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    Projeto de agricultura libera verbas, mas não controla resultados

    RENATA VIEIRA
    JEFERSON BATISTA
    DA EDITORIA DE TREINAMENTO

    21/12/2017 02h00

    Gabriel Cabral/Folhapress
    Esperança Nova, PR, Brasil, 11-12-2017: Fazenda Uberaba, que aplica o método ILPF (integração lavoura-pecuária-floresta). (foto Gabriel Cabral/Folhapress
    Fazenda Uberaba, que aplica o método ILPF (Integração Lavoura Pecuária Floresta)

    Sete anos depois de criar o Programa ABC (Agricultura de Baixo Carbono), o governo federal sabe o quanto destinou ao projeto –cerca de R$ 20 bilhões–, mas desconhece o impacto direto do subsídio na redução das emissões dos gases de efeito estufa.

    Em 2015, o Ministério da Agricultura e a Embrapa lançaram uma plataforma para monitorar as emissões nos projetos financiados, mas até hoje ela não opera plenamente. Por ora, o que se tem é uma estimativa do total geral do país, sem detalhamento.

    A Embrapa Meio Ambiente, responsável pelo sistema de monitoramento, calcula que, entre 2010 e 2015, boas práticas no campo levaram o Brasil a sequestrar quase 163 milhões de toneladas de CO² (dióxido de carbono).

    A expectativa é que, a partir de 2018, a empresa possa firmar parcerias com consultorias e universidades para coletar dados precisos.

    "Não se estuda o custo-benefício das políticas públicas, e o ABC é só mais um exemplo", afirma Annelise Vendramini, especialista nessa linha de crédito e pesquisadora do centro de estudos em sustentabilidade da FGV.

    A mudança no uso da terra foi um dos principais pilares da meta brasileira na Conferência do Clima de Paris, em 2015. Desde então, as ações do país estão sob vigilância de investidores internacionais e de países como Alemanha e Noruega, que financiam a conservação de áreas de floresta.

    ACESSO DIFÍCIL

    O acesso ao crédito ainda é complicado, principalmente para o pequeno produtor. A demanda é menor no Norte e Nordeste, onde estão as novas fronteiras agrícolas.

    A burocracia é outro entrave. O ABC exige documentos não solicitados em linhas de crédito mais simples, de registros de adequação ambiental como outorgas d'água.

    Editoria de arte/Folhapress
    ENTRAVES NO CAMINHO

    "O banco não requer nada a mais do que a regulação determina", afirma Antonio José Banhara, gerente-geral de assessoramento técnico do Banco do Brasil.

    Com essas dificuldades, a demanda nunca atingiu o total de recursos oferecidos. Na safra 2016/2017, dos R$ 2,9 bilhões disponíveis, só R$ 1,8 bilhão foi contratado (63%).

    Segundo Banhara, essa diferença é explicada pelo aumento da taxa de juros do programa e pela crise financeira do país, que fez cair a demanda por crédito.

    PECUÁRIA

    O pecuarista Milton Casari, 58, de Alta Floresta (MT), usou a linha ABC para financiar a recuperação de parte dos 26 mil hectares de suas pastagens, atacada por uma doença entre 2014 e 2015.

    Até então habituado a linhas de crédito de curto prazo, o produtor pediu ajuda a uma consultoria e fez um projeto para a linha ABC, cujo prazo de pagamento é maior.

    Foram quatro meses de análise até que o banco liberasse R$ 2 milhões, amortizáveis num prazo de dez anos.

    Casari diz que o número de bois por hectare dobrou, e parte do pasto foi destinada ao plantio de soja e milho. "Sem experiência na agricultura, é difícil para o pecuarista tradicional se arriscar em crédito a tão longo prazo. Só com auxílio técnico bem direcionado, essa transformação é viável."

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