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    Brasil ainda faz muito pouco para integrar estrangeiros

    PATRÍCIA CAMPOS MELLO
    DE SÃO PAULO

    24/12/2017 02h00

    O Brasil é mais aberto a estrangeiros do que a maioria dos países, mas faz muito pouco pela integração de refugiados e imigrantes em solo brasileiro.

    Muitos estrangeiros não conseguem nem sequer abrir uma conta em banco ou alugar um quarto, que dizer de arrumar emprego com carteira assinada. Resultado: apenas 0,3% da população é estrangeira, número que chega a 14,3% nos Estados Unidos e 4,6% na Argentina.

    Segundo Letícia Carvalho, assessora da Missão Paz, organização que presta assistência a migrantes e refugiados, os problemas começam com a documentação. Os estrangeiros recebem um protocolo provisório enquanto esperam resposta para o seu pedido de refúgio, que pode demorar até dois anos.

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    Mas esse protocolo provisório não tem um formato de documento oficial e não é aceito em vários bancos e repartições públicas. Às vezes, os bancos não aceitam nem o RNE, o documento oficial dos estrangeiros.

    Alugar um apartamento ou quarto é outro pesadelo –a maioria não tem fiador nem o dinheiro para um depósito de caução. "Aquele protocolo temporário parece um xerox, a imobiliária não aceitava, pedia a carteira de trabalho, que eu não tinha", diz o congolês Jean Katumba, 39. "Tive que falar direto com o dono para convencê-lo."

    Katumba chegou ao Brasil há quatro anos, com US$ 20, após ser perseguido por denunciar irregularidades nas eleições do Congo. Foi acolhido na Missão Paz.

    BARREIRAS

    A revalidação de diplomas é outra dificuldade. Por isso, grande parte dos migrantes tem empregos abaixo de suas qualificações.

    Engenheiro civil formado pela Universidade de Kinshasa, o congolês Katumba desistiu de revalidar o diploma aqui por causa do alto custo. "O parafuso daqui é igual ao parafuso do Congo, mas eles fecham o mercado para estrangeiros." Ele não queria trabalhar com faxina ou construção, como faz grande parte dos refugiados, então abriu uma LAN house com um sócio, outro refugiado.

    A venezuelana Marifer Vargas, 35, era professora de história e geografia na Venezuela. Tentou revalidar seu diploma aqui para poder dar aulas, mas o custo para o processo era de R$ 8.000. Desistiu. Abriu um negócio de comida venezuelana orgânica com seu marido, Carlos.

    Aprender português é outra barreira. Algumas ONGs e o governo oferecem cursos, mas, segundo Letícia, não há muitos estabelecimentos e a maioria fica no centro, sendo que muitos refugiados moram em locais distantes.

    "É positivo que o Brasil ofereça vistos humanitários para pessoas atingidas pela guerra da Síria e autorização de residência para cidadãos do Mercosul, mas o estrangeiro enfrenta muita dificuldade para se regularizar no país", diz Letícia, da Missão Paz.

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