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    Estudante brasileira será julgada por participar de protestos na Venezuela

    DE SÃO PAULO
    DA AGÊNCIA BRASIL

    21/02/2014 00h40

    A estudante brasileira Emiliane Coimbra, 21, moradora da cidade venezuelana de Puerto Ayacucho, responde a processo na Justiça do país, acusada de participação em manifestações. Ela chegou a ser detida na última terça-feira (19), por 24 horas, após segurar cartazes com frases de protesto contra o governo, a escassez de alimentos e a violência.

    Em entrevista à Agência Brasil, a estudante contou que, ao ser detida, estava sozinha com os cartazes, em frente à loja de seu irmão, porque os amigos haviam saído de perto dela.

    "Nós ainda não estávamos na rua protestando, mas os soldados chegaram e me viram com os cartazes na mão. Eles me questionaram, disseram que eu estava indo contra a ordem pública e incitando a violência", contou.

    Emiliane disse que vários alunos do colégio em que estuda estavam protestando, e ela resolveu participar. Os cartazes que os amigos confeccionaram tinham as frases: "Abaixo, Maduro; abaixo a escassez e abaixo a violência". A estudante contou que foi interrogada, e também o irmão dela.

    "Como uma estrangeira participa de um ato como esse?", perguntou um guarda. "Eu disse que ia participar porque estávamos em uma caminhada, e queria ir junto", disse.

    A jovem foi levada para a 52ª Brigada de Infantaria de Selva, e passou a noite no local. Ela foi atendida pelo serviço consular do Brasil, mas os soldados receberam a ordem de mantê-la detida para uma audiência, realizada na quarta-feira (19).

    "Depois fiquei sabendo que meus amigos queriam protestar, em frente à brigada, mas minha mãe chorou e pediu para eles não irem, porque poderia piorar a situação. Então, no dia seguinte eu fui levada para o tribunal, e lá um advogado público e dois advogados do consulado [do vice-consulado brasileiro na cidade] participaram."

    Ainda assustada, ela recorda que sentiu medo, porque antes da audiência ficou numa sala fechada. "Parecia um calabouço, e eu chorei muito."

    Após a audiência, ela foi posta em liberdade, sob custodia tutelar. Ela não pode, portanto, deixar a cidade, e deve se apresentar periodicamente ao tribunal, enquanto o julgamento final não ocorrer.

    Emiliane disse que resolveu protestar pelas dificuldades que está vivendo no país. "Moramos aqui há 15 anos. Mas está faltando tudo por aqui, pior do que mostram em Caracas. Não se acha sabonete para comprar, não se acha comida. Faz tempo que eu não tomo leite, porque não chega aqui", queixou-se.

    A estudante também reclama da violência. "Aqui tem muitos assaltos, entram dentro da casa da gente. Já assaltaram minha casa assim", relata.

    Mas a estudante foi orientada a não protestar mais. "O consulado mesmo me explicou, porque sou estrangeira. Eu até pedi desculpas lá no tribunal", comenta.

    O defensor público Richard Díaz Urbina, que acompanha o caso, disse que a jovem não cometeu crime, e que não estava "infringindo a ordem" pelo fato de ter cartazes de protesto. "Mas, arbitrariamente, o entendimento da polícia agora é que manifestar-se é um ato delitivo", explicou.

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