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    Denúncia de "mensalão" ameaça o governo espanhol

    CLÓVIS ROSSI
    COLUNISTA DA FOLHA

    31/01/2013 19h51

    A denúncia de um "mensalão" espanhol, publicada nesta quinta-feira pelo jornal "El País", levou à noite milhares de pessoas à sede do Partido Popular, do presidente do governo Mariano Rajoy, para gritar "dimisión/dimisión".

    À tarde, o grito de "demissão" já soara em pleno Congresso, em documento emitido pelo grupo "Esquerda Plural", minoritário: "Se se confirmam os dados que oferece o jornal "El País", Mariano Rajoy tem que demitir-se e convocar de imediato eleições gerais, porque estamos ante uma crise do sistema democrático".

    Os documentos do principal jornal espanhol referem-se à contabilidade interna do PP, que manejaram os então tesoureiros Álvaro Lapuerta e Luis Bárcenas, entre 1990 e 2009. Mostram pagamentos periódicos, trimestrais ou semestrais, à toda a cúpula do partido (secretários-gerais e vice-secretários-gerais), inclusive ao hoje presidente do governo, Mariano Rajoy.

    O líder do PP teria recebido € 25.200 anuais durante 11 anos.

    Nos papeis obtidos por "El País", figuram numerosas doações de empresas da construção civil, entre elas três envolvidas em escândalo anterior, o chamado caso Gürtel, em fase de tramitação judicial.

    Os documentos, na forma de cadernos manuscritos com registro de entradas de dinheiro, provenientes das doações de empresários, e pagamentos periódicos a membros do partido, além de gastos de funcionamento revelam mecanismo que lembra bastante o utilizado no Brasil, no chamado "mensalão", conforme ficou provado no julgamento do Supremo Tribunal Federal.

    Como é natural, os líderes do PP negam qualquer irregularidade, mas Rajoy convocou uma reunião extraordinária do Conselho Executivo do partido para amanhã.

    O principal partido de oposição, o PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol), acha que é demasiado tarde e pede o comparecimento imediato de Rajoy no Congresso para prestar esclarecimento.

    "O que está em jogo é o nome do presidente do governo da Espanha. Ele próprio deve esclarecer o caso. Agora, já", disparou Alfonso Pérez Rubalcaba, o líder socialista.

    Até ontem, as explicações estavam sendo dadas pela secretária-geral, Maria Dolores de Cospedal, ela própria envolvida no caso.

    Pelo menos um pagamento já foi aceito como verdadeiro, pelo presidente do Senado, Pio García Escudero, que disse ter devolvido ao partido um crédito de 1 milhão de pesetas (a moeda espanhola anterior à circulação do euro).

    A direção do PP alega que o fato de Escudero admitir ser certo um registro não significa que todos os demais também o sejam.

    De todo modo, quando as primeiras declarações do tesoureiro Bárcenas a respeito do mensalão foram divulgadas, na semana passada, Cospedal anunciara que seu partido, apesar de seguro de que sua contabilidade era correta, revisaria todas as contas, para afastar qualquer dúvida.

    Os papéis que "El País" divulgou mostram que "ela não convenceu ninguém", segundo Rubalcaba, que diz que a credibilidade da número 2 do PP "é zero".

    Daí ao grito de demissão foi um passo.

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