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    Parentes de líderes da China investem em paraíso fiscal, diz imprensa

    MARCELO NINIO
    DE PEQUIM

    22/01/2014 05h51

    Parentes dos principais líderes da China mantem fortunas em paraísos fiscais, segundo dados descobertos pelo Consórcio Internacional de Jornalismo Investigativo (CIJI).

    Ao menos 13 familiares de dirigentes do alto escalão do governo ou de comunistas históricos são apontados como operadores de empresas offshore nas Ilhas Virgens Britânicas e outros locais associados a fundos secretos.

    É o que o relatório chama de "nobreza vermelha".

    Entre os citados está o cunhado do atual líder presidente, Xi Jinping, o filho e o genro do ex-premiê Wen Jiabao, um primo do ex-presidente Hu Jintao e a filha de outro ex-premiê, Li Peng.

    A informações são motivo de constrangimento para o governo de Xi Jinping, que deslanchou uma cruzada contra a corrupção e a ostentação desde que tomou posse, em março de 2013.

    Num sinal da sensibilidade provocada pelo assunto, foram bloqueados nesta quarta-feira na China os sites na internet de jornais que publicaram os dados, como "El Pais" (Espanha), "Guardian (Reino Unido), "Le Monde" (França) e "Süddeutsche Zeitung" (Alemanha).

    As descobertas do CIJI tem como base mais de 2,5 milhões de documentos vazados por duas administradoras que operam nas Ilhas Virgens, Portcullis TrustNet e Commonwealth Limited.

    Foram identificados 22 mil clientes de paraísos fiscais com endereço em Hong Kong ou na China, de acordo com o relatório.

    "Entre eles estão alguns dos homens e mulheres mais poderosos da China, incluindo os 15 mais ricos, membros do Congresso Nacional do Povo, executivos de estatais envolvidos em escândalos de corrupção", afirma o CIJI.

    As autoridades chinesas não tem obrigação de declarar seus bens, mas os dados mostram como a abertura da economia chinesa nos últimos anos enriqueceu uma elite ligada ao poder.

    De acordo com estimativas, entre US$1 trilhão e US$ 4 trilhões deixaram o país de forma ilegal desde 2000.

    Um dos casos que chamam mais atenção é o de Deng Jiagui, empresário de sucesso que começou a ascensão após casar-se com Qi Qiaoqiao, irmã de Xi Jinping.

    Ele, a mulher e a filha tem milhões de dólares em propriedades em Hong Kong, Shenzhen e Pequim, segundo a investigação.

    O filho do ex-premiê Wen Jiabao, Wen Yunsong, também criou uma empresa nas Ilhas Virgens. Uma reportagem de 2012 do "New York Times" conclui que a fortuna da família Wen chega a US$ 2,7 bilhões. O site do jornal está bloqueado no país desde então.

    O governo chinês foi evasivo sobre as revelações, mas não escondeu sua irritação.

    O porta-voz Qin Gang, do Ministério das Relações Exteriores, questionou a veracidade dos dados e insinuou que há "uma intenção" por trás da investigação.

    Questionado se o governo iria investigar as revelações, ele foi enigmático. "Quem é sujo, é sujo. Quem é limpo, é limpo", respondeu.

    JULGAMENTO

    A revelação das fortunas de pessoas próximas ao poder ocorreu poucas horas antes do julgamento do advogado Xu Zhiyong, conhecido pelas campanhas pela transparência nas contas pessoais das autoridades.

    Preso em julho, Xu manteve-se em silêncio durante o julgamento, em protesto. Só falou no fim. Mas foi interrompido pelo juiz, que disse que não permitiria um "discurso político".

    "Os ricos mandaram seu dinheiro e filhos para o exterior, eles não se importam com o sofrimento dos vulneráveis, mas nós nos importamos", disse Xu, um dos líderes do movimento de direitos civis Novos Cidadãos.

    A imprensa não teve acesso ao julgamento. Jornalistas estrangeiros que tentaram chegar perto da corte foram removidos à força.

    A sentença de Xu deve ser anunciada em breve. Seu advogado prevê que ele pegará cinco anos de prisão, a pena máxima pelo crime de que é acusado, "perturbação da ordem".

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