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    Irã condena chat entre pessoas de sexo oposto que não sejam da mesma família

    SAMY ADGHIRNI
    DE TEERÃ

    08/01/2014 16h27

    O Irã decretou que é moralmente ilícito pessoas de sexo oposto sem vínculo marital ou familiar conversarem por chat na internet.

    A decisão foi anunciada na segunda-feira por meio de uma fatwa, decreto religioso emitido pelo líder supremo, aiatolá Ali Khamenei, máxima autoridade na república islâmica.

    A fatwa surgiu como resposta a um questionamento, postado no site oficial khamenei.ir, no qual um internauta perguntou ao líder supremo o que ele achava das conversas por mensagens instantâneas entre homens e mulheres.

    "Diante da imoralidade que muitas vezes envolve essas coisas, é algo que não é permitido", escreveu Khamenei.

    Embora a palavra do líder supremo possa ter grande impacto devido à sua estatura de autoridade espiritual absoluta na teocracia iraniana, não está claro se sua declaração transforma o chat em ato criminoso a ser reprimido ou se ela reflete apenas uma reprovação moral dos flertes on-line.

    "Diante da escassez de opções de lazer no país, a maioria dos jovens iranianos passa muito tempo procurando sua cara metade nas redes sociais. Eles se encontram, se relacionam e tudo acaba mal", disse à Folha a secretária Morvarid Abassi, 25.

    "Talvez o líder supremo esteja certo ao dizer que é imoral", ironiza a jovem.

    O eventual veto, porém, seria difícil de implementar no país onde metade dos 75 milhões de habitantes são usuários frequentes da internet, formando um dos maiores contingentes de internautas no Oriente Médio.

    Adeptos fervorosos das ferramentas de comunicação online, muitos iranianos recorrem a programas antifiltros que ajudam a despistar eventual rastreamento na internet e permitem contornar bloqueios do governo a milhares de sites estrangeiros, inclusive Facebook, Twitter e Instagram.

    Aos olhos de setores ultraconservadores, as redes sociais, que ajudaram a organizar os megaprotestos contra a reeleição supostamente fraudulenta de Mahmoud Ahmadinejad, em 2009, servem interesse dos inimigos do Estado teocrático.

    O ataque aos chats surge dias depois de as autoridades bloquearem o WeChat, um aplicativo chinês gratuito de mensagens por celular integrado às redes sociais. Sistemas semelhantes, como Viber e Whatsapp, continuam acessíveis.

    A promessa por maiores liberdades individuais e na internet foi um dos temas centrais da campanha que elegeu, em junho, o presidente Hasan Rowhani, que pressiona desde então pelo alívio do cerco à internet. Rowhani e vários de seus ministro possuem contas no Facebook e Twitter.

    O ministro da Cultura, Ali Janati, chamou os bloqueios às redes sociais de "ilegais."

    Mas, no fragmentado sistema de governo iraniano, os esforços do governo por maior liberalização esbarram na pressão contrária de clérigos e membros do aparelho securitário, que ainda detêm a palavra final em questões morais e sociais.

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