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    Arábia Saudita tem primeira mulher como editora-chefe de um jornal

    SAEED KAMALI DEHGHAN
    DO "GUARDIAN"

    07/03/2014 15h56

    Uma mulher foi apontada como editora-chefe de um jornal na Arábia Saudita, a primeira mulher a ser promovida a um posto semelhante em um país com um histórico pavoroso quanto aos direitos femininos.

    Somayya Jabarti, antiga editora assistente da publicação, assumiu o comando do "Saudi Gazette", jornal em inglês da cidade de Jeddah, anunciou o antigo editor chefe da publicação.

    "É uma primeira brecha no teto de vidro. E espero fazer dela uma porta", disse Jabarti depois de começar em seu novo posto, de acordo com a agência de notícias Al Arabiya News.

    Ela acrescentou que "ser a primeira mulher saudita [a se tornar editora-chefe] significa o dobro da responsabilidade... minhas ações se refletirão sobre minhas compatriotas sauditas".

    De acordo com Jabarti, da equipe de 20 repórteres do "Saudi Gazette", só três são homens, mas as posições editorais importantes do jornal são em geral ocupadas por homens.

    "A maioria de nossos repórteres são mulheres - não porque sejamos parciais em preferir mulheres aos homens. Há mais mulheres interessadas em serem jornalistas, e que são jornalistas", ela disse. "O sucesso não será completo a menos que minhas colegas, outras mulheres na mídia saudita, assumam papéis decisórios".

    A notícia de sua indicação foi anunciada por Khaled Almaeena, que está deixando o posto depois de mais de uma década como editor-chefe.

    "Hoje anuncio com orgulho que minha indicada, a jornalista Somayya Jabarti, tomará o comando do jornal", escreveu Almeena em artigo postado domingo no site do "Saudi Gazette". Almaeena se tornará editor especial do jornal. "Ela trabalha comigo há 13 anos, e por praticamente todo esse tempo tive o desejo de ver uma mulher saudita ingressando no bastião masculino dos editores-chefes".

    Almeena afirmou que a indicação de Jabarti havia sido decidida por mérito, e a descreveu como uma jornalista dedicada.

    "Não foi uma questão de sexo, mas de mérito, que valeu a ela essa oportunidade. Estou orgulhoso de ter desempenhado um papel em sua carreira", ele escreveu. "Ela é determinada e dedicada, e posso assegurar a ela e à equipe que estarei presente para aconselhar e ajudar, para que o 'Saudi Gazette' avance ainda mais como unidade de mídia em uma era digital e de alta competição".

    Antes de trabalhar para o "Saudi Gazette", Jabarti trabalhou para um jornal rival, o "Arab News". Lá ela subiu da editoria do caderno local para o posto de editora nacional assistente, e mais tarde foi promovida a editora executiva e editora administrativa.

    Muitos usuários do Twitter elogiaram a indicação de Jabarti mas mencionaram as restrições do reino às mulheres no volante.

    "Ela não pode dirigir, mas Somayya Jabarti é a primeira mulher a se tornar editora chefe de um jornal saudita", foi o tweet da estudante de jornalismo Katelyn Verstraten.

    Em 2011, Jabarti escreveu um artigo para o site do Channel 4 britânico no qual imaginava o ano 3000, quando as mulheres enfim estariam autorizadas a dirigir livremente na Arábia Saudita.

    Os direitos da mulher no reino do Golfo Pérsico se tornaram alvo de interesse nos últimos anos principalmente por conta da campanha das mulheres sauditas pelo direito de dirigir. Algumas mulheres do país desafiaram a proibição e chegaram a postar no YouTube vídeos que as mostram dirigindo. A Arábia Saudita é o único país do mundo em que as mulheres estão proibidas de dirigir, de acordo com a Anistia Internacional.

    A organização diz que as mulheres da Arábia Saudita enfrentam severas discriminações, "na lei e na prática".

    Na segunda-feira, o príncipe Charles, herdeiro do trono britânico, estava de partida ao Oriente Médio para uma visita à Arábia Saudita e Qatar. Na véspera de sua visita de quatro dias, a Anistia Internacional divulgou um lembrete sobre o histórico saudita e qatariano quanto aos direitos humanos, e instou o príncipe a discutir o assunto com as autoridades dos dois países.

    "A viagem do príncipe Charles vem com todas as pompas e cortesias de uma visita real oficial, mas se surgir a oportunidade de uma discussão franca sobre questões de direitos humanos, certamente gostaríamos que ele a aproveitasse", disse Alan Hogarth, diretor de política e assuntos governamentais na divisão britânica da Anistia Internacional.

    "Na Arábia Saudita, onde qualquer indicação de dissensão pode valer prisão e as mulheres estão proibidas de tomar o volante de um carro, Charles pode descobrir que diversos tópicos são considerados extremamente delicados", ele acrescentou.

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

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