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    Saiba mais sobre a fundação do Estado de Israel

    da Folha Online

    07/05/2008 22h22

    Em 14 de maio de 1948, os líderes da comunidade judaica se reuniam no museu de Tel Aviv para declarar o estabelecimento de um novo país: o Estado de Israel.

    O Oriente Médio, e principalmente as terras de Israel, sempre foram o foco de intensa atenção do mundo e naquele dia toda a mídia estava de olho no que ocorria dentro do museu.

    Arte Folha Online

    Depois de séculos de luta do movimento sionista --que defende a criação de um Estado judeu-- e de décadas do domínio britânico sobre a região até então conhecida como Palestina, os presentes celebraram o início da primeira nação judaica do mundo sobre as terras de Canaã, que, segundo os judeus, é a Terra Prometida por Deus ao patriarca Abraão.

    A fundação foi resultado da votação, em 29 de novembro de 1947, do plano de partilha da Organização das Nações Unidas. Neste dia, diante dos intensos conflitos entre árabes e palestinos na região, conflitos que o domínio britânico não conseguia controlar, os principais países do mundo votaram pela divisão das terras para uma nação judaica em uma das partes.

    A votação do plano de partilha foi resultado dos estudos e análises conduzidas pela Comissão Especial das Nações Unidas para a Palestina, criada em abril de 1947 para avaliar a questão do conflito entre árabes e judeus na região e encontrar uma solução de caráter internacional.

    Os debates da Comissão ficaram entre a criação de um Estado árabe-judaico ou a divisão em dois Estados, um árabe, outro judaico. O problema dos refugiados judeus acabou vinculando-se à questão palestina, que lutava contra o domínio britânico.

    Protestos

    Os árabes protestaram fortemente e questionaram a competência da Assembléia Geral para decidir o futuro da região, alegando que, mesmo após a promoção da imigração em massa de judeus, a população árabe da Palestina ainda representava 70% do povo da região.

    A Comissão das Nações Unidas foi formada por Canadá, Tchecoslováquia, Guatemala, Países Baixos, Peru, Suécia, Uruguai, India, Irã e Iugoslávia. Membros dos países visitaram a Palestina em junho de 1947, para ouvir os projetos dos sionistas e dos árabes palestinos.

    Após três meses de investigação, em agosto de 1947, a Comissão apresentou seu parecer com a tese judaica e a árabe. A tese judaica defendia o estabelecimento de um Estado judeu na Palestina. Segundo essa tese, "a fundação do Estado judeu e a imigração sem restrições estão ligadas indissoluvelmente". A nação seria um abrigo aos judeus refugiados da Europa que compensariam a diferença numérica em relação à população árabe.

    A tese árabe defendia a independência palestina, reivindicando o direito "natural" da maioria árabe de "permanecer na possessão indiscutível de seu país, posto que está e tem estado durante muitos séculos em possessão daquela terra". Como argumento, apresentaram os direitos "naturais" do povo que habitou a Palestina, sem interrupção, desde muitos séculos.

    A proposta apresentada pela maioria dos países integrantes Comissão defendia a divisão da região em um Estado árabe independente e um Estado judeu independente e a internacionalização de Jerusalém -por seu valor histórico e cultural para as religiões monoteístas--, após um período de transição de dois anos.

    Ao todo 25 países, incluindo o Brasil, votaram a favor da criação dos Estados independentes, movimento que culminou com a fundação de Israel.

    Estado institucionalizado

    A fundação de Israel, em 1948 apenas institucionalizou uma comunidade de cerca de 650 mil pessoas já organizada, com instituições políticas, sociais e econômicas bem desenvolvidas.

    Quando a Liga das Nações (hoje Organização das Nações Unidas) concedeu o mandato britânico sobre a Palestina, em 1922, recomendou ao país que criasse na região um "lar judaico, em reconhecimento à ligação histórica do povo judeu com a Palestina".

    Motivados pelo sionismo e pela "simpatia para com as aspirações sionistas dos judeus" expressa pela ministro das Relações Exteriores do Reino Unido, Lord Balfour, milhares de judeus partiram para as terras palestinas.

