Paulo August 13, 2013. The pace of vehicle production in Brazil slipped in July to the lowest daily rate in five months as factories, facing sagging consumer confidence, scaled back output, industry data showed on August, 6. Anfavea, the national automakers association, said automobile production in Brazil fell 2.7 percent from June, even though July had three additional work days. Factories produced about 13,600 cars a day, the lowest rate since February. REUTERS/Nacho Doce (BRAZIL - Tags: TRANSPORT BUSINESS EMPLOYMENT)
    Trabalhadores na produção de automóveis em São Bernardo do Campo (SP)

    O Ministério da Fazenda apresentou uma nova proposta para o regime do setor automotivo, chamado de Rota 2030, que, na prática, eleva o imposto cobra sobre os carros populares dos atuais 7% para 10% a 15%.

    A proposta permitiria ao governo brasileiro lançar um novo programa de estímulo à indústria automotiva sem comprometer as negociações para um acordo de livre-comércio entre o Mercosul e a União Europeia.

    Integrantes do governo que participam das negociações afirmam que a ideia apresentada pela Fazenda na semana passada eleva para 25% a alíquota de IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) cobrado de todos os veículos –nacionais ou importados– e concede descontos que ficariam entre 10 e 15 pontos percentuais de acordo com uma combinação de três fatores: eficiência energética, segurança veicular e emissão de poluentes.

    Dessa maneira, o governo colocaria fim à diferença por cilindradas do IPI de veículos nacionais, que hoje varia de 7% (carro 1.0) a 25% (carro 2.0 a gasolina).

    Além desse imposto, os veículos importados pagam hoje um adicional de até 30 pontos porcentuais de IPI devido à atual política industrial, que estimula a produção local.

    O objetivo da Fazenda é eliminar o tratamento diferenciado dado a veículos produzidos no Brasil e aos carros importados, que levou o Inovar-Auto, atual programa de estímulo às montadoras, a ser condenado pela OMC (Organização Mundial do Comércio). O programa vence no final deste ano e o setor negocia uma nova versão, chamada de Rota 2030.

    O governo do presidente Michel Temer teme que essa situação comprometa a negociação do Mercosul com a União Europeia. Os europeus fizeram as reclamações na OMC contra os incentivos dados pelo Brasil às montadoras.

    DIVERGÊNCIA

    O Ministério do Desenvolvimento não concorda com a proposta da Fazenda e apresentou uma outra alternativa. As alíquotas base do IPI seriam mantidas entre 7% e 25%, conforme a cilindrada. Também seria aplicada uma taxa extra de 10 a 15 pontos porcentuais, que poderia ser reduzida ou até zerada se o veículo atender as exigências de segurança veicular, eficiência energética e a montadora investir em pesquisa e desenvolvimento.

    Para os técnicos do Desenvolvimento, sua proposta já significaria uma redução na proteção do setor contra os veículos importados. Eles defendem ainda que o IPI deve ser menor para o carro popular, que é considerado um "bem essencial". As montadoras também pressionam contra a proposta da Fazenda, argumentando que não há espaço para aumento de carga tributária enquanto ainda operam com cerca de 50% de capacidade ociosa.

    Desenvolvimento e Fazenda concordam, no entanto, que o novo programa precisa abolir incentivos para a instalação de fábricas, ampliação de produção ou contratação de pessoal. A versão inicial do Rota 2030 previa a concessão de benefícios tributários para as montadoras que ampliassem fábricas no país e atingissem metas de capacitação de fornecedores.

    Com a mudança, técnicos no governo estimam que a participação de importados no mercado brasileiro suba de 10% para 20%.

    As estimativas da Fazenda é que os descontos do IPI gerarão uma renúncia fiscal de R$ 1,5 bilhão por ano no Rota 2030, patamar semelhante ao do Inovar-Auto. Dessa maneira, os incentivos tributários para o setor automotivo permaneceriam. O programa consumiu até agora pouco mais de R$ 6,5 bilhões, segundo a Receita Federal.

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    Entenda

    O QUE É O INOVAR-AUTO, que expira em dezembro

    >Prevê 30 pontos percentuais adicionais no IPI para as montadoras que não cumprirem com metas de conteúdo nacional e etapas de produção dentro do Brasil

    >No caso de veículos importados, o programa sempre prevê uma sobretaxa de IPI de 30 pontos, prática que foi condenada na OMC (Organização Mundial do Comércio)

    >As alíquotas de IPI variam de acordo com o tamanho do motor do veículo; se estuda que no Rota 2030 essa variação seja de acordo com a eficiência energética

    Fontes: Mdic (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior) e Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores)

    O QUE É O ROTA 2030

    Nova proposta de política industrial para o setor automotivo estabelece metas de eficiência energética e segurança e menor emissão que, se atingidas, geram desconto no IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados)

    Como funciona

    O IPI seria de 25% para todos os veículos, nacionais ou estrangeiros. As montadoras que cumprirem metas de eficiência energética e segurança veicular, por exemplo, poderão ter descontos nesse imposto

    Itens que gerariam descontos no IPI

    >Eficiência energética

    >Segurança veicular

    >Etiquetagem veicular do Inmetro

    Tempo de vigência

    Entre 5 e 15 anos, ainda está em discussão

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