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    Simbolismo marca velório de Nelson Mandela em Pretória

    FÁBIO ZANINI
    ENVIADO ESPECIAL A JOHANNESBURGO

    12/12/2013 03h30

    O corpo de Nelson Mandela, vestido com uma das camisas que tradicionalmente usava, nas cores dourado e negro, começou a ser velado ontem no Union Building, a sede do poder sul-africano em Pretória, em mais um evento cheio de simbolismo após sua morte, no dia 5.

    Foi no parque em frente ao prédio, em 1994, que Mandela tomou posse como presidente. Durante décadas, até o fim do apartheid, o edifício neoclássico, inaugurado em 1913, foi um monumento do poder branco.

    As duas torres, ligadas por um semicírculo, representam os colonizadores ingleses e africâneres (descendentes de holandeses), ignorando a maioria negra.

    Na quarta, a fila para ver o caixão aberto de Mandela, exposto sob uma tenda num amplo pátio interno, levava até seis horas, suportadas estoicamente sob sol forte. Algumas pessoas não aguentaram, e houve desmaios.

    "Verei Mandela, não importa quanto espere", disse Poppi Mashego, com um filho de dois anos amarrado às costas, conforme é costume na África, e outro de cinco anos, em pé. "Trouxe bastante água e comida."

    Cynthia Shipalana, designer de bolsas, chegou às 10h, duas horas antes de o velório público começar. Perto das 14h, estava esfuziante ao se aproximar a sua vez. "Madiba é meu ícone. Eu não seria quem eu sou e não estaria onde estou se não fosse por ele", afirmou.

    A longa fila, que dobrava quarteirões no centro de Pretória e serpenteava em seu trecho final, estimulou um animado comércio ambulante. Fazia sucesso um carimbo com os dizeres "RIP Mandela" (descanse em paz, Mandela). Para marcar a pele com a inscrição em tinta dourada pagava-se 5 rands (R$ 1).

    "Já carimbei dezenas de pessoas", afirmou Sifiso Mbele, que teve a ideia e fez o carimbo em casa.

    A princípio, os sul-africanos que venciam a fila ainda tinham de entrar num ônibus para os metros finais, já que o Union Building fica no topo de uma colina. Mas como isso aumentava ainda mais o tempo de espera, os ônibus foram dispensados no início da tarde, e a marcha passou a seguir ladeira acima.

    Antes de o acesso ao público ser liberado, o corpo foi transportado de manhã do hospital onde estava até o local do velório. Nas primeiras horas, Mandela foi contemplado apenas pela família, amigos próximos e celebridades, como o roqueiro Bono.

    "Foi algo comovente ter visto Mandela ali no caixão. Ele era nosso líder, o chefe que nos inspirava", disse Kay Moonsamy, 87, que foi, junto de Mandela, um dos 150 réus no primeiro processo movido pelo regime do apartheid contra ativistas pró-democracia racial, nos anos 50.

    Moonsamy acabou sendo absolvido, após ter passado dois anos preso esperando julgamento. O velório está previsto para terminar amanhã. No domingo, Mandela será enterrado em Qunu, no interior do país, terra de seus ancestrais.

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