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    'Infoproletários' defendem causa operária na tecnologia

    NATÁLIA PORTINARI
    DE SÃO PAULO

    04/12/2017 02h00

    Eduardo Anizelli/Folhapress
    O programador Raphael Coelho, membro do Infoproletários, em imagem de dupla exposição, com o símbolo do comunismo que está estampado na camiseta
    O programador Raphael Coelho, membro do Infoproletários, em imagem de dupla exposição, com o símbolo do comunismo que está estampado na camiseta

    "No Brasil, o trabalhador de tecnologia está sempre endividado, no cheque especial, e acha que está prestes a virar o Mark Zuckerberg."

    A afirmação é de Raphael Coelho, 27, programador e membro do Infoproletários, movimento criado em janeiro para defender demandas de trabalhadores de TI sem depender dos sindicatos, pelos quais não se sentem representados.

    "Nossa maior demanda são condições melhores de trabalho e reduzir a jornada para seis horas. Problemas de saúde mental, como depressão, são comuns na profissão."

    Seu grupo se define como de esquerda e revolucionário e abriga militantes de partidos, anarquistas ou apenas "interessados na melhoria das condições de vida da categoria", segundo Coelho.

    O grupo tem inspiração internacional. Na Califórnia, em 2016, nasceu a Tech Workers Coalition (Coalização de Trabalhadores de Tecnologia), que discute se o programador é de fato proletário.

    A média salarial de um engenheiro de software no Vale do Silício é mais de R$ 32 mil mensais, segundo a consultoria Hired.

    ESTRATOS DA TI - Remuneração média do profissional de tecnologia, por função, em 2017 (em R$)

    "Existe uma raiva justificada de quem trabalha com tecnologia", diz David Judd, da Tech Workers Coalition. "Muitos deles não se veem como trabalhadores, então como podemos culpar os outros por não acreditarem que compartilhamos os interesses da classe operária?"

    No Brasil, o cenário é menos glamouroso. O salário médio dos trabalhadores de TI é de R$ 6.901, diz o sindicato da categoria (Sindpd). A média esconde a desigualdade entre um diretor, que ganha R$ 16,7 mil, e um técnico, que ganha R$ 1.729, além de não incluir os informais.

    "Quantos meses você consegue sobreviver se parar de receber salário? Se der para contar nos dedos, você é proletário", diz Raphael Coelho, que é filiado ao PCB (Partido Comunista Brasileiro).

    O presidente do Sindpd, Antonio Neto, estima que até 20% dos trabalhadores da área estejam na informalidade, contratados como pessoas jurídicas. Para Coelho, a estimativa é baixa. "O grosso das empresas contrata como pessoa jurídica. Somos um balão de ensaio da inovação dos patrões. Tudo o que a reforma trabalhista prevê, terceirização, intermitente, já fazem com a gente há anos."

    Como a profissão não é regulamentada, também não são incluídos na estatística os que trabalham com tecnologia em empresas de serviços e comércio.

    O Infoproletários tem 40 membros ativos em São Paulo e outros esparsos no Rio, no Recife, em Florianópolis e em Porto Alegre. A ideia é se unir para fazer greves e manifestações, quando o movimento crescer.

    Enquanto isso, eles fazem um encontro mensal presencial e outro à distância. "Para nós, trabalho remoto é parte da rotina", diz Coelho.

    "As classes dominantes apresentam os avanços da tecnologia como um mérito da burguesia inovadora", diz. "Não podemos nos maravilhar com a tecnologia e esquecer que ela é feita pelas pessoas."

    O discurso é parecido no Vale do Silício. "Trabalhamos horas exaustivas, com a desculpa de que estamos 'mudando o mundo'. Queremos que a tecnologia seja um instrumento do povo, não uma arma contra ele", diz Judd, da Tech Workers Coalition.

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