• Mundo

    Tuesday, 10-Sep-2024 09:12:26 -03

    Nova geração lidera manifestações de oposição ao governo Putin

    MARINA DARMAROS
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM MOSCOU

    31/01/2012 07h37

    Uma nova geração de manifestantes, popular nas redes sociais e sem ligação com os principais partidos, está à frente dos protestos realizados na Rússia desde as eleições parlamentares que, no início de dezembro, deram maioria ao partido do primeiro-ministro Vladimir Putin.

    Opositores que já tomavam a cena na internet russa, como o blogueiro Aleksêi Naválni e o líder da organização Solidarnost ("solidariedade"), Iliá Iáshin, ganharam mais visibilidade na mídia e adesão pública após serem presos nas manifestações.

    Naválni, por exemplo, pulou de 60 mil seguidores no Twitter em agosto para 170 mil em dezembro. Enquanto isso, líderes como Putin e o presidente Dmitri Medvedev, seu aliado, passaram a ser rechaçados e viraram alvos de faixas e gritos de guerra que pediam suas demissões.

    "Nós, a geração mais jovem, que somos a grande maioria nos protestos, esperávamos mais e melhor, como nos foi prometido quando a União Soviética caiu, e é isso que estamos exigindo", diz o estudante de direito Viatcheslav Tsener, 20 anos.

    Proclamando-se liberal, Tsener defende que Naválni --que não é candidato às eleições de março deste ano-- seja eleito presidente.

    ACUSAÇÕES DE FRAUDE

    A internet também teve papel importante na exposição das alegadas fraudes na eleição parlamentar russa.

    Entre as denúncias e os vídeos feitos por observadores independentes no dia 4, havia mesários preenchendo cédulas em favor do partido governante, o Rússia Unida, e canetas que se apagavam.

    Em 5 de dezembro, um dia após o pleito parlamentar, cerca de 7.000 pessoas saíram às ruas de Moscoul para protestar contra fraudes.

    Mas, em vez de organizar novas eleições, Medvedev declarou que os vídeos postados na internet não eram "confiáveis". Além disso, houve prisões maciças de manifestantes durante protestos pacíficos, sob a alegação de que os eventos não eram autorizados pela prefeitura.

    "As eleições foram o estopim, mas não o problema central que ocasionou esses movimentos. Se assim fosse, seria só realizar eleições mais justas, ou mudar os resultados", disse à Folha Nikolai Petrov, analista político do Carnegie Center de Moscou.

    Editoria de Arte/ Folhapress

    "O problema não está nos líderes, mas nas instituições. Acho que a situação só mudará quando a 'persona-líder' deixar de ser tão importante e passar a haver instituições livres no país", acrescenta.

    CALDEIRÃO DA OPOSIÇÃO

    Ainda em dezembro, houve outras três manifestações contra o processo eleitoral.

    Porém, com a forte repressão policial e as detenções dos primeiros protestos, a heterogênea oposição russa decidiu se unir e acatar as resoluções da prefeitura.

    O Executivo de Moscou determinou que os atos fossem marcados para áreas mais distantes do Comitê Eleitoral Central e da Duma (Câmara russa), como a praça Bolôtnaia, onde manifestações no mês passado reuniram cerca de 50 mil pessoas.

    Enquanto o político e escritor esquerdista Eduard Limonov afastou-se, opositores tão distintos como o liberal-nacionalista Naválni, o social-liberal Iáshin e o ex-premiê Boris Nemtsov tomaram juntos as rédeas dos eventos do mês passado.

    "Hoje, entretanto, não há partidos ou políticos na oposição que gozem de confiança absoluta e popularidade entre os manifestantes", acredita o analista Petrov.

    Mas, enquanto não há acordo entre as visões políticas da oposição, também não há divergências que a impeçam de protestar unida. A heterogeneidade desse caldeirão chegou ao ápice durante sua última manifestação de dezembro, no dia 24.

    Lado a lado, no público estimado em 100 mil pessoas havia alas de ultranacionalistas, esquerdistas, liberais, "hipsters" e aposentados.

    Entre os porta-vozes do evento, a cena se repetiu: o enxadrista russo Garry Kasparov dividia a cena com o ultranacionalista Vladímir Tor, idealizador da "Marcha Russa", a apresentadora da versão russa do programa de TV Big Brother, Ksênia Sobtchak, e o ex-ministro das Finanças Aleksêi Kúdrin.

    De acordo com Petrov, as fortes personalidades da oposição correm o risco de repetir os erros dos governistas.

    "No governo, há muitos líderes e nenhum contrapeso. Se esse elemento não surgir, os próximos líderes seguirão os mesmos passos que, de início, deram em Ieltsin e, depois, em Putin", arremata.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024