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    Jovens temem futuro profissional instável e efeitos da reforma da CLT

    FERNANDA PERRIN
    DE SÃO PAULO

    21/01/2018 02h00

    Eduardo Anizelli/Folhapress
    SAO PAULO, SP, BRASIL, 21-12-2017, 11h20: Retrato de Leticia Martins, 24, que se formou em Publicidade e Propaganda na Anhembi Morumbi e trabalha em uma agencia de publicidade ha um mes. Ela e contraria a reforma trabalhista. (Foto: Eduardo Anizelli/Folhapress, MERCADO) ***EXCLUSIVO***SAO PAULO, SP, BRASIL, 20-12-2017, 15h30: Retrato de Paulo Amaral, 18, acaba de terminar o ensino medio e esta prestando vestibular. Para ele, trabalho e algo que consiga equilibrar prazer e boa remuneracao. (Foto: Eduardo Anizelli/Folhapress, MERCADO) ***EXCLUSIVO***SAO PAULO, SP, BRASIL, 20-12-2017, 16h30: Retrato de Luiza Pacheco, 19, que trocou a graduacao em jornalismo na PUC pelo curso de direito no Mackenzie. Ela e parcialmente favoravel a reforma trabalhista. (Foto: Eduardo Anizelli/Folhapress, MERCADO) ***EXCLUSIVO***
    A publicitária Letícia Martins, 24, o vestibulando Paulo Amaral, 18, e a universitária Luíza Pacheco, 19

    As mudanças em curso no mercado de trabalho, como automação e flexibilidade, serão sentidas sobretudo pelos jovens.

    Até o fim da próxima década, cerca de 16 milhões de brasileiros serão afetados de alguma forma pelo avanço da tecnologia, que deve assumir tarefas manuais e repetitivas. Outros serão afetados pela tendência de contratos mais flexíveis ou mesmo inexistentes —movimento que a reforma trabalhista tentou abarcar ao regular o home office, por exemplo.

    A Folha conversou com três jovens em diferentes etapas de formação para entender suas expectativas em relação à vida profissional, e como eles acreditam que serão afetados pelas recentes alterações na legislação.

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    • Vestibulando quer rotina livre sem abrir mão de direitos clássicos
    Eduardo Anizelli - 20.dez.2017/Folhapress
    SAO PAULO, SP, BRASIL, 20-12-2017, 15h30: Retrato de Paulo Amaral, 18, acaba de terminar o ensino medio e esta prestando vestibular. Para ele, trabalho e algo que consiga equilibrar prazer e boa remuneracao. (Foto: Eduardo Anizelli/Folhapress, MERCADO) ***EXCLUSIVO***
    O vestibulando Paulo Amaral, 18, terminou o ensino médio em 2017 e busca uma vaga na faculdade

    Paulo Amaral tem 18 anos e mora no Butantã, na Zona Oeste da capital paulista.

    Ele terminou o ensino médio em 2017 e está na fase do vestibular. Sem ainda ter muita clareza do que quer, Amaral tenta uma vaga no curso de relações internacionais e outra no de turismo.

    O mercado de trabalho que esse jovem encontrará daqui a alguns anos, quando iniciar sua carreira, já será muito diferente do atual.

    Folha - Você valoriza mais ter um trabalho flexível, sem jornada ou remuneração definidas, ou um trabalho mais rígido, com uma rotina clara?

    Paulo Amaral - Eu prefiro um trabalho mais flexível, onde eu consiga flexibilizar minha rotina. Sair do comum, para não ficar algo cansativo. Ainda que a remuneração varie com isso.

    Que direitos você acha que todo trabalhador deveria ter, não importa sua atividade?

    Todos os trabalhadores têm que ter direito a uma boa condição de trabalho, onde ele possa dar o máximo dele, uma boa relação com seu patrão, com bastante respeito, e saber que o trabalho que você está fazendo também está ajudando o outro.

    Você precisa ser remunerado certinho. Estar com seus direitos. Acho que todos os tipos de direito, como 13º [salário], férias remuneradas, licença maternidade e paternidade. Acho que o trabalhador tem que ter direito a tudo isso, e isso está nas mãos dos sindicatos, que façam essa ligação entre trabalhador e empresa.

    Como a reforma trabalhista vai afetar sua carreira?

    Acho que vai afetar de diversas formas. Espero que seja algo gradual, e que não atinja a nova geração mais de cabeça. Eu acho que ela tende a melhorar o mercado de trabalho, mas tem que ser algo bem distribuído para manter o equilíbrio.

    O que é trabalho para você?

    Acho que trabalho pode ser visto de diferentes formas. Tanto como algo prazeroso ou como uma tarefa necessária, algo que você precisa realizar. Você precisa encontrar o equilíbrio entre os dois, que te satisfaça financeiramente, pessoalmente e profissionalmente.

    E uma carreira ideal?

    Acho que uma carreira onde eu goste do que eu faço e estou sendo bem recompensado pelo meu trabalho, e reconhecido também.

    O que é sucesso profissional?

    Acho que é uma pessoa que está completa com o trabalho, que está confortável.

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    • Universitária teme efeitos da reforma e apoia jornada menor
    Eduardo Anizelli - 20.dez.2017/Folhapress
    SAO PAULO, SP, BRASIL, 20-12-2017, 16h30: Retrato de Luiza Pacheco, 19, que trocou a graduacao em jornalismo na PUC pelo curso de direito no Mackenzie. Ela e parcialmente favoravel a reforma trabalhista. (Foto: Eduardo Anizelli/Folhapress, MERCADO) ***EXCLUSIVO***
    A universitária Luíza Pacheco, 19, trocou a graduação em jornalismo pelo direito

    Luíza Pacheco tem apenas 19 anos, mas já está em sua segunda faculdade. Ela fez um semestre de jornalismo da PUC-SP, mas trocou o curso por direito do Mackenzie.

