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    Previdência

    Investidor teme futuro da Nova Previdência

    ALEXA SALOMÃO
    EDITORA DE "MERCADO"
    FLAVIA LIMA
    RAQUEL LANDIM
    DE SÃO PAULO

    30/11/2017 02h00

    Economistas e analistas do mercado financeiro voaram para Brasília nesta semana para sentir melhor o pulso de congressistas em relação à reforma da Previdência. Não gostaram do que encontraram: parlamentares indispostos a aprovar a matéria e o racha no PSDB aumentando.

    O resultado apareceu nesta quarta-feira (29) nos indicadores mais voláteis. A Bolsa caiu; o dólar subiu. O feedback é mais pessimista do que o esperado, disse um analista que prefere manter o nome no anonimato.

    Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central e sócio da Gávea Investimentos, vê com apreensão o clima de indefinição que está se instalando em torno do tema. "Ainda que parcial, essa reforma é de importância capital", disse à Folha.

    A piora no estado de ânimo dos investidores já vinha se refletindo no indicadores, afirma Zeina Latif, economista-chefe da XP, e se intensificou nesta semana. "Os indicadores já vinham mais sensíveis e reagiam negativamente a qualquer mudança externa, mas a instabilidade aumentou com a crise no PSDB, a dificuldade de aprovar a reforma e a crescente percepção de que partidos de centro ainda não têm um nome forte para a eleição em 2018."

    FRUSTRAÇÃO

    No geral, explicou outro analista que também não quer ter o nome revelado, as declarações recentes de parlamentares influentes, como Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara, inflaram as apostas de que a primeira votação da reforma da Previdência, ainda que desidratada, sairia até 6 de dezembro.

    Agora, a percepção é que caíram as chances de sair até mesmo na semana seguinte. Passado esse prazo, o ano acaba e a possibilidade de aprovação míngua ainda mais em 2018.

    No momento, as conversas em Brasília deixam claro que a contagem de votos é insuficiente e que o governo estaria longe dos 308 votos necessários para a aprovação de uma PEC (Proposta de Emenda Constitucional) para alterar as regras previdenciárias.

    A disposição de uma parte do PSDB de pressionar por uma versão ainda mais desidratada do texto também ajudou a piorar o cenário.

    Para um integrante da alta direção de um banco brasileiro, o PSDB está fazendo uma "enorme trapalhada", já que as contas públicas do país não fecham sem a reforma da Previdência. Mas ele também acredita que o mercado está se dando conta, aos poucos, da complexidade do tema e que pode não ser possível aprovar a reforma.

    O executivo afirmou ainda que, se os caciques do PSDB não se entenderem, o Brasil correrá o risco de viver uma nova crise, com queda na Bolsa e de outros ativos.

    Outro economista ligado a uma importante consultoria ouvido pela reportagem argumenta que ninguém "jogou a toalha" ainda, mas que a visível ânsia dos políticos de centro de utilizar a reforma como barganha está tumultuando. Na sua avaliação, há um grupo de "aloprados" no PSDB emitindo posições que não são consensuais. Diz ainda que, conhecendo a história do partido, considera que o PSDB vai apoiar a reforma mesmo fora do governo.

    O discurso de alguns integrantes, de fato, vai nessa direção. O prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), participou nesta quarta-feira (29) de um encontro com banqueiros na cidade.

    De acordo com executivo de um grande banco estrangeiro presente na reunião, Doria foi questionado sobre o apoio do PSDB à reforma da Previdência e respondeu enfaticamente que o partido não vai abandoná-la.

    BOLSA E DÓLAR

    As incertezas, porém, deixaram os investidores mais cautelosos. Houve queda de 1,9% da Bolsa nesta quarta-feira. O dólar comercial subiu 0,93%, para R$ 3,240. O CDS (espécie de seguro contra calote) do país teve a primeira alta em dez sessões.

    Analistas dizem que a recuperação mais acentuada da economia americana e o movimento de investidores aproveitando a instabilidade para ter ganhos contribuíram, mas o fator mais importante foi a indefinição sobre a reforma da Previdência.

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