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    Economista Regis Bonelli morre aos 75 anos

    ÉRICA FRAGA
    DE SÃO PAULO
    ALEXA SALOMÃO
    EDITORA DE "MERCADO"

    13/12/2017 12h52 - Atualizado às 00h43

    Leo Pinheiro/Valor/Folhapress
    O economista Regis Bonelli
    O economista Regis Bonelli

    Um dos pesquisadores que mais contribuíram para o estudo sobre os fatores que limitam o crescimento brasileiro, o economista Regis Bonelli, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV) e do Instituto de Estudos de Política Econômica (Iepe), morreu nesta quarta-feira, no Rio de Janeiro, aos 75 anos, vítima de câncer.

    O economista Edmar Bacha, um dos pais do Plano Real, é enfático ao contar que ao longo de uma carreira profícua Bonelli se tornou o maior estudioso da indústria e da produtividade brasileira, com um dedicação metódica rara.

    "Regis era o antiachismo. Tudo o que ele pesquisava tinha de ser demonstrado com precisão e, muitas vezes, redemonstrado", diz Bacha.

    Um dos exemplos dessa peculiar habilidade para as minúcias, diz Bacha, está no fato de Bonelli ter sido responsável por dar continuidade às séries históricas do PIB (Produto Interno Bruto).

    "A cada mudança de metodologia nas séries de crescimento, e foram incontáveis essas mudanças, ele criava métodos para ligar a anterior à seguinte: o Brasil deve a Regis a existência de séries comparáveis do PIB", diz.

    Bonelli passou pelas diretorias do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).

    Participou da criação e atuava como secretário do Codace (Comitê de Datação de Ciclos Econômicos), grupo reunido na FGV que marca o início e o fim de períodos de expansão e queda da atividade no país. Doutor em economia pela Universidade de Berkeley, na Califórnia, também foi membro do conselho de administração do BNDES e do CNPq (Conselho Nacional de Pesquisas).

    Bacha tinha 25 anos quando conheceu Regis na casa de colegas em comum, no Rio, no final do anos 1960. Ao seu lado estava Pedro Malan, que viria a ser ministro da Fazenda nos anos 1990. Malan e Bonelli tiveram uma longa trajetória de amizade e colaboração profissional. Os dois se conheceram na graduação em engenharia na PUC-Rio. Depois cursaram economia juntos na mesma instituição.

    Ambos estavam no grupo de jovens talentos que participou da criação o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). De lá, seguiram para o doutorado em economia na Universidade de Berkeley, na Califórnia. Escreveram "Os Limites do Possível", livro que virou referência e criticou a política econômica da época que levou à crise da dívida nos anos 1980.

    Segundo Samuel Pessôa, colega de Bonelli na FGV, o economista foi um dos primeiros a perceber que o ciclo de forte crescimento do Brasil durante a ditadura militar era insustentável. Recentemente, identificou semelhantes entre aquele modelo e o adotado por Dilma Rousseff.

    Procurado pela Folha, Malan enviou uma homenagem que escreveu quando o amigo completou 70 anos, na qual ressaltava que "em uma época de tantas paixões, motivadas por discussões de natureza política e ideológica, Bonelli foi capaz de conduzir seus trabalhos de pesquisa de uma maneira sóbria, não-apaixonada".

    Por e-mail, completou: "Quiseram os desígnios do destino que acabasse sendo apenas mais meia década de intensa atividade. Regis fará muita falta à sua legião de amigos e admiradores".

    Até os mais próximos tiveram pouco tempo para se despedir. Apesar de ser conhecido pelo espírito agregador, "um homem de time", como define o presidente do Ibre, Luiz Guilherme Schymura, Bonelli preferiu ser reservado. Recebeu o diagnóstico de câncer no começo do ano, mas só em setembro, quando começou a se sentir cansado e se afastou do trabalho, a doença veio a público.

    "Ele criou os seminários sobre conjuntura do Ibre e cuidava pessoalmente de todos. Seus olhos brilhavam ao falar deles. Quando avisou que não estaria presente no último, que como sempre ele havia preparado, estranhamos", diz Schymura.

    A economista Silvia Mattos, que trabalhava diretamente como Bonelli na produção do Boletim Macro do Ibre, tem uma definição para o clima na instituição: "Ficamos carentes".

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