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    Figura polêmica, ex-premiê Sharon liderou retirada de territórios palestinos

    DE SÃO PAULO

    12/01/2014 10h12

    O ex-premiê Ariel Sharon, que morreu ontem (11) aos 85 anos, foi um dos nomes mais importantes da política israelense. Membro-fundador do direitista Likud e fundador do centrista Kadima, ele foi premiê entre 2001 e 2006, quando um derrame o deixou em coma até o fim da vida.

    Nascido em 26 de fevereiro de 1928, Ariel Sharon recebeu treinamento militar desde cedo. Com 14 anos, se incorporou à Hagana, a força de defesa judaica que protegia os kibbutz (fazendas coletivas) de invasões de beduínos e dos vizinhos árabes.

    Ele serviu às Forças de Defesa de Israel por mais de 25 anos –tendo comandado operações militares cruciais que influenciaram fortemente a trajetória israelense na Guerra da Independência (1948), Guerra dos Seis Dias (1967) e Guerra de Yom Kippur (1973).

    Sharon também teve papel de destaque na Guerra de Suez (1956), quando Israel, Reino Unido e França atacaram o Egito após sua medida de nacionalizar o canal de mesmo nome. Foi ele quem comandou a equipe que conquistou o controle da passagem Mitla, na península de Sinai, ação que lhe rendeu elogios pela capacidade militar e criticismo pela liderança autoritária.

    Depois da guerra, ele estudou teoria militar na Inglaterra e direito na Universidade Tel Aviv até 1966. Em julho de 1973, ele deixou as Forças Armadas de Israel, mas foi reconvocado em outubro, para lutar na Guerra de Yom Kippur [que opôs uma coalizão de Estados árabes liderados por Egito e Síria e Israel].

    Conhecido como Arik entre os amigos, o premiê israelense foi casado duas vezes. Sua primeira mulher, Margalith, morreu em um acidente de carro em 1962. Com ela, Sharon teve um filho, Gur, que morreu em 1967 após alvejar-se acidentalmente quando brincava com o rifle do pai.

    Ele casou-se ainda com a sua cunhada Lily, irmã mais nova de Margalith, mãe de seus dois outros filhos –Omri e Gilead. Lily morreu em 2000.

    POLÍTICA

    A fama de impulsivo, incontrolável e dogmático fez com que Sharon ganhasse muitos inimigos nas linhas militares de Israel e o manteve distante dos cargos de liderança que a carreira brilhante poderia lhe render.

    Em dezembro de 1973, Sharon decidiu partir para o mundo da política e foi um dos nomes mais importantes na criação do partido direitista Likud. No mesmo ano, ele foi eleito membro do Knesset (Parlamento), renunciando um ano depois para servir como assessor de segurança do então primeiro-ministro Yitzhak Rabin (1974-1977 e 1992-1995).

    Em 1977, Sharon foi reeleito para o Knesset e assumiu como ministro de Agricultura do então primeiro-ministro Menachem Begin, colega de partido. No cargo, defendeu a construção dos assentamentos judaicos nas colônias de territórios árabes.

    Begin indicou Sharon para ministro de Defesa em junho de 1981. No ano seguinte, ele foi o principal arquiteto da invasão israelense ao Líbano, uma guerra para destruir o quartel-general da Organização para a Libertação Palestina (OLP).

    Ele renunciou ao cargo em 1983, embora tenha continuado em diversos postos do governo na próxima década –como ministro de Indústria e Comércio (1984-1990) e ministro de Construção e Habitação (1990-1992).

    Em 1996, o então premiê Binyamin Netanyahu criou o posto de ministro de Infraestrutura Nacional para Sharon. Dois anos depois, ele foi nomeado ministro de Relações Exteriores. No cargo, conduziu negociações até um acordo final com a ANP (Autoridade Nacional Palestina).

    Ele também acompanhou Netanyahu até Wye River Plantation –local nos EUA onde foram realizadas conversas de paz entre líderes palestinos e israelenses–, tendo atuado como chefe da negociação.

    Depois da eleição de Ehud Barak (1999-2001) como primeiro-ministro, em maio de 1999, Sharon foi eleito líder interino do partido direitista Likud. Logo depois, em setembro, ocupou o cargo de chefe do partido.

    Em 2000, Sharon viu seu nome envolvido em mais uma controvérsia. Como líder direitista, ele visitou a Esplanada das Mesquitas, em Jerusalém, um local sagrado tanto para judeus quanto para muçulmanos.

    O episódio acirrou a tensão entre israelenses e palestinos. Pouco depois, as negociações de paz foram interrompidas e uma nova onda de violência toma conta da região, a Segunda Intifada, que deixou grande número de mortos dos dois lados.

    PREMIÊ

    Em dezembro de 2000, Barak renunciou e uma nova eleição foi marcada para fevereiro do ano seguinte. Sharon anunciou sua candidatura e, desiludidos com o fracasso de Barak de interromper os confrontos, os israelenses votam nele com a maior margem da história do país.

    A violência, contudo, continuou e, em 2003, Sharon revelou um plano que, segundo ele, asseguraria um alto grau de segurança para os israelenses e melhoraria as vidas dos palestinos. Para isso, Israel deveria agir unilateralmente e retirar os assentamentos judaicos da faixa de Gaza e Cisjordânia.

    Entre 16 e 30 de agosto de 2005, Israel retirou com segurança mais de 8.500 colonos dos territórios palestinos. No dia 11 de setembro de 2005, soldados israelenses deixaram Gaza, colocando fim a uma presença israelense de 38 anos na área.

    A implementação do plano de retirada foi vista como um sucesso pela maioria do povo de Israel, apesar de ter espalhado protestos dos ministros do Likud, causando uma divisão no partido.

    Dois meses depois, no dia 21 de novembro de 2005, Sharon deixa o Likud e forma o partido centrista Kadima. Ele esboçou os objetivos de seu próprio partido e um deles, disse, era seguir com atenção o plano de paz apoiado pelos EUA.

    Sharon declarou que não haveria mais retiradas unilaterais da Cisjordânia e insistiu que os grupos terroristas palestinos fossem desarmados e desmantelados.

    Em dezembro de 2005, Sharon passou dois dias no hospital após sofrer um pequeno derrame, que os médicos disseram não ter causado nenhuma lesão cerebral irreparável. Contudo, no dia 4 de janeiro de 2006, foi levado ao hospital por causa de outro derrame mais sério, sofrendo hemorragia cerebral intensa. Ele nunca saiu do coma.

    As obrigações de primeiro-ministro foram transferidas para Ehud Olmert, que ordenou um encontro de gabinete, no dia 5 de janeiro de 2006, para assinar a transferência de poder.

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