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    Vaga com carteira assinada cai ao menor nível em 5 anos

    LUCAS VETTORAZZO
    DO RIO
    FLAVIA LIMA
    DE SÃO PAULO

    30/12/2017 02h00

    O número de empregados com carteira assinada atingiu, em novembro, o menor nível dos últimos cinco anos, mostrou a Pnad Contínua, pesquisa nacional do IBGE, divulgada na sexta (29). Mantem a tendência dos últimos meses, o desemprego segue em queda devido ao aumento da geração de vagas informais, sem a proteção e os benefícios da lei trabalhista.

    O contingente de trabalhadores com carteira atingiu 33,2 milhões de pessoas no trimestre encerrado em novembro, o menor nível da série iniciada em 2012. Desde abril de 2015, quando a formalização começou a cair, cerca de 3 milhões de postos com carteira foram perdidos. É como se toda a população do Uruguai ficasse sem trabalho formal.

    Em um ano, entre o trimestre encerrado neste novembro e o igual período de 2016, 857 mil pessoas perderam empregos com carteira. Especialistas dizem que em período de crise é comum o aumento da informalidade.

    Pelos critérios do IBGE estão na informalidade o trabalhor sem carteira, quem atua por por conta própria (pequenos empreendedores sem empregados), e trabalhadores domésticos não são formalizados pelos patrões. É esse contingente que tem empurrado para baixo as taxas de desemprego. Muitos dos que perderam os empregos formais migraram para esses postos informais para manter a renda.

    No trimestre encerrado em novembro, 11,2 milhões trabalhavam sem carteira. Ao todo, 411 mil passaram a essa condição entre os trimestres encerrados em agosto e novembro. No intervalo de um ano, o contingente sem carteira ganhou 718 mil pessoas.

    Já o trabalho por conta própria ganhou 1,1 milhão de pessoas na comparação anual. Na passagem dos trimestres, 193 mil adotaram o modelo de trabalho, totalizando em novembro em 23 milhões nessa condição.

    Um terceiro tipo de emprego que cresceu em razão da crise foi o trabalho doméstico, que atingiu o maior nível da série iniciada em 2012. Eram 6,3 milhões de pessoas no trimestre encerrado em novembro. Entre agosto e novembro, 217 mil pessoas passaram ao trabalho doméstico. Em um ano, esse número foi de 250 mil novas pessoas.

    Na última década, o trabalho doméstico havia recuado em razão da melhora da economia, alta da escolarização e da renda da população. Mulheres jovens passaram a buscar ocupações de maior remuneração nos serviços e no comércio. Segundo o IBGE, dois terços dos trabalhadores domésticos não têm carteira assinada e cerca de 60% das vagas são ocupadas por mulheres negras ou pardas.

    "Após recessão profunda, é natural que o emprego informal reaja mais rápido do que o emprego formal, justamente pela flexibilidade", disse o pesquisador do Ibre/FGV, Fernando de Holanda Filho. "Mas são empregos de menor qualidade e remuneração do que os formais".

    A economista-chefe da XP Investimento, Zeina Latif, diz que, com a melhora da economia esperada para o ano que vem, o mercado formal apresentará melhora a medida que as empresas conseguirem reestruturar suas finanças. "O que estamos vendo no mercado de trabalho é cíclico", diz ela, ao ressaltar que mudanças estruturais serão vistas a partir dos efeitos da reforma trabalhista.

    Luiz Fernando de Paula, da UERJ, prevê que a retomada atual do emprego deve repetir o período de boom econômico– quando a alta do emprego foi influenciada pelo setor de serviços, com vagas de baixa qualidade–, o que considera preocupante.

    Em razão da alta da informalidade, a taxa de desemprego recuou para 12% no trimestre encerrado em novembro. Houve queda de 0,6 ponto percentual em relação ao trimestre imediatamente anterior, terminado em agosto. Na comparação anual, contudo, o desemprego está 0,1 ponto percentual mais alto.

    A queda do desemprego também teve reflexo das contratações de final de ano do comércio, que empregou 223 mil pessoas a mais em novembro em relação a agosto.

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