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    Previdência

    Votação da nova Previdência fica para 2019, avalia mercado

    DANIELLE BRANT
    FLAVIA LIMA
    DE SÃO PAULO

    14/12/2017 02h00

    Foi uma uma vitória do atraso. Assim a disposição do governo de adiar a votação da reforma da Previdência para fevereiro foi resumida pelo economista Paulo Tafner, pesquisador da Fipe.

    A decisão, dizem economistas, também levantou dúvidas sobre o real poder de organização da base aliada e colocou uma pá de cal na expectativa do mercado de que algo saia do papel em 2018.

    A leitura é que o peso do ano eleitoral praticamente inviabiliza a aprovação de qualquer proposta.

    "No ano que vem vamos ter samba da imprevidência", diz Mônica de Bolle, pesquisadora do Peterson Institute, em Washington.

    "A partir de janeiro, tudo se resumirá a outubro e chegaremos lá aos trancos e barrancos", afirma ela.

    Bolle já achava difícil emplacar a reforma após o presidente Michel Temer gastar todo o seu capital político para sobreviver no cargo, mas considera que boa parte do mercado apostava numa votação ainda neste ano. É essa frustração, diz ela, que deve se refletir nos ativos.

    A notícia fez a Bolsa recuar 1,22%, para 72.914 pontos. O mercado cambial, que fecha mais cedo, não capturou a maior aversão a risco. O dólar comercial caiu 0,36%, para R$ 3,317. O à vista recuou 0,49%, para R$ 3,314.

    Surpresa, Ana Carla Abrão, da consultoria Oliver Wyman, diz que a decisão mostra que o Congresso age de acordo com a pressão de grupos de interesse.

    "Até quando o Congresso será o fiador de privilégios injustificáveis?", questiona.

    "Nosso cenário para 2018 não inclui a aprovação da reforma da Previdência, mas ela terá que ser aprovada em 2019", diz José Carlos de Faria, economista-chefe do Deutsche Bank, para quem o próximo governo vai ter que atacar a questão fiscal se quiser evitar o que chama de "cenário explosivo".

    Tafner diz que a escolha por adiar a votação é "medíocre" e evidencia a opção do governo por um crescimento econômico menor.

    A decisão, diz ele, também põe em dúvida o corte adicional de 0,25 ponto na taxa Selic esperado para fevereiro. "Não perceberam que não é mais possível que juízes se aposentem com R$ 35 mil."

    O governo reconheceu que não dá para fazer reforma, diz André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos. "Deixar para fevereiro é deixar para 2019."

    Segundo ele, os trâmites da votação são demorados, o que abriria espaço para que ela ficasse para perto de maio, quase na eleição, diz.

    "Sem a reforma, você não contamina as campanhas políticas e ninguém fica com estigma de que votou a Previdência em ano eleitoral."

    CETICISMO

    Para Ignacio Crespo, da Guide Investimentos, o mercado deve se tornar cada vez mais cético, reagindo com menos intensidade a notícias envolvendo a reforma.

    "Não descartamos a aprovação, mas não a estamos considerando no cenário-base. Só em 2019 mesmo."

    Mônica de Bolle considera também que o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, sai arranhado da história, pois prometeu e não entregou. "A imagem de ministro politicamente sagaz já não cola", afirma ela.

    Na contramão, José Roberto Afonso, pesquisador do IBRE/FGV e professor do IDP, diz que é melhor adiar a votação do que rejeitá-la. Para ele, é hora de o mercado aprender que a Previdência não é uma panaceia que vai equacionar a crise fiscal em 20 dias. "Precisamos de várias reformas", diz.

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