O anúncio de uma série de exercícios militares da Rússia em bases do oeste do país elevou a tensão na Crimeia, região autônoma da Ucrânia. A instabilidade na região aumentou no sábado (22), com a saída do presidente Viktor Yanukovich.
Com 60% da população de origem russa, a Crimeia é uma das áreas ucranianas de maior influência russa. Nesta quarta, o Parlamento local vota a fidelidade ao governo interino, aliado ao Ocidente e contrário aos acordos com a Rússia.
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Do lado de fora do prédio, na capital Simferopol, cerca de 20 mil muçulmanos tártaros, que apoiam o governo central ucraniano, entraram em confronto com 2.000 manifestantes de origem russa. Eles trocaram socos e empurrões e precisaram ser contidos pela polícia.
Pelo menos 20 pessoas ficaram feridas em decorrência do confronto e um manifestante morreu após sofrer um infarto no meio do protesto. Segundo a agência de notícias Interfax, ele não tinha marcas de agressão física. O protesto terminou após a intervenção dos líderes de cada grupo.
Na cidade de Sebastopol, onde a Rússia tem a maior base naval no mar Negro, a população local se organiza em milícias para enfrentar uma possível ação do governo interino ucraniano.
Para o partido Bloco Russo, um dos que participam desses grupos, a Ucrânia passou a ser controlada por extremistas. Eles fizeram barricadas e cercam prédios públicos, igrejas ortodoxas e monumentos, como a estátua do líder soviético Vladimir Lênin.
RÚSSIA
Na terça (25), o deputado russo Leonid Slutsky visitou a região e disse que presidente russo Vladimir Putin protegeria os interesses da maioria russa. Hoje, o Kremlin anunciou um exercício militar em bases da região oeste e central russas, próximas à fronteira da Ucrânia.
O ministro da Defesa russo, Sergei Shoiguas, afirmou que Moscou "acompanha com cuidado" o que acontece com a Crimeia. Horas depois, a Chancelaria emitiu uma nota dizendo que "os extremistas ucranianos estão impondo sua vontade" e ameaçaram a Igreja Ortodoxa Russa.
Moscou também enviou um representante para vigiar o cumprimento dos direitos humanos no país vizinho. A interferência russa foi criticada pelos ex-mandatários ucranianos Leonid Kravchuk, Leonid Kuchma e Viktor Yushchenko.
Para eles, Moscou faz "uma intervenção direta" na Crimeia, o que poderia levar a um conflito étnico. O temor é que ocorra na Crimeia uma invasão similar à feita na Geórgia, em 2008, para proteger Províncias de maioria russa.
Caso isso aconteça, poderia acontecer um conflito maior, já que o governo interino recebeu o apoio da União Europeia e dos Estados Unidos, que já sinalizaram ser contra uma intervenção militar russa.
Os ministros da Defesa que integram a Otan, reunidos em Bruxelas, asseguraram o apoio à soberania e integridade territorial da Ucrânia nesta quarta.
GOVERNO INTERINO
O conselho de Maidan, que reúne os líderes políticos dos protestos ucranianos, da sociedade civil e os grupos radicais, anunciou nesta quarta-feira a designação do pró-europeu Arseni Iatseniuk como primeiro-ministro, em uma declaração em Kiev.
Esta designação, anunciada por um funcionário na emblemática praça da Independência, ante milhares de pessoas, deve ser confirmada pelo parlamento na quinta-feira (27).
Seu gabinete provisório conduzirá o país até as eleições presidenciais, em maio. Os ministros também deverão enfrentar a crise econômica, que deve ser agravada com a retirada da ajuda russa.
A moeda do país, a hrivna, teve queda de 4% nesta quarta e as reservas internacionais caíram de US$ 17,8 bilhões para US$ 15 bilhões desde o início do mês. Os ucranianos devem buscar a ajuda do FMI (Fundo Monetário Internacional), a quem recorreram em 2009.
Nesta quarta, o governo interino ainda anunciou a dissolução da Berkut, a tropa de choque do Ministério do Interior. O grupo de elite foi responsável pela repressão aos protestos contra Yanukovich, que deixaram 82 mortos na semana passada.
Yanukovich foi colocado na lista de procurados internacionais, informou o procurador-geral ucraniano, Oleh Makhnytsky, nesta quarta-feira. Seu paradeiro é desconhecido desde sábado.