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    Tecnologia ajuda cegos em compras on-line

    FILIPE OLIVEIRA
    DE SÃO PAULO

    19/11/2017 02h00

    Adriano Vizoni/Folhapress
    Eduardo Dotto Martucci, que criou a Voice Commerce
    Eduardo Dotto Martucci, que criou a Voice Commerce

    A distância entre uma pessoa com deficiência visual e o carrinho de compras de uma loja virtual costuma ser maior do que poucos cliques.

    O desafio está no grande volume de informações que as varejistas disponibilizam em seus sites, o que pode fazer a busca por um produto específico por quem não enxerga demorada e cansativa.

    Quem tem limitações visuais severas usa sistemas que leem, a partir de uma voz computadorizada, as informações da tela. Esses programas dão as informações seguindo a ordem na qual estão apresentadas no monitor, da esquerda para direita e de cima para baixo, conforme a pessoa aciona diferentes comandos no teclado.

    Novas empresas querem mudar o cenário usando inteligência artificial e reconhecimento de voz para tornar a compra on-line parecida como pedir algo pelo telefone.

    A Voice Commerce, criada em maratona de 24 horas de programação promovida pela Serasa em maio, desenvolveu sistema que, acoplado a lojas virtuais, cria botão para iniciar o serviço de compra usando a voz.

    A partir daí, o usuário pode seguir de três maneiras: escolher entre departamentos e ouvir o que existe neles; descrever especificações do produto que quer e ouvir as opções que se encaixam ou pedir diretamente o produto desejado, diz Eduardo Dotto Martucci, 36, sócio da companhia.

    É possível ativar a opção tanto no desktop como em celulares ou tablets.

    Durante a maratona da Serasa, os participantes entrevistaram uma pessoa cega, uma com baixa visão e outra que não enxergava com um dos olhos para entender suas dificuldades diárias e pensar produtos para elas.
    A companhia venceu o concurso.

    Martucci diz que o serviço da Voice Commerce permite, de um lado, ampliar o mercado para varejistas adicionando um público que não é atendido adequadamente e, de outro, aumentar a independência de pessoas com deficiência.

    "Nas entrevistas, vimos que, em muitas das compras feitas por um cego, ele precisa ser acompanhado por alguém. O uso da voz permite que se aumentem as opções de compra e o acesso a informações."

    Ele espera que os primeiros sites comecem a implantar sua tecnologia a partir de dezembro. A empresa tem apoio da Sevna, aceleradora de empresas localizada no parque tecnológico Supera Parque, em Ribeirão Preto (SP).

    NO APP

    Outro serviço, o James Delivery, quer que a voz sirva para pedir qualquer coisa, a partir de um aplicativo para celular.

    A empresa, que funciona há um ano e meio e está presente em Curitiba, São Paulo e Balneário Camboriú (SC), conta com rede de 400 entregadores autônomos que compram e entregam o que o cliente pedir.

    No dia 16, a empresa lançou a opção de fazer o pedido apenas pela voz, de modo parecido com a gravação de uma mensagem no WhatsApp.

    O cliente diz que tipo de loja quer encontrar, depois o produto que precisa. A partir das informações, o sistema reconhece o pedido e já é possível fechar a compra.

    Caso o programa não reconheça a solicitação automaticamente, o áudio com o pedido é ouvido por funcionário da empresa. Lucas Ceschin, 28, cofundador da empresa, diz acreditar que isso só será necessário em cerca de 2% dos casos.

    "Vimos que em um pedido normal pelo app se levaria um ou dois minutos. Com a voz, pode ser feito em dez segundos. Quando percebemos isso, notamos que poderíamos beneficiar ainda mais o mercado de pessoas que têm alguma dificuldade."

    Por outro lado, Ceschin admite que faltam ajustes para tornar o app totalmente acessível. Provavelmente quem tem dificuldade visual precisará de ajuda para cadastrar seu cartão de crédito e endereço na primeira vez que usar o serviço, mas, depois, as informações ficarão sempre disponíveis, explica.

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    COMANDOS
    Entenda como pessoas com deficiência visual usam a internet

    No computador

    >> Software lê ícones e textos selecionados

    >> Setas para baixo e para cima permitem ler diferentes linhas. As que apontam para esquerda e direita, letras

    >> Na internet, a tecla "tab" permite pular de um link para outro

    >> Atalhos de teclado são usados para navegação entre janelas ou fechar programas, por exemplo

    No celular (considerando comandos usados no iPhone)

    >> Recursos de acessibilidade que já vêm instalados habilitam navegação com apoio de voz sintetizada

    >> Um toque simples na tela faz o celular ler a informação que está no local

    >> O arrastar rápido dos dedos para os lados faz o aparelho ler a informação anterior ou a seguinte

    >> Para clicar em algo, é necessário dar dois toques rápidos na tela

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