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    Brasil abandona venezuelanos, diz Capriles

    SYLVIA COLOMBO
    DE SÃO PAULO

    01/03/2014 03h10

    "O governo brasileiro está dando as costas para o povo venezuelano", disse em entrevista à Folha, por telefone, Henrique Capriles Radonski, 42, líder da oposição e segundo colocado nas eleições de 2012.

    Para Capriles, "poucos líderes latino-americanos estão mandando mensagens positivas ao país neste momento", e citou como exemplos o uruguaio José Pepe Mujica, que se ofereceu para mediar um diálogo entre chavistas e antichavistas, o chileno Sebastián Piñera e o colombiano Juan Manuel Santos, que pediram uma solução conciliatória para a crise.

    "Os governos da Argentina e do Brasil estão dizendo não à Venezuela ao apoiar [Nicolás] Maduro. As duas presidentes não parecem ter atravessado ditaduras no passado, ou ter conhecido a tortura e as desaparições. Sei que estão conscientes do que é o autoritarismo deste governo e é inaceitável que agora apoiem Maduro, ignorando o que estão vendo nas ruas de Caracas", completou.

    O também governador do Estado de Miranda disse que está em contato constante com os apoiadores do líder oposicionsta Leopoldo López, que se encontra preso enquanto se investiga sua participação nos protestos que tomaram a capital venezuelana nas últimas três semanas e causaram mais de 10 mortes.

    "Estou solidário com ele e tentando estabelecer um diálogo de construção e de união, apesar de nossas diferenças."

    Enquanto López defende que a população force Maduro a renunciar por meio de manifestações, Capriles considera que há outras formas constitucionais de pedir a saída do chavista do governo.

    "Minhas bandeiras e as de López num primeiro momento são as mesmas, é preciso soltar os presos políticos e desarmar os 'coletivos' (milícia paramilitar financiada pelo governo)."

    Num segundo momento, defende Capriles, "é preciso buscar o apoio dos pobres do país, reunir assinaturas e apoios não apenas dos favorecidos de Caracas.

    Minha proposta obteve mais de 44% dos votos, há muito mais gente descontente do que a que está efetivamente nas ruas. É preciso reunir todos", completa.

    Marco Bello/Reuters
    Henrique Capriles, que concorreu com Maduro em 2012
    Henrique Capriles, que concorreu com Maduro em 2012

    CRISE

    Capriles considera que os principais problemas venezuelanos hoje são a inflação, que é a maior da América Latina (56%) e a insegurança, potencializada pela existência dos grupos paramilitares. As milícias têm dado apoio à Polícia na repressão às mobilizações estudantis.

    "Com esses índices, vamos ter a maior crise econômica da história da Venezuela muito rapidamente. Isso significa que a tensão social aumentará e uma crise política é inevitável. O governo tem como mudar isso e sabe", afirma.

    "É preciso adotar medidas imediatas para conter a inflação. Parar com os anúncios e a propaganda televisiva de inaugurações e atos. E chamar os oposicionistas ao diálogo, não armar uma guerra contra eles."

    Sobre as milícias, Capriles pensa que começaram como grupos de apoio comunitários, mas que hoje se configuram como uma verdadeira guerrilha, que pode inclusive sair do controle.
    "Hoje o governo sabe onde estão, que armas possui, e controla suas ações. Mas como prever o que podem se tornar? A população está assustada e as instituições, seriamente ameaçadas enquanto esses grupos continuarem nas ruas."

    O governador ainda lembrou que, nesta semana, completaram-se 25 anos do "Caracazo", série de protestos que ocorreram em 1989, durante o governo de Carlos Andrés Perez (Ação Democrática), que foi duramente reprimida, deixando um saldo de mais de 300 mortos, segundo estimativas oficiais.

    "Os chavistas se dizem filhos do 'Caracazo', por terem estado do lado dos que protestavam e foram reprimidos. Agora estão criando condições para provocar algo similar ou mesmo pior", completou Capriles.

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