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    Previdência

    Governo precisa combater fraudes antes de cortar aposentadoria, dizem entidades sindicais

    ANA ESTELA DE SOUSA PINTO
    DE SÃO PAULO

    27/12/2017 02h00

    Para mexer nas regras das aposentadorias, o governo precisa antes esgotar todos os recursos para combater fraudes e sonegações no sistema previdenciário e acabar com as desonerações, dizem entidades que representam trabalhadores dos setores público e privado.

    "É preciso fazer a lição de casa, fazer o esforço máximo para fechar os vazamentos de recursos e elevar receitas. Depois, se ainda assim for preciso, que se faça a reforma nos benefícios", diz Mauro Silva, auditor fiscal da Receita e diretor para assuntos técnicos da Unafisco (Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal).

    aposentadorias
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    Manifestantes fazem protesto contra a Reforma da previdência em frente a casa do presidente da câmara dep. Rodrigo Maia (DEM-RJ), onde o presidente Michel Temer participa de um jantar com líderes partidários para tratar da reforma.

    A Unafisco e outras entidades de servidores são contra a reforma da Previdência em discussão no Congresso.

    Segundo Silva, os esforços para combater sonegação vêm caindo: "Temos hoje 3.200 fiscais a menos que há seis anos".

    "Isso traz para essa reforma um DNA de inconstitucionalidade, porque o princípio da proporcionalidade diz que só se podem retirar direitos quando tais mudanças forem comprovadamente necessárias."

    Já o governo argumenta que há hoje 5 milhões de ações de cobrança de devedores na Justiça e que, em 2016, o novo Grupo de Operações Especiais recuperou R$ 7,2 bilhões sonegados.

    Segundo o governo, 58% do estoque de R$ 430 bilhões de dívidas é praticamente irrecuperável e, mesmo que não fosse, cobriria menos de dois anos de rombo.

    SISTEMA EQUILIBRADO

    Silva diz que o principal sistema previdenciário a ser modificado, se necessário, é o dos trabalhadores privados, por causa da aposentadoria por tempo de contribuição, sem idade mínima.

    O auditor argumenta que, do ponto de vista contábil (se cada um tivesse sua própria conta), os servidores com altos salários contribuem o suficiente para pagar por suas aposentadorias, mesmo considerando os vencimentos do último cargo como base.

    Os cálculos da Unafisco consideram aumento real de 1,5% nos salários durante os anos de contribuição, remuneração mensal média de 1,12% e pagamento de 15% de IR sobre os rendimentos.

    "Não é justo atrair um jovem para a carreira pública prometendo aposentadoria integral e depois dizer que não tem mais nada", afirma.

    Silva diz ainda que o sistema previdenciário sofre hoje com muitas distorções criadas pelos constituintes em 1988, como a transformação de funcionários CLT em estatutários com direito a aposentadoria pelo teto.

    "Querer transferir hoje todas essas omissões legislativas para a conta do servidor em atividade é injusto."

    CORONELISMO

    Ricardo Patah, presidente da UGT (União Geral dos Trabalhadores), também defende que o governo corte fraudes e aumente receitas antes de mudar as aposentadorias.

    "É preciso um choque de gestão, para que a Previdência seja capaz de receber os bilhões de reais que deixam de ser pagos."

    Mas considera também que é preciso antes de tudo "atacar privilégios" como o de servidores de alto salário, aposentadoria integral e paridade de reajustes.

    "O principal deficit per capita hoje está com os funcionários da União."

    Patah afirma que a UGT representa mais de 120 sindicatos de servidores, mas 99% deles são de trabalhadores com baixos salários.

    "Queremos que o país rompa com o paradigma do coronelismo, em que o trabalhador comum sofre com informalidade e uma elite tem rendimentos absurdos. Todos, sejam lixeiros ou juízes, merecem o mesmo respeito."

    RENÚNCIAS

    A Receita estima que, em 2018, haverá renúncias fiscais da ordem de R$ 283 bilhões para 2018 (4,0% do PIB).

    A desoneração da folha de salários, que afeta diretamente as contas da Previdência, deverá retirar dos cofres do governo R$ 14,771 bilhões.

    O valor é menos de um quinto do que deixa de ser arrecadado com as regras do Simples Nacional, o principal gasto tributário.

    Se as regras que reduzem as contribuições previdenciárias para 46 setores da economia forem revistas em 2018, a economia prevista no ano será de R$ 8,3 bi, segundo o banco Credit Suisse.

    A mudança precisa ser feita por lei ordinária (aprovada por maioria simples dos parlamentares).

    O deficit do RGPS e dos RPPS de janeiro a outubro deste ano era de cerca de R$ 254 bilhões.

    CONTRIBUINTE FINANCIA APOSENTADORIASNa média até outubro deste ano, cada aposentado recebeu R$ 8.126,95 de dinheiro de impostos
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