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    Em eleição neste domingo, El Salvador deve trocar PT por chavismo

    SYLVIA COLOMBO
    DE SÃO PAULO

    02/02/2014 02h30

    Numa disputa embolada, a Frente Farabundo Martí para a Libertação Nacional (FMLN) busca garantir a continuidade no poder em El Salvador com uma fórmula mais próxima do bolivarianismo venezuelano do que do PT brasileiro.

    Espera-se que cerca de 4 milhões de salvadorenhos votem hoje para escolher entre o vice da atual gestão e ex-guerrilheiro, Salvador Sanchez Cerén, 69, e o direitista Norman Quijano (Arena), 67, ex-prefeito de San Salvador.

    As pesquisas mostram que a FMLN tem entre 38% e 46% das intenções de voto enquanto a Arena, entre 29% e 33%. Se ninguém atingir 50% mais um, haverá segundo turno no dia 9 de março.

    A ex-guerrilha chegou ao poder em 2009 com uma campanha comandada pelo marqueteiro de Dilma Rousseff, João Santana. O presidente eleito então, Maurício Funes, tem forte vínculo com o PT e sua mulher, a brasileira Vanda Pignato, é petista.

    Desta vez, o PT acompanha de maneira indireta, mas a campanha da FMLN ainda é feita por uma firma brasileira, a Entrelinhas, próxima ao partido brasileiro.

    "O discurso mais à esquerda, com tintas bolivarianas, agrada a um país em que a pobreza segue sendo um problema difícil. Só temos 20% da população na classe média estável e mais de 40% na pobreza. Sanchez Cerén apostou em falar a esse público", diz à Folha o filósofo José Maria Tojeira, ex-reitor da Universidade Centro Americana.

    Editoria de Arte/Folhapress

    Na gestão Funes, El Salvador atuou com moderação, mantendo a aliança com Washington, apesar das inclinações a Cuba e Venezuela. Agora, especialistas apontam que Cerén seria mais propenso a pender para o lado latino.

    Em entrevista ao jornal espanhol "El País", Funes negou a guinada bolivariana. "Nos identificamos com as transformações levadas a cabo na Venezuela, mas não podemos ter um enfrentamento com os EUA com um terço de população vivendo lá."

    A eleição de hoje será a quinta depois da guerra civil (1980-1992) que deixou mais de 70 mil mortos. As primeiras três foram vencidas pela direita, que agora aposta em promessas de segurança.

    "A violência continua a ser um problema. Agora trata-se da guerra entre gangues", diz o jornalista Óscar Martinez. Apesar da trégua entre quadrilhas, assinada em março de 2012, ainda é grande o número de vítimas –de lá para cá, caiu pela metade, de 12 para 6 assassinatos por dia.

    As gangues Barrio 18 e MS-13 foram formadas no sul da Califórnia, mas hoje atuam nas cidades salvadorenhas. "As deportações que o governo norte-americano está promovendo nos enviam um exército de estrangeiros, gente que não se reconhece em El Salvador porque nasceu lá. Aqui, não têm oportunidades, e muitos caem na criminalidade", diz Martínez.

    Editoria de Arte/Folhapress

    O candidato da situação é criticado por ser vago com relação à questão. Já Quijano propõe usar o Exército no combate às gangues e acusa a FMLN de ter feito um pacto com grupos criminosos. A trégua foi negociada em troca de benefícios penitenciários.

    O economista Roberto Rubio duvida da eficiência de um discurso mais radical à esquerda, pois vê o país muito transformado nos últimos dez anos. "Hoje, El Salvador é mais urbano. O camponês não existe mais como estereótipo. O homem do campo anda de bicicleta, não a cavalo."

    A corrupção também apareceu. A FMLN explorou a investigação contra o presidente conservador Francisco Flores (1999-2004), acusado de receber cheques de US$ 10 milhões de Taiwan.

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