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    Líder supremo do Irã volta a questionar o Holocausto e critica ocidente

    SAMY ADGHIRNI
    DE TEERÃ

    21/03/2014 09h42

    O líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, voltou a questionar nesta sexta-feira o Holocausto e disse que o suposto tabu europeu sobre o tema evidencia limites da liberdade de expressão no Ocidente.

    "O Holocausto é um evento cuja existência é incerta e, mesmo que tenha acontecido, é incerto como ele aconteceu", disse Khamenei, chefe máximo da teocracia iraniana, em discurso pelo Ano Novo persa em Mashhad, leste do Irã.

    "Alguém ousa falar do Holocausto na Europa?", indagou o líder supremo, em referência ao massacre de seis milhões de judeus pela Alemanha nazista durante a Segunda Guerra mundial (1939-1945).

    AFP
    Khamenei acena antes de discurso pelo Ano Novo persa em Mashhad, leste do Irã
    Khamenei acena antes de discurso pelo Ano Novo persa em Mashhad, leste do Irã

    "Expressar dúvida sobre o Holocausto é um dos maiores pecados no Ocidente. [Ocidentais] prendem e processam os questionadores e ainda se dizem países livres", disse Khamenei.

    Numa aparente resposta às críticas internacionais contra restrições políticas e individuais no Irã, o líder supremo afirmou que "liberdade absoluta não existe em nenhum lugar do mundo."

    As declarações de Khamenei selam um duro revés à política externa de apaziguamento conduzida pelo presidente Hasan Rowhani e seu chanceler, Mohammad Javad Zarif.

    Desde a posse, em agosto, o novo governo tenta distanciar-se da retórica incendiária do antecessor Mahmoud Ahmadinejad, que chamou o Holocausto de "conto de fadas."
    Ahmadinejad chegou a promover dois encontros internacionais com negacionistas do Holocausto em Teerã, em 2006 e 2007.

    Na direção oposta, Rowhani condenou "o massacre de judeus pelos nazistas". Em setembro, Zarif usou sua conta Twitter para parabenizar judeus iranianos segunda maior comunidade do Oriente Médio após Israel por conta do ano novo judaico, o Rosh Ashana.

    Acenos aos judeus e outras minorias são parte de um esforço mais amplo para melhorar a imagem do Irã em meio à revitalização das negociações nucleares desde a posse de Rowhani.

    Irã e as seis maiores potências (EUA, China, Rússia, Reino Unido, França e Alemanha) já implementaram um acordo preliminar pelo qual Teerã freia suas atividades atômicas em troca de um alívio parcial das sanções que devastam a economia iraniana.

    O pacto vigora até julho, quando as partes terão opção de prolongá-lo enquanto discutem contornos de um entendimento definitivo.

    Em seu discurso de Ano Novo, na quinta-feira, Rowhani evitou tom confrontativo e, fiel ao seu estilo, defendeu políticas conciliadoras dentro e fora do país.

    LUTAS INTERNAS

    Concessões nucleares enfrentam forte resistência dos setores ultraconservadores do regime, como o Judiciário, alguns clérigos e militares, que alimentam declarações hostis e aumentam a repressão interna para tentar sabotar a reaproximação com o Ocidente.

    Khamenei cultiva ambiguidade. Ele manifestou reiteradas vezes apoio aos esforços diplomáticos de Rowhani, mas tolera e, às vezes, atiça manifestações de hostilidade ao diálogo.
    "Khamenei costuma deixar facções rivais se digladiarem", diz um analista próximo do governo Rowhani. "E ele precisa manter satisfeita a base de apoio ao regime mais conservadora."

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