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    Irã cobra 'retomada' de relação com Brasil

    SAMY ADGHIRNI
    DE TEERÃ

    17/02/2014 03h10

    O chefe do Legislativo do Irã, Ali Larijani, um dos homens mais poderosos do regime islâmico, recebeu quatro parlamentares brasileiros, a quem transmitiu a expectativa iraniana de reverter o declínio nos laços bilaterais.

    "Nossas relações poderiam ser muito maiores", disse Larijani ontem à comitiva formada pelos senadores Valdir Raupp (PMDB-RO) e Eduardo Suplicy (PT-SP) e pelos deputados Ivan Valente (PSOL-SP) e Edson Santos (PT-RJ).

    A visita dos políticos brasileiros a Teerã ocorre por iniciativa do Irã, que sinaliza ter apostado no diálogo parlamentar para compensar o esfriamento em outras frentes.

    "Tivemos uma cooperação muito boa, especialmente na época do presidente Lula, que até se envolveu na questão nuclear", disse Larijani, numa referência à proposta turco-brasileira para apaziguar tensões nucleares, em 2010.

    Samy Adghirni/Folhapress
    Presidente do Parlamento iraniano (centro, em pé), Ali Larijani, recebe senadores brasileiros Valdir Raupp (à esq.) e Eduardo Suplicy
    Presidente do Parlamento iraniano (centro, em pé), Ali Larijani, recebe senadores brasileiros Valdir Raupp (à esq.) e Eduardo Suplicy

    O plano, costurado em visita de Lula ao país, determinava que o Irã despacharia ao exterior seu urânio mais enriquecido. Em troca, receberia do Ocidente o combustível nuclear que alega ser necessário para fins medicinais.

    A proposta acabou torpedeada pelas potências ocidentais, apesar de o presidente dos EUA, Barack Obama, ter enviado a Lula, semanas antes da viagem do petista, uma carta secreta anunciando apoio à iniciativa turco-brasileira. A Folha revelou o teor da correspondência.

    "Lula me mostrou a carta", disse Larijani, presenteado por Suplicy com uma camisa oficial da seleção brasileira.

    O governo Dilma Rousseff não deu continuidade à tentativa de mediação e se afastou do Irã e de outros países fora da órbita tradicional da política externa brasileira.

    O desinteresse político da presidente é tido por diplomatas e analistas como um dos fatores que derrubaram o comércio bilateral, dominado por exportações brasileiras de milho, açúcar e carne. A corrente passou de US$ 2,4 bilhões (R$ 5,7 bilhões) em 2011 para US$ 1,6 bilhão (R$ 3,8 bilhões) no ano passado.

    "A cooperação comercial caiu, e parte disso se deve às sanções. Mas sabemos que vocês podem muito mais. Da nossa parte, não há nenhum empecilho", disse o iraniano.

    Larijani lembrou que potências ocidentais se movimentam para reatar laços comerciais com o Irã, na esteira do acordo pelo qual Teerã aceitou frear seu programa nuclear em troca de um alívio parcial das sanções.

    OPORTUNIDADES

    Grandes oportunidades de negócios se abrem com a convergência de interesses.

    Iranianos precisam recuperar investimentos e retomar exportações de petróleo em larga escala, enquanto ocidentais voltam a disputar abertamente o mercado da república islâmica, que tem 77 milhões de habitantes e imensas reservas de gás e petróleo.

    "Espero que essa visita abra as portas para continuarmos [a relação da era Lula]", disse Larijani, que também cobrou do Brasil maior participação em gestões diplomáticas no Oriente Médio.

    Os parlamentares brasileiros, que chegaram no sábado e retornam ao Brasil hoje, concordam que as relações estão abaixo do potencial.

    Valdir Raupp, um dos líderes da ala governista do PMDB, prometeu levar o tema a Dilma. "Houve uma redução, mas as pontes não foram dinamitadas. O potencial comercial é enorme", declarou o senador à Folha.

    Valente fez críticas mais diretas ao distanciamento do governo brasileiro: "Lula teve uma postura ousada e abriu uma porta importante. Foi um erro esse recuo".

    Para o deputado do PSOL, o Brasil deveria fazer parte dos países que vêm respondendo à "sinalização importante" enviada pelo Irã por meio do acordo nuclear.

    Edson Santos disse que a viagem ajudará a desconstruir a imagem negativa do Irã. Suplicy, por sua vez, elogiou o ensino superior iraniano e o programa de remessas de dinheiro pelo qual cada cidadão recebe o equivalente a US$ 20 mensais –o senador afirmou que o sistema se assemelha à sua proposta de programa de renda mínima.

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