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    Marcas criam adereços feministas e glitter biodegradável para foliãs

    JÚLIA ZAREMBA
    DE SÃO PAULO

    29/01/2018 02h00

    Raquel Cunha/Folhapress
    Lilian Hill (à esq.), 27, e Andressa Torres, 28, fundadoras da Brilhow Ecoglitter, no apartamento em que produzem os enfeites, na zona sul do Rio
    Lilian Hill (à esq.), 27, e Andressa Torres, 28, fundadoras da Brilhow Ecoglitter, no apartamento em que produzem os enfeites, na zona sul do Rio

    Engajamento virou negócio de Carnaval. A tendência da vez é a criação de peças de roupas e adornos ligados a causas feministas, políticas e ambientais por pequenas empresas do ramo da moda.

    A Desbunde Adereços, idealizada pela estudante de história Carol Corrêa, 31, e pela professora de política social Tainá Souza, 35, é uma delas. Lançada em 2017 no Rio, vende adornos e tiaras com mensagens como "Meu útero é laico", "Meu peito, minhas regras" e "Não é não".

    "Eu vejo o Carnaval como um momento de resistência, expressa nos blocos de rua", afirma Corrêa, natural de Aracaju. "Quis criar a marca com uma pegada política, que transmitisse o que acredito, mas sem deixar de lado o aspecto lúdico da festa."

    A dupla investiu cerca de R$ 7.000 para começar o negócio. A venda das peças, que custam entre R$ 25 e R$ 150, já rendeu cerca de R$ 9.000 para as empreendedoras.

    A Desbunde não produz acessórios apenas na época da folia, uma solução para tornar o negócio sustentável.

    "Recebemos encomendas para festas juninas, casamentos e até festivais de música", conta a estudante. O ateliê, por ora, fica no apartamento de Souza, em Laranjeiras, na zona sul do Rio.

    O engajamento em questões feministas também está no DNA da Negoçada Carnaval, lançada em 2017. Por trás da marca, também baseada no Rio, estão as estilistas Maíra Nascimento, 38, e Layana Thomaz, 41, e a assistente de figurino Kenia Felipe, 38.

    "Há muito machismo e assédio durante o Carnaval. Temos dois objetivos: fazer a mulher se sentir confiante e confortável com a sua fantasia e transmitir o recado de que ela pode sair como quiser, sem ser obrigada a nada", explica Felipe.

    No catálogo da loja, há bodies, tops e bonés, adereços em alta entre as foliãs. As peças vêm acompanhadas de patches, espécies de apliques bordados, com recados como "Respeita as minas" e "Não, obrigada", além de desenhos variados, de um útero a um arco-íris. Os itens custam entre R$ 120 e R$ 350.

    A estrutura da marca ainda é enxuta. As três cuidam de toda a produção, realizada na casa de uma das estilistas, com a ajuda de uma costureira. As peças, produzidas durante o ano todo, são vendidas em feiras e eventos.

    Para começar o negócio, investiram R$ 30 mil, valor que ainda não foi totalmente recuperado. "Mas estamos otimistas", afirma Felipe. "Há muitas mulheres que admiram a nossa iniciativa e a forma com que trabalhamos no Instagram, com fotos que valorizam o corpo feminino e mostram gordurinhas."

    NA PELE

    Sensação nos últimos carnavais, a Le Petit Pirate oferece tatuagens com mensagens ligadas a temas como feminismo, igualdade e liberdade. "Não é não", "Proibido proibir" e "Amor livre" são algumas das mais populares.
    Criada em 2012 pelos designers cariocas Marcus Renault, 31, e Thiago Monteiro, 33, voltada inicialmente para o público infantil, tem crescido cerca de 50% por ano há quatro carnavais. O investimento inicial na marca foi de em torno de R$ 1.000.

    "O Carnaval é uma forma de vender para o público adulto, mas a data não é a nossa única fonte de renda, já que produzimos tatuagens infantis ao longo do ano", afirma a designer Gabriela Sued, uma das sócias da marca. "Planejamos ainda produzir ilustrações para outras datas festivas."

    As cartelas, que custam entre R$ 10 e R$ 29, são vendidas on-line para o Brasil todo e no atacado para algumas lojas. Os desenhos são criados por ilustradores de diferentes lugares, do Recife à Polônia, segundo Sued.

    QUESTÃO AMBIENTAL

    O glitter é outro adorno para a pele em alta nos looks de foliãs e foliões. Mas tem causado polêmica pelo fato de sua matéria-prima, o microplástico, ser nociva ao meio ambiente -contamina os oceanos e entra na cadeia ecológica, podendo ser ingerida por humanos.

    Para driblar o problema, as biólogas marinhas Lilian Hill, 27, e Andressa Torres, 28, decidiram criar, em dezembro, a Brilhow Ecoglitter, que vende glitter biodegradável. Oferecem produtos à base de ágar (substância semelhante à gelatina extraída de algas marinhas), corante alimentício e minerais naturais.

    Um dos produtos disponíveis tem textura mais espessa, remetendo a escamas de peixe. Segundo Hill, os ingredientes são pouco alergênicos e saem com facilidade durante o banho. Os frascos custam entre R$ 8 e R$ 15.

    "Já vendemos cerca de 500 potinhos e, agora, temos em torno de cem encomendas para o Carnaval", conta a bióloga marinha. "O fato de a marca defender uma causa ambiental atrai clientes, mas nossa principal preocupação é oferecer um produto que não prejudique o ambiente."

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