• Mundo

    Thursday, 02-May-2024 08:42:01 -03

    Cortes abrem crise no governo britânico e antecipam debate eleitoral

    LEANDRO COLON
    DE LONDRES

    07/01/2014 12h17

    A eleição geral de 2015 já começou no Reino Unido. A coalizão do governo David Cameron deu sinais de racha explícito depois que o ministro das Finanças, George Osborne, anunciou na segunda-feira que, se o Partido Conservador for reeleito, vai cortar 25 bilhões de libras (quase R$ 100 bilhões) do orçamento pelos dois anos seguintes, sendo 12 bi só na área social.

    Para Osborne, a missão dos conservadores de recuperar a economia britânica está longe de acabar e precisa de mais ajustes. "Por isso, 2014 será um ano de duras verdades", disse na declaração anual sobre as finanças públicas. Ele mencionou, por exemplo, que uma das propostas é cortar auxílios moradias a quem tem menos de 25 anos.

    O discurso dele caiu como uma bomba dentro da coalizão que o Partido Conservador do premiê David Cameron formou com o Liberal Democrata para governar desde 2010.

    O vice primeiro-ministro, Nick Clegg (liberal-democrata), reagiu a Osborne e afirmou que a posição do colega de governo é um "erro monumental". Segundo ele, o Partido Conservador age por impulso ideológico ao diminuir a participação do Estado na vida do cidadão.

    A crise ganhou as manchetes dos principais jornais britânicos desta terça-feira. Os liberais-democratas foram fundamentais para Cameron assumir como primeiro-ministro e têm sinalizado, diante dessa e de outras recentes divergências, que não há garantias de que vão manter a aliança em 2015, quando o Partido Trabalhista tentará retomar o poder do governo.

    No domingo, aliás, o primeiro-ministro David Cameron veio a público garantir que os pensionistas serão protegidos de qualquer medida a ser tomada a partir deste ano, com reajuste de 2,5% ao ano até 2020 se os conservadores continuarem no poder.

    Disse ainda que pretende manter sua intenção de alterar as regras da imigração no bloco europeu, com o objetivo de barrar a chegada de novos cidadãos da União Europeia (UE), e soltou promessas de melhoria dos serviços de saúde e educação.

    Todo esse movimento do premiê no começo de 2014 não é à toa. O pano de fundo é a eleição geral de 2015, tanto que, em suas declarações, Osborne e Cameron sempre mencionam que muitas das medidas dependem da manutenção dos conservadores no poder.

    Hoje, a disputa de 2015 apresenta um cenário incerto. Cameron precisa garantir os votos dos eleitores conservadores e, por isso, liberou seu ministro das Finanças a anunciar corte de gastos, inclusive na área social. Por outro lado, não pode abrir mão do eleitor de centro, que tem migrado para as candidaturas dos liberais-democratas.

    Enquanto isso, os trabalhistas pavimentam o discurso para retomar o governo, embora seu favorito ao posto de premiê, Ed Milidban, ainda seja um nome questionado na esfera política britânica.

    Na segunda (6), o partido atacou os recentes anúncios do governo Cameron, afirmando que não passam de medidas que buscam corrigir erros cometidos pela própria gestão dos conservadores.

    IMIGRAÇÃO

    Pesquisa divulgada hoje no Reino Unido diz que 77% dos britânicos defendem medidas de restrição à imigração. Entretanto, caiu de 53% para 47% a parcela que avalia que a chegada de estrangeiros prejudica a economia local.

    Os dados apontam, por exemplo, que 52% dos simpatizantes do Partido Conservador acreditam que a imigração interfere na cultura britânica. Já entre os eleitores trabalhistas, menos da metade, 40%, respondeu que esse fenômeno atrapalha as finanças do país.

    O foco da discussão atual sobre o tema está na mudança de regras para romenos e búlgaros. Os dois países entraram em 2007 na União Europeia, mas só a partir deste ano seus cidadãos ganharam trânsito livre para buscar emprego nos vizinhos mais ricos, como Reino Unido, França e Alemanha.

    O governo britânico entrou em pânico e promete barrar imigrantes que tentem entrar no país apenas um busca de benefícios públicos. Estima-se que hoje 141 mil romenos e búlgaros vivam no Reino Unido. Estudos indicam que entre 30 mil e 70 mil podem chegar todos anos com a nova regra.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024