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    Análise: Movimento estudantil volta a preencher vazio político

    DIMITRI V. PANTOULAS
    ESPECIAL PARA A FOLHA

    15/02/2014 03h55

    Era maio de 2007, e alguns meses antes o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, tinha vencido a eleição com espantosos 62,8% dos votos; a oposição estava desorganizada, após derrotas políticas repetidas, e a economia nacional crescia a impressionantes 10% ao ano.

    Os sinais eram positivos para Chávez, mas a decisão de não renovar a licença do canal privado e abertamente antigoverno RCTV suscitou insatisfação pública e manifestações de rua.

    O ator principal foi o movimento estudantil, que levou à esfera pública novas formas de protesto. Essas ações catalisaram a mais importante derrota política que Chávez sofreria: a da reforma constitucional, em 2 de dezembro de 2007. Não obstante, o movimento se enfraqueceu logo após isso, e o antagonismo entre Chávez e oposição foi restaurado.

    Nesta última semana, o movimento estudantil vem se reativando e, para muitos analistas, a situação se assemelha à de 2007. Às similaridades, então: o presidente Maduro, após um ano político turbulento, conseguiu uma vitória clara nas eleições locais de dezembro.

    Isso pôs fim às alegações da oposição sobre a legitimidade dele e estabilizou sua posição, como fizeram as eleições de 2006 para Chávez.

    Ademais, a derrota da oposição em dezembro assinalou o fim de um ciclo político de concessões e estratégias, que começou em 2008. Enquanto as forças opositoras olham para o próprio umbigo, o movimento estudantil se configura como a única força capaz de preencher um vazio político, como fez em 2007.

    Contudo, há diferenças importantes entre os dois períodos. Para começar, os estudantes que vêm se manifestando há uma semana o fizeram depois de dois líderes opositores da linha dura terem lançado um chamado por manifestações de rua –cujo objetivo último é a derrubada do governo.

    Em 2007, o movimento foi de baixo para cima, com menos ligação visível com atores políticos. Chávez chamava os estudantes de "fascistas" e "meninos mimados" que queriam afastá-lo do poder, enquanto o governo atual ataca os líderes por trás das manifestações.

    Além disso, o governo argumenta que a violência de rua vem de grupos que não estão ligados aos estudantes.

    Mesmo assim, as manifestações não parecem transcender as divisões de classe da sociedade, nem tampouco conseguiram converter-se em um movimento de massas que possa prejudicar o governo no curto prazo.

    Não obstante as diferenças e semelhanças entre a situação atual e a de 2007, devemos destacar que o país se encontra em situação crítica.

    O modelo econômico do socialismo do século 21 (inflação alta, crescimento econômico alto, desemprego baixo e importações financiadas pelo petróleo) está enfraquecendo, enquanto crescem problemas sociais como a criminalidade violenta, criando condições para uma crise socioeconômica. Os sinais não são alentadores.

    DIMITRIS V. PANTOULAS é analista político, consultor e vive em Caracas

    @DPantoulas

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