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    Papa Francisco diz que aborto significa "descartar seres humanos"

    REINALDO JOSÉ LOPES
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    13/01/2014 12h08

    O papa Francisco fez nesta segunda-feira sua declaração mais dura até agora contra a prática do aborto, na mensagem de início de ano aos diplomatas que servem de embaixadores de seus países no Vaticano.

    O pontífice disse que "causa horror o simples pensamento de que existam crianças que jamais poderão ver a luz do dia, vítimas do aborto" e do que descreveu como uma "cultura do descarte".

    "Infelizmente, objetos de descarte não são apenas os alimentos ou os bens supérfluos, mas muitas vezes os próprios seres humanos", afirmou Francisco.

    Andrew Medichini/Reuters
    Papa Francisco acompanha audiência com diplomatas no Vaticano; ele disse que aborto significa "descartar seres humanos"
    Papa Francisco acompanha audiência com diplomatas no Vaticano; ele disse que aborto significa "descartar seres humanos"

    A mensagem reafirma seu compromisso com a doutrina tradicional católica sobre questões de bioética e moralidade sexual, embora ele tivesse criticado o excesso de ênfase sobre esses temas por parte da igreja.

    Para os setores mais conservadores, o aborto tem sido o calcanhar de aquiles de Francisco, em especial quando comparado a João Paulo 2º, que transformou a luta contra a prática num dos grandes temas de seu pontificado. Até mesmo um bispo, o americano Thomas Tobin, o criticou por não abordar diretamente a questão.

    Os católicos conservadores se mostraram descontentes em outros aspectos, como a relutância de Francisco em se referir a si mesmo como papa (preferia "bispo de Roma") e a criação de restrições à celebração da missa em latim.

    Também chocou certas alas da igreja ao dizer que "Deus não é católico" e a dar a entender que, ao menos em certos casos, católicos divorciados poderiam voltar a receber a comunhão.

    Nos últimos meses, porém, o papa tem reafirmado os ensinamentos tradicionais. A Congregação para a Doutrina da Fé, órgão máximo do Vaticano nessa área, declarou que não havia mudanças no horizonte para católicos divorciados.

    Além disso, em seu principal documento doutrinário até agora, a exortação apostólica "Evangelii Gaudium" (alegria do Evangelho), divulgada em novembro, Francisco afirmou que "a defesa da vida por nascer está intimamente ligada à defesa de qualquer direito humano".

    DIREITOS HUMANOS

    A questão dos direitos humanos talvez seja a chave para entender a mudança de ênfase do magistério do papa.

    Quando apontou a "obsessão" do catolicismo com as questões de moral sexual e pediu um olhar mais focado nas questões sociais, Francisco não estaria negando a doutrina tradicional, mas apresentando todas as mazelas da "cultura do descarte".

    De fato, a menção ao "horror" do aborto é apenas uma frase em meio a um parágrafo do discurso no qual Francisco também chama a atenção dos diplomatas para as crianças que passam fome, são forçadas a se tornarem soldados, morrem em conflitos ou são vítimas do tráfico internacional de pessoas.

    No discurso desta segunda, outro tema que interessa diretamente à igreja foi lembrado: a liberdade de culto. O papa tem ressaltado os "mártires modernos" –cristãos perseguidos e mortos por sua crença na África e na Ásia, principalmente.

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