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    Vaticano diz que não há desculpa para abuso sexual de crianças

    DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

    16/01/2014 08h55

    Na primeira vez em que o Vaticano foi confrontado em sessão pública sobre acusações de abuso sexual cometido por sacerdotes contra menores, representantes da Santa Sé disseram que não há desculpas para o crime , e negaram obstruir as investigações policiais.

    A sessão ocorreu em Genebra (Suíça), na primeira reunião que o Comitê da ONU para os Direitos da Criança fez para a discussão do assunto.

    A participação do Vaticano sinaliza a nova diretriz do papa Francisco, que defendeu "atuação decisiva" contra escândalos e mudou leis penais do Vaticano para tornar crime as ofensas sexuais.

    A igreja é acusada, principalmente desde o início dos anos 2000, de encobrir escândalos de abuso. Com isso, a ONU abriu inquérito sobre a suspeita de violação, pelo clero, da Declaração Universal dos Direitos da Criança –da qual o Vaticano é signatário.

    Fabricce Coffrini/AFP
    Homem acusa igreja de proteger pedófilos e pede justiça secular diante da ONU em Genebra
    Homem acusa igreja de proteger pedófilos e pede justiça secular diante da ONU em Genebra

    Na sessão desta quinta-feira, o representante do Vaticano na ONU, monsenhor Silvano Tomasi, disse que há abusadores em todas as profissões, incluindo o clero, e que esse crime nunca deve ser justificado, seja onde for –"em casa, nas escolas, no esporte ou nas organizações religiosas".

    Tomasi prometeu a ajuda da Santa Sé –que, segundo ele, se dispõe a receber sugestões de como coibir a prática–, mas criticou a comissão da ONU por ter acusado a igreja de obstruir a investigação: "Ao contrário, queremos que haja transparência e que a igreja siga seu curso".

    Em 2013, a Santa Sé se negou a dar mais informações à ONU sobre seus procedimentos canônicos para punir padres acusados. O Vaticano diz fazer isso devido às diferenças entre os direitos laico e canônico e defende que os casos sejam julgados nos países onde os abusos ocorreram.

    Para a responsável pela comissão da ONU, Sara Oviedo, a Igreja Católica tem de dar o exemplo. "Os castigos aplicados nunca parecem refletir a gravidade dos fatos", disse.

    Os primeiros casos de sacerdotes que abusaram de menores foram denunciados nos EUA, no início da década passada; em 2003, após 500 processos, a Arquidiocese de Boston aceitou indenizar as vítimas em US$ 85 milhões.

    Em seguida, escândalos atingiram igrejas de vários países da Europa. Na Irlanda, relatório acusou líderes eclesiásticos de proteger abusadores por mais de três décadas; na Alemanha, centenas acusaram padres de abuso sexual ou físico desde 2010.

    Houve denúncias também na América Latina. O acusado mais notório foi o fundador mexicano do movimento Legionários de Cristo, Marcial Maciel, morto em 2008.

    PAPA

    Em missa ontem pela manhã, o papa Francisco disse que os escândalos da igreja são "tantos" que não podem ser citados individualmente e são a "vergonha" da instituição, sem mencionar explicitamente as acusações de pedofilia. "Essas pessoas não têm uma ligação com Deus. Tinham apenas uma posição na igreja, uma posição de poder", afirmou ele, referindo-se aos acusados.

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