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    Solteirice de Hollande complica jantar de gala na Casa Branca

    PETER BAKER
    DO "NEW YORK TIMES"

    11/02/2014 09h04

    Quando o presidente Barack Obama convidou seu colega francês, François Hollande, para um jantar de Estado, a Casa Branca redigiu uma lista de 300 convidados para homenagear o líder visitante e sua parceira, Valérie Trierweiler. Convites gravados com o selo presidencial dourado ao alto foram impressos e preparados para envio.

    Então algo inesperado aconteceu. O relacionamento de Hollande com Trierweiler implodiu, em meio a revelações sobre um caso que o presidente vinha mantendo com uma atriz francesa à qual fazia visitas clandestinas de moto. De uma hora para outra, Trierweiler deixou de ser a primeira-dama extraoficial da França e não iria mais à Casa Branca.

    Os convites em papel marfim espesso, com as palavras "o presidente e a sra. Obama solicitam o prazer da companhia" de cada convidado tiveram que ser destruídos, sendo impressos outros, sem o nome de Trierweiler.

    Alain Jocard - 10.fev.2014/AFP
    Hollande visita Monticello, residência oficial do ex-presidente Thomas Jefferson(1743-1826)
    Hollande visita Monticello, residência oficial do ex-presidente Thomas Jefferson (1743-1826)

    "L'affaire" Hollande está se revelando uma ligação perigosa para a Casa Branca, regida por tradições. Embora isso não seja inteiramente sem precedentes, poucos líderes estrangeiros chegam desacompanhados à mansão executiva para o jantar de gala mais formal e prestigioso de Washington, e ainda menos líderes estrangeiros se separam de suas companheiras, legalmente reconhecidas ou não, semanas apenas antes das festividades.

    O departamento social da Casa Branca passou alguns dias, pelo menos, sem saber se a outra mulher –identificada pelo semanário tablóide "Closer" como a atriz Julie Gayet, 18 anos mais jovem que Hollande, 59– viria no lugar de Trierweiler (não será o caso).

    Tudo isso criou desafios para a equipe da Casa Branca, já apreensiva por ter de organizar o primeiro jantar de Estado em quase dois anos, e ainda para convidados franceses, acostumados à "haute cuisine". Não haverá o tradicional chá ou café de Michelle Obama com a parceira do líder convidado, e a primeira-dama americana não terá ninguém para levar em visita a uma escola local, como já fez com cônjuges passadas.

    A virada na vida privada de Hollande criou uma série de outras interrogações para a Casa Branca: quem colocar ao lado do presidente francês na cadeira que Trierweiler teria ocupado? O entretenimento escolhido seria inapropriado? Deve haver dança, se o convidado de honra, em situação romântica complicada, não tem com quem dançar?

    Não obstante tudo isso, a Casa Branca está fazendo um esforço especial para destacar os vínculos históricos e culturais dos EUA com a França.

    Obama vai levar Hollande a Charlottesville, Virgínia, na segunda-feira para conhecer a mansão Monticello, que foi residência do mais destacado francófilo da América dos tempos da Revolução, Thomas Jefferson. Qualquer programa concomitante que normalmente teria sido organizado para a companheira do líder francês com certeza já foi cancelado.

    O jantar de Estado terá lugar na noite de terça-feira. Os Obama serão os anfitriões de um evento black-tie extravagante, um jantar de muitos pratos com a presença de autoridades governamentais, empresários, celebridades e levantadores de fundos para políticos.

    Para acomodar a grande lista de convidados, o jantar vai acontecer não no Salão de Jantar de Estado, com lugar para 135 pessoas, mas num pavilhão amplo montado no Gramado Sul, com capacidade para 300 pessoas.

    HONRA

    O jantar de Estado sempre foi um dos eventos presidenciais mais festejados, "um evento que destaca o poder e a influência globais", nas palavras da Associação Histórica da Casa Branca. O primeiro presidente a ter promovido um jantar de Estado para um líder estrangeiro foi Ulysses S. Grant, que em 1874 homenageou o rei David Kalakaua das ilhas Sandwich, hoje conhecidas como Havaí.

    Poucos presidentes usaram esses eventos com tanta eficácia quanto Ronald Reagan, que promoveu 35 deles em seus oito anos na Casa Branca, e o primeiro George Bush, em cujos quatro anos na Presidência houve 21 desses jantares.

    Clinton promoveu 23, mas, em tempos de guerra e turbulência econômica, seus dois sucessores demonstraram menos apreço pessoal e político pelo costume. O presidente Bush mais jovem promoveu apenas seis, o mesmo número de Obama até agora.

    Os chineses pressionaram Bush a oferecer um jantar de Estado, mas ele se limitou a um almoço. Os turcos pressionaram Obama, mas, após denúncias sobre suas políticas domésticas, tiveram que contentar-se com uma visita oficial.

    No outono passado, pela primeira vez na história moderna, uma líder cancelou um jantar de Estado: a presidente brasileira Dilma Rousseff, que reagiu com indignação ao saber que tinha sido espionada pela Agência Nacional de Segurança.

    Os poucos jantares de Estado promovidos no governo Obama têm sido eventos cheios de pompa que foram criticados pelas despesas, altas devido ao número de convidados e ao entretenimento de alto custo feito por artistas como Beyoncé, que podem abrir mão de cachês, mas mesmo assim requerem equipamentos, iluminação, técnicos e até máquinas de vento.

    No incidente mais famoso, o jantar promovido para o premiê da Índia foi invadido por penetras, candidatos a participantes num reality show que conseguiram entrar na Casa Branca sem ser convidados.

    Obama e Hollande não têm uma relação pessoal forte, e os EUA estão sem embaixador em Paris desde o verão americano passado. Mas a França tornou-se fundamental para a política externa dos EUA na Síria, no Irã e outros lugares.

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