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    Tensão crescente entre China e Japão eleva risco de escalada armamentista

    MARCELO NINIO
    DE PEQUIM

    22/02/2014 03h23

    Há cerca de três semanas, no primeiro dia do Ano Novo Chinês, um caça japonês entrou sem pedir licença na recém-criada Zona de Identificação e Defesa Aérea chinesa (ADIZ, na sigla em inglês).

    Dois aviões chineses forçaram o "invasor" a bater em retirada, segundo a imprensa local, e o episódio terminou sem consequências mais graves.

    O governo do Japão evitou se pronunciar e a notícia não foi confirmada por fontes independentes. Mas atiçou comentários nacionalistas e antijaponeses nas redes sociais chinesas e ilustrou o perigo de que um incidente resulte numa escalada militar entre as principais potências asiáticas.

    Nas últimas semanas, a tensão crescente entre Pequim e Tóquio, temperada por divergências históricas, transformou-se em alerta para analistas, empresários e diplomatas de que a situação pode sair do controle.

    Desde o fim da segunda guerra sino-japonesa (1937-1945), o risco de confronto entre os países jamais foi tão pronunciado como agora, diz Jin Canrong, um dos principais especialistas em relações internacionais da China.

    "Nenhum dos lados quer uma guerra. O problema é que a tensão continua subindo e não há comunicação. Isso aumenta o risco de um erro de cálculo", diz Jin.

    Diplomatas japoneses em Pequim afirmam que as Forças Armadas dos dois países mantêm contato permanente, o que minimiza o risco.

    Editoria de Arte/Folhapress

    O que preocupa o Japão é a falta de comunicação entre as Guardas Costeiras. As tentativas de estabelecer diálogo foram rejeitadas por Pequim.

    A desconfiança mútua se acirrou nos últimos anos, com a disputa em torno de um grupo de ilhas desabitadas no mar do Leste da China, controladas por Tóquio e reivindicadas por Pequim.
    A zona de defesa aérea anunciada pela China em novembro aumentou o risco de choques militares, pois foi estabelecida sobre as ilhas sob litígio –que Pequim chama de Diaoyu e Tóquio de Senkaku.

    Agravando o clima de animosidade, o premiê do Japão, Shinzo Abe, visitou em dezembro o controvertido santuário de Yasukuni, associado ao militarismo japonês.

    Para o sinólogo Robert Ross, da Universidade de Boston, mesmo tendo atingido o pior momento em décadas, as relações entre Japão e China dificilmente irão se deteriorar a ponto de um confronto.

    "Acidentes são raros e os dois países mantêm suas Forças Armadas em alerta para evitá-los", diz.

    A integração das economias pesa a favor da estabilidade. Há 23 mil empresas japonesas em operação na China.

    A crise política, porém, se reflete na economia. O investimento direto do Japão na China encolheu 4,3% em 2013, após alta de 16,3% em 2012.

    No Fórum Econômico de Davos, em janeiro, o premiê japonês surpreendeu ao comparar as relações com a China às que havia entre Alemanha e Reino Unido em 1914 –boas, mas não o suficiente para evitar a eclosão da Primeira Guerra Mundial.

    Jin Canrong, da Universidade Renimn, em Pequim, acha que os EUA podem reduzir as tensões. A visita a Pequim do secretário de Estado americano, John Kerry, neste mês, teria incluído a discussão de uma barganha.

    "A China contém a Coreia do Norte e os EUA contém o Japão", resume.

    Ian Bremmer, da consultoria Eurasia, acha improvável um confronto militar, mas não crê em distensão. "Talvez mais preocupante do que os riscos de curto prazo é o fato de que não há uma solução no horizonte", afirma.

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