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    Jornalista é obrigado a não divulgar material negativo de referendo, diz governo da Crimeia

    LEANDRO COLON
    ENVIADO ESPECIAL À CRIMEIA (UCRÂNIA)

    14/03/2014 11h16

    O governo da península da Crimeia diz que os jornalistas credenciados para cobrir o referendo do próximo domingo são "obrigados" a "não distribuir material de natureza negativa".

    É o que informa o aviso de um credenciamento aos profissionais que pretendem cobrir os locais de votação.

    Segundo o texto, o jornalista credenciado é "obrigado" (termo usado pelo governo) a informar "objetivamente o seu público sobre a votação".

    "Na sua atividade profissional utilizar os fatos documentados, em conformidade com as normas geralmente aceitas de ética jornalística, e não distribuir materiais de natureza negativa", afirma.

    O credenciamento é organizado por uma comissão da República Autônoma da Crimeia que cuidará do referendo que votará a independência em relação à Ucrânia e, ao mesmo tempo, a anexação do território à Rússia.

    O governo não deixa claro se os jornalistas que optarem por não fazer esse credenciamento, encerrado oficialmente ontem, terão acesso aos locais de votação no domingo.

    O referendo tem sido marcado pelo protesto de jornalistas contra suposta intimidação na Crimeia por parte de forças pró-Rússia. Na quinta-feira, um jornalista francês, do Canal +, passou horas detido em Simferopol, capital da península.

    A entidade Repórteres Sem Fronteiras tem protestado contra o controle do trabalho jornalístico na região. Segundo a ONG, duas jornalistas ucranianas foram libertadas no começo da semana após serem presas.

    O espaço aéreo continua fechado na Crimeia para voos da Ucrânia. A Folha esteve nesta sexta-feira no aeroporto e verificou o mesmo cenário dos últimos dias: somente aviões que partem de Moscou são autorizados a pousar em Simferopol. Foi que a reportagem, aliás, fez na noite de ontem para chegar à cidade.

    O clima nas ruas mantém-se tenso, mas sem relatos de confronto ou violência. Os chamados "cossacos", homens desarmados vestidos de soldados do Império Russo, continuam protegendo o Parlamento e a sede do primeiro-ministro local, aliado do presidente da Rússia, Vladimir Putin.

    A Crimeia, cuja população é de maioria russa, foi anexada à Ucrânia em 1954, na formação da União Soviética e manteve-se nesta situação durante a independência ucraniana em 1991.

    Há poucas semanas, políticos pró-Rússia tomaram o poder da península em protesto contra a queda do presidente da Ucrânia, Viktor Yanucovich, aliado de Putin. Logo depois, declararam decisão de se anexar à Rússia, convocando o referendo para o próximo domingo.

    A consulta pública tem sido considerada ilegal pelo novo governo da Ucrânia e por potências ocidentais, como os Estados Unidos e membros da União Europeia.

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