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    Revista policial em negros e latinos gera protestos em NY

    LUCAS FERRAZ
    EM NOVA YORK

    12/04/2013 02h00

    O americano Sharbeek Terry, 39, diz não se lembrar mais de quantas vezes foi revistado pela polícia de Nova York.

    Aplicativo orienta cidadãos sobre direitos ante a polícia de NY

    "Calculo umas sete vezes", disse. Na última delas, conta, foi parar na delegacia. "Me algemaram, me sacudiram e bateram nas minhas pernas. Fui detido com um outro homem, que ficou preso", afirmou à Folha.

    Terry, negro, é um dos 533 mil vítimas no ano passado do chamado "stop and frisk", as revistas indiscriminadas feitas polícia de Nova York.

    A prática do "baculejo" tem gerado controvérsia pela contabilidade dos alvos: 85% são negros e latinos, segundo a polícia. As estatísticas mostram que 90% dos revistados são inocentes.

    Grupos de defesa dos direitos civis e humanos dizem que a prática é aplicada de forma preconceituosa e racista, desrespeitando os princípios expostos na Constituição dos EUA --que prevê a revista somente se há suspeitas concretas.

    Editoria de Arte/Folhapress

    A prefeitura de Nova York defende a estratégia, que considera eficaz no enfrentamento ao crime.

    As revistas começaram a ser adotadas nos anos 1970, quando a maior cidade do país vivia forte onda de violência, com as ruas tomadas por gangues e drogas.

    A ação da polícia endureceu nos anos 1990, com a aplicação da política conhecida como "tolerância zero", que foi essencial para reduzir a criminalidade.

    Desde a década passada, após o atentado terrorista de 11 de setembro, as revistas se intensificaram.

    Conforme números do NYPD (sigla em inglês para Departamento de Polícia de Nova York), a prática saltou de uma média de 100 mil em 2002 para 700 mil em 2011.

    A Folha visitou a região do Brooklyn de East New York. Lá, um dos bairros, Cypress Hill, tem o maior número de batidas na cidade.

    Área pobre com pouco comércio e escolas, tem predominância de negros americanos e imigrantes latinos.

    "É muito comum ver esse tipo de coisa aqui", conta o vendedor de churros Antonio Castro, 39.

    Equatoriano que vive nos EUA há 15 anos, ele não sabe falar inglês. "Parece racismo da polícia, mas pelo menos a situação melhorou. Há cinco ou seis anos, a violência era muito pior."

    O jovem Danny Webb, 25, tem o perfil do americano que costuma ser parado nas batidas: negro, boné, roupas largas e medalhões.

    Nascido em Cypress Hill e atualmente trabalhando na construção civil, ele afirma que nunca foi revistado, mas se diz revoltado com o que costuma ver. "É um desrespeito muito grande, aqui não se respeita nenhum direito."

    Muitos casos envolvendo vítimas do "stop and frisk" chegaram aos tribunais americanos. Diferentemente do Brasil, Estados e municípios americanos têm mais autonomia para criar legislações próprias. Mas desde 1968 a Suprema Corte americana vem reiterando que a polícia só pode realizar revistas em pessoas se há uma suspeita evidente, baseada em fatos, e não em um palpite.

    "Sim, os meus direitos foram violados. Mas e aí, o que vou fazer?", questionou Terry, que vive de bicos em Cypress Hill.

    Até em áreas de Manhattan onde são minoria, negros e latinos ocupam as primeiras posições nas estatísticas.

    Em bairros como Soho e Village, onde eles são apenas 8% da população, 77% dos "baculejos" são contra pessoas que se enquadram em algum dos dois grupos.

    Procurado pela Folha, o departamento de polícia de Nova York não quis comentar o "stop and frisk".

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