    Entre 1919 e 1923, cerca de 35 mil judeus chegaram à região, principalmente vindos da Rússia, e tiveram uma influência direta na organização da sociedade judaica nos anos seguintes. A onda seguinte, entre 1924 e 1932 trouxe cerca de 60 mil pessoas de toda Europa Oriental. Estes imigrantes, muitos dos quais eram profissionais formados e acadêmicos, foram responsáveis pela ampliação da vida cultural me econômica da comunidade judaica na região.

    Economia

    As autoridades do Mandato Britânico outorgaram aos judeus e árabes o direito de gerirem seus próprios assuntos internos. Com este direito, a comunidade judaica elegeu, em 1920, um governo autônomo baseado na representação partidária: Assembléia dos Eleitos.

    Ela se reunia anualmente para avaliar suas atividades e eleger os representantes executivos, o Conselho Nacional, que implementava a política definida pelo legislativo.

    Financiados por recursos da economia local e verbas levantadas pelo mundo judaico, os recém-chegados fundaram kibutz (fazendas coletivas) e cidades, criaram uma infra-estrutura econômica e de serviços básicos e lançaram a luta pela independência política, conhecida como sionismo.

    Faltava apenas a oficialização de sua independência do povo palestino, que, embora tenha sido muito celebrada pela comunidade judaica não foi aceita pelos árabes, entre os quais a data da fundação de Israel é conhecida como "Al Naqba", dia da catástrofe.

    Guerra da Independência

    Com a comunidade já organizada social e politicamente, demorou apenas alguns meses até que a decisão da partilha das terras palestinas pela ONU fosse oficializada em Estado de Israel. O movimento de independência foi organizado pelos sionistas de esquerda, que tinham em David Ben Gurion seu líder.

    Assim, em 8 de maio de 1948, menos de cinco meses após a votação da ONU, Gurion assumia como líder do mais novo país, com a aprovação da comunidade judaica.

    Mas não houve tempo para celebrações. Em menos de um dia da fundação, Israel foi invadido por cinco nações vizinhas árabes --Egito, Jordânia, Iraque, Síria e Líbano--, além dos árabes palestinos, que não concordavam com a fundação do Estado judeu em uma região predominantemente árabe.

    A Guerra da Independência, como ficou conhecida, foi a primeira grande prova do novo país e apenas uma amostra da trajetória de guerras e conflitos na qual Israel entrava. Forças de Defesa de Israel, embora pobremente equipadas, derrotaram os invasores em lutas que se prolongaram por 15 meses e deixaram um saldo de 6.000 israelenses mortos, quase 1% da população judaica no país à época.

    Nos primeiros meses de 1949, realizaram-se negociações diretas, sob os cuidados da ONU, entre Israel e cada um dos países invasores (exceto o Iraque, que se recusa a negociar com Israel até os dias atuais). O resultado foi a assinatura de acordos de armistício, que refletiam as posições no final dos combates entre as nações.

    Consolidação

    27.jan.1971 - Reuters
    Ex-premiê David Ben Gurion durante viagem por bases militares de Israel
    Ex-premiê David Ben Gurion durante viagem por bases militares de Israel

    Assim, a planície costeira, a região da Galiléia (norte) e todo o Negev ficaram sob soberania israelense, a Judéia e a Samaria (na margem ocidental) ficaram sob o domínio da Jordânia, a faixa de Gaza coube aos egípcios e a cidade de Jerusalém ficou dividida, cabendo à Jordânia o controle da parte oriental, inclusive a Cidade Velha, e a Israel, o setor ocidental da cidade.

    Com o fim da Guerra da Independência e o novo estabelecimento de fronteiras para o Estado, Israel concentrou seus esforços na construção de uma infra-estrutura capaz de governar o novo país. O primeiro Knesset (Parlamento) de 120 cadeiras entrou em funcionamento após as eleições nacionais ocorridas em 25 de janeiro de 1949 e com a participação de quase 85% dos eleitores.

    Gurion, que já havia assumido o poder com a declaração do Estado, confirmou seu posto como primeiro-ministro e Chaim Weizmann, presidente da Organização Sionista Mundial, tornou-se o primeiro presidente eleito pelo Knesset.

    Logo depois, em 11 de maio de 1949, Israel tornou-se o 59º membro das Nações Unidas.

    Fontes: Enciclopédia Britânica, Ministério de Relações Exteriores de Israel, Realidades de Israel (publicação do Centro de Informação de Israel), The Israel Project.

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