    No ano passado, ela trabalhou como assistente de comunicação. Na mesma semana em que conversou com a Folha, conseguiu um estágio no departamento jurídico de um banco.

    Folha - Você valoriza mais ter um trabalho flexível, sem jornada ou remuneração definidas, ou um trabalho mais rígido, com uma rotina clara?

    Luíza Pacheco - Eu gosto de estabilidade, me adapto bem a oito horas por dia, hora de almoço, esse modelo CLT. Não preciso de flexibilidade, mas acho que muita gente precisa.

    Que direitos você acha que todo trabalhador deveria ter, não importa sua atividade?

    Acho que intervalo intrajornada é fundamental, direito ao 13º. Mas uma coisa que deveria mudar, é que todo empregado deveria ter direito a menos horas de trabalho. Deveria ser seis ou sete horas. A gente passa muito tempo trabalhando focado em fazer lucro para os outros, e pouco focado no nosso próprio tempo para fazer o que a gente gosta e aproveitar o que ganhamos com nosso trabalho.

    Como a reforma trabalhista vai afetar sua carreira?

    Tem umas coisas que eu acho interessantes, mas o empregador sempre tem muito mais poder que o empregado, então acho algumas dessas coisas bem perigosas. Muita coisa da reforma a gente ainda não sabe muito bem como será usada.

    O que é o trabalho para você?

    Quando eu entrei na faculdade, eu não tinha ideia do que era trabalhar. Vi que trabalho e faculdade são coisas bem diferentes, na faculdade você vê a teoria, mas o trabalho não vai ser aquilo. Trabalho é para ser uma coisa que você goste de fazer, por mais que tenha muita cosia que você não goste de fazer.

    E uma carreira ideal?

    Hoje, cursando direito, eu acredito que uma carreira ideal é estar em um lugar em que a empresa ou escritório combine com a minha personalidade. Cada trabalho tem um perfil e você tem que encontrar o perfil para você.

    O que é sucesso profissional?

    É você estar no trabalho que quer e conseguir crescer. Não acredito em topo, acho que a gente vai crescendo sempre. Sucesso não é só dinheiro. A gente quer reconhecimento financeiro, mas tem várias outras formas.

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    • Recém formada fala em 'aflição' diante de instabilidade de renda
    Eduardo Anizelli - 21.dez.2017/Folhapress
    SAO PAULO, SP, BRASIL, 21-12-2017, 11h20: Retrato de Leticia Martins, 24, que se formou em Publicidade e Propaganda na Anhembi Morumbi e trabalha em uma agencia de publicidade ha um mes. Ela e contraria a reforma trabalhista. (Foto: Eduardo Anizelli/Folhapress, MERCADO) ***EXCLUSIVO***
    A recém formada Letícia Martins, 24, trabalha como publicitária em uma agência em São Paulo

    Letícia Martins, 24, é recém formanda em publicidade e propaganda pela Anhembi Morumbi. Ela mora em Santana, na Zona Norte de São Paulo.

    Martins conta que trabalhou desde o primeiro ano da faculdade –inclusive como "PJ" para mascarar uma relação de emprego. No final de 2017, ela foi contratada por uma agência.

    Folha - Você valoriza mais ter um trabalho flexível, sem jornada ou remuneração definidas, ou um trabalho mais rígido, com uma rotina clara?

    Letícia Martins - Eu prefiro um trabalho mais rígido, porque hoje em dia, com o momento econômico que vivemos no país, é muito complicado você viver sem saber se vai poder pagar suas despesas. Viver nessa expectativa [sem previsibilidade] causa uma aflição.

    Que direitos você acha que todo trabalhador deveria ter, não importa sua atividade?

    No meio publicitário, nós vemos muito isso, de ultrapassar a jornada, e as horas extras não são pagas. Você não tem hora para sair, mas tem para entrar. Isso é um ponto. Férias também é fundamental, você precisa de um tempo para a sua saúde mental, ainda mais quem trabalha com criatividade. Eu defendo a CLT e todos os direitos que ela envolve.

    Como a reforma trabalhista vai afetar sua carreira?

    Eu sou contra a reforma porque na prática, e eu já passei por isso, infelizmente quanto mais o empregador puder usufruir do seu trabalho, ele vai. Já trabalhei sem registro, como PJ. Acho que a reforma abre mais margem para isso. Essa exploração já existe, mas agora é como se tivesse a possibilidade fazer isso legalmente.

    O que é o trabalho para você?

    É colocar na prática o que eu me dediquei a fazer nos estudos. Eu realmente gostei do curso que escolhi. Então, para mim, poder executar isso é um trabalho bem sucedido. Isso é o que eu queria, e consegui.

    E uma carreira ideal?

    Eu imagino trabalhar na área e sempre evoluir de cargos. Ter um histórico bacana em cada emprego que eu tiver, e nunca parar. Sempre aprender, acho que mudanças são fundamentais. Meu objetivo é criar um histórico positivo nos lugares em que eu passar.

    O que é sucesso profissional?

    É reconhecimento. Estar envolvida com projetos bem sucedidos que tragam esse reconhecimento na área.

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