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    Provável premiê italiano divide população

    LUISA BELCHIOR
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM FLORENÇA

    20/02/2014 03h24

    Nem Barack Obama, nem Tony Blair. Para moradores de Florença, o líder do Partido Democrata italiano e até a semana passada prefeito da cidade, Matteo Renzi, está mais para Dante, Mussolini e até Silvio Berlusconi.

    O ex-prefeito foi convocado segunda-feira pelo presidente Giorgio Napolitano a formar um novo governo, o que na prática deve torná-lo o próximo premiê da Itália.

    Foi na prefeitura, seu único cargo público, que o italiano de 39 anos angariou a popularidade que deve levá-lo a ser o chefe de governo mais jovem da história do país e que o tornou celebridade na Europa em cinco dias.

    O nome de Renzi tomou conta dos jornais, e as livrarias expõem nas vitrines uma fila de biografias sobre ele. Mas os florentinos não se mostram muito animados com o ex-dirigente.

    À reportagem, eles elogiaram sua atuação na prefeitura, mas se disseram céticos quanto à sua capacidade de gerir todo um país e lidar com questões mais macro, como o desemprego, a economia e o gargalo político da Itália.

    "Ele é ambicioso e resolveu muitos problemas da cidade. Tem um quê de Dante [Alighieri, poeta do século 13], porque também é de Florença, mas acho que é inexperiente para grandes tarefas. Vamos ver", opinou a vendedora Carla Fiouri, 56.

    Renzi obteve popularidade com um amplo projeto, que fechou para os carros as principais ruas do centro histórico, desafogando a afluência de moradores e dos cerca de 10 milhões de turistas que visitam a cidade a cada ano.

    PREFEITO AOS 35

    O plano foi uma de suas principais medidas quando assumiu, aos 35 anos, o governo local. E também lhe valeu a simpatia dos cidadãos, mais até do que a sua oratória e carisma, similares aos de Barack Obama, e a postura juvenil, como a do ex-premiê britânico Tony Blair ao assumir o posto, em 1997.

    "O centro melhorou muito. Aqui era cheio de carro e de gente na rua, era um caos", contou Alessandro Basso, dono de um restaurante no centro. "Espero que ele também faça isso com a bagunça que é nossa política".

    Desde que articulou pela demissão do ex-premiê Enrique Letta, seu colega de partido, Renzi vem sendo alvo de críticas na imprensa, para quem ele garantia que nunca assumiria nenhum posto para o qual não fosse eleito por voto popular. Os jornais também têm apontado um possível despreparo de Renzi.

    "Ele tem um espírito de aventura e um discurso no estilo Mussolini, que funcionou em Florença porque modernizou a cidade, mas no nível nacional é perigoso. Há a pressão da Europa por estabilidade, o problema da falta de maioria no Parlamento e a crise", avaliou o jurista Giancarlo Biase.

    Ao aceitar a convocação de Napolitano, Renzi anunciou que fará um plano de reformas eleitorais, legislativas, trabalhistas, fiscal e administrativa nos próximos meses.

    À frente da prefeitura, ele chegou a travar disputa com o governo nacional pela "guarda" da estátua de David, obra-prima de Michelangelo, uma das principais atrações da capital toscana.

    "Cansei de ver obra aqui, mas ele nunca se empenhava para criar mais empregos ou pelos imigrantes", disse o aposentado húngaro Giovanni Sloska, 75, que vive na cidade há 23 anos e há cinco pede dinheiro na rua.

    "Sei que ele é o avesso de [Silvio] Berlusconi, mas no fundo acho que ele tem esse mesmo ímpeto midiático", afirmou a vendedora de seguros Maria Spezza.

    No dia a dia, Renzi circulava pela cidade a pé, em bicicleta ou no seu "smart car".

    Na segunda-feira, quando desembarcou de um trem de alta velocidade, além da imprensa e de curiosos, lhe esperava também um Citröen na porta da estação.

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