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    Produtores de suco questionam apelo comercial de laranja transgênica

    NATÁLIA PORTINARI
    DE SÃO PAULO

    24/12/2017 02h00

    Divulgação
    Soltura de minivespas em pomar de laranja em Itapetininga (SP)
    Soltura de minivespas em pomar de laranja em Itapetininga (SP)

    A laranja transgênica resistente a pragas, em fase de pesquisa científica no Estado de São Paulo, deve ter uma viabilidade comercial limitada caso seja aprovada para plantio pelo governo federal.

    Ibiapaba Netto, diretor da CitrusBR, que representa os produtores de suco, afirma que, hoje, um suco de laranja transgênica seria rejeitado.

    "É zero a possibilidade de ir para o suco, porque há mercados muito restritivos a transgênicos. Está fora de questão uma laranja transgênica para uso industrial. Vai virar fruta de mesa", afirma.

    Desenvolvida pelo IAC (Instituto Agronômico de Campinas), a variedade transgênica é resistente ao amarelinho (CVC) e ao cancro cítrico. Segundo a Fundecitrus, que reúne produtores da fruta, essas pragas afetam, respectivamente, 2,89% e 8,68% dos pomares no Brasil.

    Folhapress
    AMEAÇAS À LARANJAAs três pragas que afetam os pomares brasileiros

    "A pesquisa é muito importante, porque testa a resistência da laranja", diz Juliano Ayres, gerente da Fundecitrus. "Leva até dez anos para uma variedade em fase de estudo virar disponível comercialmente. Até lá, a percepção dos consumidores sobre transgênicos pode mudar."

    De acordo com Ayres, a maior barreira à laranja transgênica viria da União Europeia, maior importador de suco de fruta.

    "No curto prazo, o mercado talvez tenha dificuldade de aceitar, o que não significa que a pesquisa não deva ser feita. Nós apoiamos."

    PRAGAS

    O maior problema dos pomares de laranja é o "greening", praga que devastou a cultura na Flórida, nos Estados Unidos, em meados da década passada, e que afeta 16,73% das laranjeiras em São Paulo e no Triângulo Mineiro, segundo a Fundecitrus.

    "Se a laranja transgênica fosse resistente ao 'greening', a gente já podia começar a conversar", diz Netto, do CitrusBR. "Amarelinho não é um grande problema."

    A pesquisadora Alessandra Alves de Souza, do IAC, afirma que a vantagem da nova laranja é dispensar o uso de inseticidas no controle de pragas.

    "Gasta-se muito com esses produtos e é cada vez menos sustentável, tanto do ponto de vista econômico quanto ambiental", diz.

    A CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança), responsável pelo controle de variedades transgênicas, já liberou modificações de milho, soja, algodão, cana-de-açúcar, feijão e eucalipto. A laranja seria a primeira fruta a integrar a lista.

    IGNORÂNCIA

    Para Sylvia Wachsner, coordenadora de orgânicos da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), a rejeição dos consumidores se deve à ignorância sobre o tema.

    "A soja transgênica já está no país há 20 anos, e ainda assim é questionada. O consumidor não aceita porque tem medo, e não sabemos os malefícios que pode causar."

    Para Souza, do IAC, é um preconceito. "A transgenia é uma opção para melhorar a resistência a doenças e para preservar o ambiente."

    A pesquisadora estuda o tema desde 2000, quando foi feito o sequenciamento do genoma da bactéria do amarelinho, a Xylella fastidiosa.

    Na variedade de laranja desenvolvida por sua equipe, a bactéria tem dificuldade de se multiplicar, o que reduz em 60% a incidência de CVC.

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