• Mercado

    Sunday, 28-Apr-2024 23:52:26 -03

    Funcionalismo acentua desigualdade de renda entre os Estados, diz estudo

    FLAVIA LIMA
    DE SÃO PAULO

    03/12/2017 02h00

    Ueslei Marcelino/Reuters
    Esplanada dos Ministérios antes do nascer do sol em Brasília
    Esplanada dos Ministérios antes do nascer do sol em Brasília

    A desigualdade entre Estados fica evidente quando se olha para as classes médias.

    Os brasileiros mais ricos são ricos em qualquer lugar do país, e o mesmo vale para os mais pobres. Mas fazer parte da classe média trabalhadora pode jogar o indivíduo para o grupo dos mais pobres do Brasil, se ele estiver em Alagoas, ou colocá-lo entre os mais ricos caso ele esteja no Distrito Federal.

    Há várias razões a explicar a disparidade, mas os salários no serviço público são determinantes, aponta estudo divulgado pelo FMI (Fundo Monetário Internacional).

    Conduzido pelos economistas Carlos Góes e Izabela Karpowicz, o texto "Desigualdade no Brasil, uma Perspectiva Regional" não reflete a posição do Fundo.

    Nos últimos anos, essa variação de renda entre as classes médias das diferentes regiões caiu. Mas, embora tenha ficado mais próximo ser da classe média em São Paulo ou no Maranhão, a assimetria persiste, bastante marcada pelos salários da elite do funcionalismo.

    Entre 2004 e 2015, os salários do setor privado subiram, em média, 20%, já descontada a inflação. No setor público, a alta superou 40%.

    Não fosse o avanço dos salários desse grupo, é possível dizer que o declínio na desigualdade regional teria sido maior no período analisado.

    Não por acaso, o Distrito Federal tem renda média quase 20% acima da nacional -além de ser a unidade mais desigual do país.

    Editoria de Arte/Folhapress

    Para Góes, é curioso que em toda eleição se busque contrapor de forma simplista o Nordeste com São Paulo. A realidade do país é bem mais complexa, diz.

    "O Brasil é um país com uma Bélgica e uma Índia em todos os Estados. Já as classes médias estaduais divergem muito e há uma ilha da fantasia nos bairros ricos do Planalto Central", diz ele ao se referir ao termo "Belíndia", criado pelo economista Edmar Bacha na década de 1970.

    Para Karpowicz, seria bom para a redução da disparidade equiparar as regras previdenciárias do setor privado e do funcionalismo.

    O estudo inova ao comparar a desigualdade entre os Estados. Com base na Pnad (pesquisa do IBGE), o cotejo só é possível porque é ajustado pelo custo de vida.

    Quanto mais rico, mais caro o Estado, como visto na comparação do poder de compra de R$ 100 por região.

    Karpowicz faz parte da missão do FMI para o Brasil. Góes deixou o FMI em abril e está na SAE (Secretaria de Assuntos Estratégicos). De acordo com ela, o Fundo deve incluir salário de servidores em estudo futuro.

    -

    Ensino Superior

    O economista Carlos Góes diz que sugerir mudanças no ensino superior gratuito quando ele parece estar se tornando mais democrático é um "falso dilema". Ele se diz a favor de bolsa integral aos muito pobres.

    Folha - Todo o servidor público contribui para um quadro de mais desigualdade?
    Carlos Góes - Existe uma diferença importante entre federais, estaduais e municipais. Trabalho de Naercio Menezes, do Insper, mostra que um servidor federal ganha quase o dobro que um trabalhador similar do setor privado. No nível municipal, essa diferença não existe. Isso é coerente com nossa análise de o Distrito Federal se descolar do resto no país e ter elite grande.

    Como vê a sugestão do Banco Mundial de mudanças na universidade gratuita?
    Hoje, metade dos jovens das famílias que estão entre as 20% mais pobres nem sequer termina o ensino médio. Seria melhor dar bolsa integral para os pouco muito pobres que chegam à universidade pública e subir a contribuição da família à medida que sua renda cresce.

    Justo agora que o ensino superior público parece mais democrático?
    É um falso dilema. É possível condicionar a contribuição da família à renda. Na Califórnia se faz isso.

    Vamos resolver o fiscal sem retrocesso no social?
    É importante que o ajuste preserve o que beneficia os pobres, combinado com uma revisão do sistema tributário para torná-lo mais progressivo.

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024